Um mundo em crise: reinventar os alicerces da modernidade
Por André Martins
Em uma carta escrita a um amigo, em 1881, Nietzsche se diz estupefato por encontrado um precursor, Spinoza (cf.: Carta a Franz Overbeck, datada do dia 30 de julho de 1881. In Nietzsche, F. Oeuvres, vol.II, p.1272). Além de ver na filosofia de Spinoza a mesma tendência geral que a de sua própria filosofia – fazer do conhecimento o mais potente dos afetos –, reconhece-se ainda nela na negação de cinco conceitos capitais que constituíram os alicerces da Modernidade ao longo da história e até os nossos dias: o livre-arbítrio, as causas finais, a ordem moral do mundo, o desinteresse e o mal.
Um mundo sem finalidade e que não segue uma ordem moral – Leandro Chevitarese
Um mundo sem ações desinteressadas – Homero Santiago
Um mundo sem sujeito – João Constâncio
Um mundo onde conhecer é criar e afetar-se melhor – André Martins
No ocaso da Modernidade, quando ela já mostrava sinais inequívocos de fraqueza, Nietzsche reconhece que Spinoza, contemporâneo de Descartes, já fazia a crítica das falhas e inconsistências da Modernidade, no momento em que esta apenas ensaiava seus primeiros passos.
Hoje, os pilares do projeto moderno esmoreceram, queiramos ou não, e esses cinco alicerces seus parecem ter ruído. Mas como viver sem eles? Como viver neste mundo novo, como reconstruir nossa vida individual e coletiva sem esses parâmetros? Como abrir mão das ilusões e desilusões da Modernidade sem cair no pânico de não termos mais os apoios aos quais estávamos habituados?
Como, com a ajuda das filosofias de Spinoza e Nietzsche, reinventar novos referenciais para o mundo pós-crise, para a contemporaneidade pós pós-modernidade, é o que este módulo se propõe a investigar.