Café Filosófico

Café Filosófico CPFL lança série em parceria com o Pacto Global da ONU no Brasil

Lançado em 2000 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, o Pacto Global é hoje a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros, entre empresas e organizações, distribuídos em 69 redes locais, que abrangem 160 países. O Pacto Global da ONU no Brasil é a terceira maior rede do mundo, com mais de 1.500 participantes. Em 2015, eram menos de 500. Em 2020, segundo levantamento realizado pela Época Negócios, o Pacto Global foi considerado, pelas empresas que atuam no Brasil, a principal iniciativa de sustentabilidade corporativa do país.

O Movimento #MenteEmFoco é uma iniciativa do Pacto Global da ONU no Brasil, que estimula empresas a se comprometerem com a promoção da saúde mental. O projeto convida empresas e organizações brasileiras a reconhecer a importância da saúde mental no ambiente de trabalho e a agir em benefício de seus colaboradores, e da sociedade como um todo, para combater o estigma e o preconceito social ao redor do tema.

#MenteEmFoco #ODS #ODS3

Em parceria com o Movimento #MenteEmFoco, o Café Filosófico CPFL lançou a série Mente em foco: trabalho e saúde mental, com curadoria do psicanalista Pedro Ambra. A série é composta por duas lives exibidas no Youtube do Café e por dois programas exibidos na TV Cultura, que contextualizam as raízes e as implicações das complexas relações entre trabalho, saúde mental e discursos sociais. Algumas das questões que guiarão as reflexões da série são: existem saídas institucionais para o problema da saúde mental? Qual o papel do inconsciente e do desejo na manutenção de um modo de funcionamento que causa tanto sofrimento? Quais os impactos psíquicos, sociais e políticos de tais transformações na esfera do trabalho? 

Vale lembrar que, no início de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o burnout como uma condição ligada exclusivamente ao trabalho e, no limite, produzida por condições e relações laborais.

O primeiro encontro, com o próprio curador da série, Pedro Ambra, trata do tema Sofrimento psíquico: entre o singular e o social. O psicanalista abordou a origem do sofrimento psíquico e perpassa a explosão nos casos de depressão, esgotamentos oriundos do trabalho e riscos de suicídio que acompanham as transformações de condições materiais de reprodução da vida, bem como de modalidades de sociabilidade.

O segundo encontro da série foi com o psicólogo e filósofo Marcelo Galletti Ferretti, e com o tema Saúde mental e trabalho. Os efeitos da pandemia de COVID-19 sobre a saúde mental da população mundial foram devastadores. A prevalência de ansiedade e depressão aumentou de forma drástica, os serviços de saúde mental sofreram importantes desfalques e os cuidados se concentraram sobre o tratamento, especialmente por meio da telemedicina. Cerca de 1,2 milhão de postos formais de trabalho foram perdidos só no primeiro semestre de 2020 e estimativas apontam que o desemprego atinge cerca de um quarto da população economicamente ativa. Essa situação catastrófica evidenciou ainda mais a importância da pauta da saúde mental no trabalho, cuja discussão e as formas de encaminhamento vêm sendo feitas, ao que tudo indica, de maneira cosmética. Ferretti discutiu maneiras de tratar o grave problema das doenças mentais e agravos relacionados ao trabalho no mundo contemporâneo, e questionar: o que seria preciso pôr em pauta para que esses problemas possam ser de fato encaminhados?

Série Mente em Foco: saúde mental e trabalho
Curadoria de Pedro Ambra

Entre escolas a empresas, passando pelo mundo dos esportes e das redes sociais, um novo mantra parece se anunciar “precisamos falar sobre saúde mental”. Se até as últimas décadas do século XX o sofrimento psíquico estava ainda envolvo em estigmas e tabus, o foco na importância do bem-estar intensificou-se nos últimos anos tanto na opinião pública quanto nas instituições, criando uma espécie de paradoxo: nunca se cuidou tanto da saúde mental e nunca sofremos tanto. Mas de que cuidado e de que sofrimento estamos falando exatamente?

Sociedades tradicionais e povos nativos se preocupavam, ao seu modo, com o que hoje chamamos de saúde mental: por entenderem o sofrimento como um déficit na coesão da comunidade, xamãs, padres, curandeiras e oráculos buscavam religar o sujeito a um determinado lugar na estrutura social. A partir da modernidade, contudo, o indivíduo passa a ser tanto a medida de todas as coisas quanto um ente racional, livre e responsável – inclusive por seus próprios conflitos. A febre dos best-sellers de auto-ajuda ilustra essa ilusão de que cada um de nós é causa de seus problemas e, portanto, vive as consequências de escolhas ruins que podem ser revertidas individualmente. Sair da zona de conforto, pensar positivo e, acima de tudo, empreender. A febre dos coachs ilustra que este discurso de receitas simples (gritos de guerra, técnicas de meditação rápida, efeitos positivos do “bom stress” e ideia de que ricos são ricos porque acordam cedo, entre outros) funda uma obscura fronteira entre bem-estar psíquico e sucesso financeiro no trabalho. Seria este discurso a cura ou a própria causa da explosão de casos de burnout, especialmente na pandemia?

Olhar para si mesmo e não para a estrutura que organiza o mundo, a sociedade e o trabalho é a ideologia que permeia grandes setores sociais no Brasil e no mundo. Contudo, o sofrimento na contemporaneidade escancara o outro lado desta moeda: a hiperexploração, pauperização e dissolução das garantias básicas de direitos do trabalhador — que se vê, por exemplo, sem férias, sindicados, CLT ou possibilidade de greves — conduz a uma espécie de epidemia de burnouts. A pandemia e o confinamento explicitam no quotidiano tal problemática ao colidirem a esfera do trabalho remunerado e com a do trabalho doméstico de reprodução da vida. Verificamos mais ainda a disparidade entre os gêneros na medida em que são as mulheres, em sua esmagadora maioria, as responsáveis pela gestão doméstica concreta e aquela da chamada carga mental. São elas as que mais sofreram emocionalmente durante a pandemia, para além do brutal aumento dos casos de violência física e psicológica. Se é verdade que, para o discurso dominante, há apenas indivíduos e famílias, como explicar o fato de que sofremos por conta de mudanças sociais?

No início de 2022 a OMS deu o importante passo ao reconhecer que o burnout é uma condição ligada exclusivamente ao trabalho e, no limite, produzida por condições e relações laborais. Assim, o sujeito se vê assim esmagado entre, por um lado, um discurso que o convida a inovar, se ver livre das amarras de um trabalho tradicional, demonizar a presença do Estado, vestir a camisa da empresa e, por outro, uma exploração de suas horas de trabalho que faz o cálculo da jornada semanal praticamente uma ficção, seja por um whatsapp que ininterruptamente empurra o trabalho para a vida pessoal, seja pela entrada da lógica de grandes plataformas em diversas profissões, substituindo os enquadres clássicos por demandas algorítmicas.

Assim quais as raízes e implicações das complexas relações entre trabalho, saúde mental e discursos sociais? Há saídas institucionais para isso? Qual o papel do inconsciente e do desejo na manutenção de um modo de funcionamento que causa tanto sofrimento? Quais os impactos psíquicos, sociais e políticos de tais transformações (precarizações?) na esfera do trabalho? Estas são algumas questões que guiaram as reflexões desta série do Café Filosófico CPFL.

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Outras parcerias com o Pacto Global 
A parceria com o Pacto Global da ONU no Brasil também está presente em outros formatos do Café Filosófico CPFL, como no Café Expresso, com o episódio Emergência Climática, com a participação do CEO do Pacto Global no Brasil, Carlo Pereira, que trata das responsabilidades e dos possíveis caminhos para redução dos impactos socioambientais.

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As lives e todos os episódios do Café na TV Cultura têm transmissão gratuita pelo canal do programa no Youtube. O Café Filosófico CPFL é o broadcast de reflexões do Instituto CPFL e conta com transmissão online, programas de televisão e podcasts. Com 19 anos de trajetória e sede em Campinas (SP), o Instituto CPFL é a plataforma de investimento social privado do Grupo CPFL Energia, responsável pela integração dos programas sociais, esportivos e culturais do grupo em uma única rede. Desde 2020, o Instituto CPFL atua em cinco frentes: CPFL Geração Jovem, que apoia iniciativas voltadas para o futuro das novas gerações; CPFL nos Hospitais, que apoia projetos de humanização e melhorias em hospitais públicos; o Intercâmbio Brasil-China, programa que promove o diálogo cultural entre os dois países; o Circuito CPFL, que reúne projetos itinerantes de cinema e etapas de corrida e caminhada; e o Café Filosófico CPFL, que promove reflexões através de palestras e séries audiovisuais com transmissão pela TV Cultura aos domingos e terças-feiras.