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DIÁLOGOS | Planetas habitáveis neste e em outros sistemas solares | Com Augusto Damineli

por Fernanda Bellei

Com as ameaças do aquecimento global e da escasez dos recursos naturais, todos os setores de nossa sociedade se atentam parafragilidade da vida. Na busca de entender melhor equilíbrio necessário para a sobrevivência, crescemos financiamentosde estudos científicos da vida fora do planeta Terra, conforme explica o astrônomo Augusto Damineli, que também participa do Projeto 2009, um programa mundial de popularização da astronomia. Leia entrevista realizada em outubro de 2007.


Você está envolvido em um projeto mundial, o “Ano internacional da astronomia – 2009”. Fale um pouco sobre ele.

Em 2009 comemoramos 400 anos que Galileu usou a luneta na astronomia, isso mudou nossa relação com o céu completamente, então é considerado um símbolo da relação do homem com o espaço. Usando esse marco do Galileu, a idéia é primeiro promover uma inclusão social de forma que grande parte da humanidade enxergue os astros pelo menos como Galileu viu há 400 anos.A grandeparte da humanidade nunca viu as crateras da Lua ouas luas de Júpiter, então, no mundo inteiro se espera a participação de pelo menos dez milhões de pessoas. Pretendemos fabricar lunetas para que as pessoas vejam o que Galileu viu, mas aos milhões. Até agora se conseguiu fazer cada luneta por US$ 16,00, mas pretendemos chegar a US$ 1,00. Os japoneses já se prontificaram a distribuir alguns milhares, vamos tentar conseguir que empresas financiem isso para as escolas. Será um evento de quatro dias, em abril de 2009.

Você disse que há uma onda de financiamento muito grande para encontrar vida no universo e para saber se a vida é um milagre ou produto de um composto químico. Qual é a alternativa que está ganhando mais força?

Obviamente a alternativa que diz que a vida é um milagre á apoiada por aqueles que acreditam no“designer inteligente”, na verdade eles são criacionistas, acham que a matéria não tem forças para criar, a criação tem que ser externa, tem que ter alguém que planeja…É uma história muito antiga esta de que a matéria não tem força, tem muita difusão, há muitos cientistas na Nasa e gente que financia essa visão de que há…Não necessariamente um Deus, mas uma inteligência superior que já tem leis que vão resultar nessas ligações químicas, quer dizer, isso já está tudo em um plano de um arquiteto supernatural que não é decorrência de leis naturais.

Mas a palavra “milagre” não entra aí, certo?
Na verdade, até biólogos falam o "milagre" da vida. Eu acho que como eles não falam em milagre da “minha existência” eles empregam mal o termo. Na verdade, o milagre é de a gente existir, pois a probabilidade é bem baixa. A quantidade de fatores difíceis para você ganhar aquela corrida de um bilhão de espermatozóides, tem tantos acidentes aí, tantos abortos naturais, que para você estar existindo hoje a probabilidade é pequena…Aí, de repente, você olha a sua volta e tem seis bilhões de improváveis como você, então tem alguma coisa errada nessa história.

Você, como cientista, é agnóstico?
Sou, sou agnóstico, não sei se tem alguém que não usa Deus como auto-ajuda. Eu acho que muita gente dá emprego para Deus, como o de provedor, o de criador… Isso é dar emprego para Deus. Newton deu um emprego para Deus de restabelecer os equilíbrios que a gravidade desequilibrava, por exemplo.

Quem está financiando todos esses estudos e porque começou agora esse interesse em saber se há vida lá fora?
Os grandes financiamentos são basicamente dos poderes públicos dos Estados Unidos, da Inglaterra, do Canadá, França e da Itália. Antes a ciência conseguia os recursos dela independente de um apoio público, hoje não é assim. Com a chamada democracia,as pessoas são eleitas e têm que responder ao seu eleitorado. Então, se o eleitorado daquele senador, por exemplo,apóia pesquisas, o cara vai defender as pesquisas.O público tem apoiado muito isso e os políticos são espertos, então eles apóiam as pesquisas. É um apoio mundial ao conhecimento da vida, o apoio é popular, através dos deputados que votam nos budgets dos grandes projetos.

Você cita que as causas e conseqüências do efeito estufa já são conhecidas há muito tempo, a partir dos estudos no planeta Vênus. Fale um pouco sobre isso.
A descoberta foi bastante simples: apontando o telescópio para os planetas, você mede a temperatura da atmosfera, então se obteve, lá, em Vênus, 470 graus! Ao se procurar as causas disso, se encontrou o CO2 como a causa do efeito estufa, a questão é que não tinha nenhuma medida aqui na Terra, de recesso de camada de gelo, ou medidas de temperatura, na época. Isso só está se conseguindo nos últimos anos, com satélites… Então, alguma evidência de que aqui na Terra tínhamos alguma probabilidade de caminhar para o efeito estufa, só apareceu muito recentemente, principalmente com a ajuda dos satélites artificiais.