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Ódio e Intolerância, temas da tradição da cinematografia de todos os tempos

Por William Sodré

Os especialistas em História do Cinema parecem ser unânimes em classificar o cineasta norte-americano D. W. Griffith (1875 – 1948) como um dos fundadores da linguagem cinematográfica. No conjunto de filmes deste artista, os críticos sempre destacam duas obras-primas – o controvertido ‘O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO’ (The Birth of a Nation – EUA, 1915) e também ‘INTOLERÂNCIA’ (Intolerance – EUA, 1916).

Nestas duas obras, a temática do ódio e da intolerância forma o núcleo das estórias ali desenvolvidas e poderíamos dizer que a constituição do cinema como Arte surgiu diretamente associada aos referidos temas.

Inspirada nesta tradição, para a programação de cinema do mês de Setembro da CPFL Cultura – entre as inúmeras possibilidades existentes no acervo da cinematografia – foram selecionados quatro filmes realizados por renomados diretores contemporâneos: Spike Lee, Martin Scorsese, Alan Parker e Steven Spielberg.

Na rica cinematografia de Spike Lee, a escolha recaiu sobre o filme ‘Faça a Coisa Certa’, obra que visa retratar o conflito étnico e racial que caracterizou a efervescente sociedade metropolitana de New York, no século XX. Com um elenco qualificado – no qual despontam os atores Danny Aiello e John Turturro, contando também com Samuel L. Jackson, Martin Lawrence e com a participação do próprio diretor – o filme foca a convivência tumultuada que se estabeleceu entre as diversas comunidades nova-iorquinas, com particular destaque para o tenso conflito protagonizado por ítalo-americanos e pelos afro-descendentes norte-americanos.

Do celebrado Martin Scorsese, selecionou-se um de seus filmes que – a partir de obra literária – aborda a sociedade de New York durante o século XIX: ‘Gangues de New York’. Aqui, durante a Guerra de Secessão, conflitam as comunidades de recente imigração, que enfrentam a intolerância dos agrupamentos demográficos ali estabelecidos a mais tempo. O elenco do filme é estelar: Daniel Day-Lewis, Leonardo DiCaprio, Cameron Diaz, Liam Neeson, John C. Reilly, David Hemmings, Jim Broadbent.

O cineasta britânico Alan Parker contribuiu com um filme que muitos consideram um ‘clássico contemporâneo’ do cinema: ‘Mississipi em Chamas’. Dois grandes atores – Gene Hackman&Willem Dafoe, com o luxuoso auxílio de Frances McDormand – duelam, embora ambos militem do mesmo lado no radicalizado conflito racial do Sul dos EUA. Aqui, quase entram em colapso os civilizados manuais com os quais a burocracia federal americana buscava enquadrar a questão dos direitos civis durante a década de 1960, inoperantes diante de uma cultura política autoritária e de difícil tratamento dentro dos quadros de referência das instituições democráticas.

Finalmente, um dos melhores filmes do prolífico e bem-sucedido Steven Spielberg: o polêmico ‘Munique’. O confronto árabe-israelense forma o centro do argumento e o tema está centrado na vingança que teria sido arquitetada pelo governo de Israel após o atentado terrorista que ensanguentou os Jogos Olímpicos de 1972, realizados em Munique. O filme (baseado em relatos registrados em livro por participantes dos eventos) insatisfez igualmente tanto aos partidários de israelenses quanto aos de palestinos e o elenco é outro de seus pontos-fortes: Geoffrey Rush, Eric Bana, Daniel Craig, Ciarán Hinds e Mathieu Kassovitz.