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Por uma virada climática e competitiva

O Brasil pode se tornar um importante fornecedor de produtos de baixo carbono. É preciso transformar esse potencial em realidade

Jorge Soto

Nos últimos 21 anos, várias tentativas para um acordo global para as mudanças climáticas têm sido lançadas. Acompanhei as últimas cinco Conferências das Partes (COP) da ONU. É um processo de negociação complexo, pois a maioria dos países vê as ações de mitigação e adaptação como ameaças às suas economias, já que as principais emissões decorrem da queima de combustíveis fósseis. E, como mudar essa dinâmica não é simples, a maioria dos países prefere manter uma postura reativa. E o pior, na última COP, em Varsóvia, essa posição se acirrou.

O Brasil tem buscado assumir uma liderança proativa. Em 2009, em Copenhague, o país assumiu o compromisso voluntário de reduzir mais de 36% das suas emissões projetadas para 2020, principalmente por meio da diminuição do desmatamento. E tem obtido resultados positivos. Essa postura pode evoluir mais um passo. O Brasil tem características que lhe permitiriam buscar oportunidades. Temos uma matriz energética relativamente limpa (48% de fontes renováveis), temos a maior área ará- vel do planeta, ampla insolação e disponibilidade de água. Já somos o segundo maior produtor mundial de etanol e recentemente nos tornamos o maior produtor de biopolímeros.

É possível sonhar mais alto. O País pode se tornar um importante fornecedor de produtos de baixo carbono, por exemplo, de produtos químicos de origem renovável. Os benefícios dessa alternativa industrial são muitos. O econômico seria o aumento das exportações. O social decorreria da maior geração de empregos ao incentivar a cadeia industrial e a agrí- cola. Mas o grande diferencial vem do lado ambiental, especificamente na mitigação da mudança climática. Por exemplo, o Polietileno Verde da Braskem, em vez de emitir, captura gases de efeito estufa. A razão é simples: o carbono que acaba fazendo parte da composição dessa resina vem do etanol da cana-de-açúcar, cujo carbono vem da atmosfera. Para chegar a essa conclusão é necessário considerar o ciclo de vida do produto. E aí entra mais uma oportunidade. No Brasil, podemos reforçar a reciclagem dos materiais. No caso dos plásticos, o reaproveitamento do material pode se dar através da reciclagem mecâ- nica (produzir um novo plástico), da energética (recuperação do conteúdo energético dos resíduos), ou até de química (produzir outro produto quí- mico). É esperado que esse aproveitamento também traga redução de emissões de gases de efeito estufa.

Está em nossas mãos a possibilidade de transformar esse potencial em realidade. O lado empresarial já mostrou que é possível. Mas é necessário aumentar a escala. O governo pode fazer diferença incentivando pesquisa e desenvolvimento dessas tecnologias e apoiando a desonera- ção dos investimentos verdes. Dessa forma, o Brasil pode dar um importante passo para se tornar uma potência mundial da economia verde e inclusiva e contribuir para uma “virada climática e competitiva”.