Mayana Zatz – Para onde nos conduz a manipulação genética
Publicado em:11/02/2009 às 23:01:15
O Código da Vida, nosso texto genético, desperta tanto interesse quanto o Código da Vinci. Viver mais, prever e tratar doenças, manipular o corpo humano: temas que antes pertenciam apenas ao reino da imaginação tornaram-se possíveis de serem implementados. Pela primeira vez na história, temos o poder efetivo de alterar a espécie humana, o que provoca a pergunta: Para onde nos conduz a manipulação genética?
Esse foi o tema da conversa de Jorge Forbes e Mayana Zatz no segundo encontro do módulo O Prolongamento da Vida do Café Filosófico.
Perguntas sobre células tronco, doenças genéticas, clonagem, alimentos transgênicos revelaram um público participativo, pronto a desfrutar da ampliação da interatividade do debate, que agora adquiriu um formato mais televisivo.
Distante das ervilhas de Mendel, a genética se prepara para revolucionar a medicina. Prova disso foi o que Mayana relatou sobre recente projeto da Microsoft, que combina genética com tecnologia para produzir uma medicina preditiva, participativa, personalizada. No futuro, diz a geneticista, um simples exame de sangue fornecerá as informações de que uma pessoa precisará para se prevenir de doenças e escolher o tratamento.
Se quando todo esse conhecimento se tornar acessível nós pudermos nos auto-analisar, que espaço sobrará aos médicos? O espaço da responsabilidade, da escuta, da interpretação, qualidades necessárias às tomadas de decisão num mundo que multiplica as possibilidades de escolha, diz Jorge Forbes.
Interpretar informações genéticas é um problema que Mayana já enfrenta no atendimento realizado no Centro de Estudos do Genoma Humano. “O geneticista informa, mas as decisões são do outro”, diz ela. Trata-se de um trabalho delicado: a revelação de uma doença genética, ou de uma atribuição de paternidade, são informações que podem provocar mudanças radicais na vida de uma pessoa. É comum, por exemplo, que a família de um portador de doença genética opte pela resignação e pela compaixão, atitudes que colaboram com a doença, pois prendem a pessoa ao seu sofrimento, lembra Forbes. Nesse caso, é preciso trabalhar a maneira como as pessoas lidam com a doença.
As aplicações práticas da genética se multiplicam. Surgem inúmeras questões: como faremos com as empresas que quiserem utilizar testes genéticos para selecionar seus trabalhadores? Quem terá acesso às novas tecnologias e como poderá utilizá-las? Qual atitude tomar diante das pesquisas que procuram definir os genes do comportamento, da felicidade, da burrice, da beleza? De quem são tais critérios? Quais conseqüências esse conhecimento pode ter na sociedade? Mayana deixou o auditório com essas questões, juntamente com a perspectiva de que uma nova ética é necessária; nesse ponto, encontra a psicanálise: na busca de uma ética que introduz a responsabilidade pelas conseqüências das nossas ações e estabelece o ser humano como um valor.
Módulo: O prolongamento da vida, com curadoria de Jorge Forbes.
Gravada no dia 17 de outubro de 2006.