Conheça a história de Murilo José Teixeira, um dedicado aluno de teclado
Murilo José Teixeira, de 14 anos, chegou ao Instituto Anelo há três anos. Diagnosticado na infância com Síndrome de Asperger, uma manifestação leve, entre várias outras enquadradas no escopo do chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA), ele foi matriculado pela família no curso de teclado. O objetivo principal era que Murilo se dedicasse a uma atividade diferente, longe da tela do computador.
Mas, antes de continuar essa história, vale explicar um pouco sobre o que é a Síndrome de Asperger. Ao contrário do que muitos podem acreditar, não é uma doença, e não há atraso ou retardo na aprendizagem. Pelo contrário. O que torna os indivíduos com esse diagnóstico diferentes das pessoas ditas “normais”, é que eles têm uma maneira particular de encarar e interagir com o mundo à sua volta.
De acordo com informações da National Autistic Society, entidade com sede no Reino Unido, são pessoas com inteligência média ou mesmo acima da média, porém, literais na compreensão da linguagem e com dificuldade em “ler” expressões faciais ou perceber conceitos abstratos. Uma das principais características do indivíduo com Asperger é a determinação em estudar e aprender sobre assuntos que despertam sua atenção.
Nesse contexto, pode-se dizer que a música, definitivamente, é um tema de interesse para Murilo, cuja dedicação ao aprendizado do teclado já foi reconhecida pelo próprio Anelo, uma associação sem fins lucrativos patrocinada pela CPFL Energia, por meio do apoio do Instituto CPFL, que há 21 anos oferece aulas gratuitas de música no distrito do Campo Grande, região noroeste de Campinas (SP).
Em 2019, lembra o fundador e coordenador geral Luccas Soares, a instituição decidiu conceder certificados, a cada final de semestre, para os alunos com 100% de presença nas aulas. Murilo foi um desses alunos. Duas vezes.
Em 2020, veio a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e os alunos do Anelo tiveram de se adaptar à uma nova realidade, sem aulas presenciais – as atividades do Instituto foram totalmente online no ano passado. Com Murilo não foi diferente. Agora, em 2021, quando a instituição passou a adotar o protocolo do Plano São Paulo de combate à Covid-19, a expectativa do garoto é pelo retorno à sala de aula de teclado, mesmo que parcialmente.
Relação com a música
Segundo seu pai, o comerciante Flávio Daniel Teixeira, de 42 anos, Murilo sempre teve um bom ouvido musical. “Ele tem uma percepção musical natural. Não tem sacrifício. Todo dia ele mexe um pouco no teclado.” Aliás, Murilo também tem uma boa voz, de acordo com o pai, embora não se arrisque muito a cantar. Além disso, ele está aprendendo a tocar gaita por conta própria.
Sobre suas referências musicais, Murilo revela: “Gosto bastante da música do século 20. De John Lennon, Freddie Mercury, rock clássico, de muita coisa na verdade”. Ele, que consome música apenas no formato digital, em plataformas como Spotify e YouTube, conta que ouviu rock clássico pela primeira vez no canal Inutilismo, do YouTube, que publicou um vídeo com uma cover de “Bohemian Rhapsody”, do grupo britânico Queen. A partir daí, passou a pesquisar e a conhecer mais sobre o gênero.
No ano passado, em consequência das tarefas online passadas por seu então professor de teclado, Leandro Canuto, Murilo chegou ao trabalho do cantor, compositor e multi-instrumentista norte-americano Stevie Wonder, e conta que gostou muito. E desde a infância, conta o pai, ele é fã do astro pop Michael Jackson.
Atualmente no 9º ano do Ensino Fundamental, Murilo revela que não pretende seguir carreira como músico. Quer ser ator e/ou dublador. Ou, quem sabe, trabalhar com Marketing Digital. Se nada der certo, afirma que pode tocar adiante o negócio da família, uma loja de material de construção no Jardim Florence II.
O Instituto Anelo
Para Flávio Teixeira, que se arriscou no violão quando tinha 17 anos e chegou a fazer parte de uma banda de pagode do bairro chamada 100% Art Mirim, o Instituto Anelo é muito importante para a comunidade, não só por ensinar música gratuitamente ou por acolher pessoas de diferentes idades e histórias.
“É uma instituição que dá um caminho, não só musicalmente. O Anelo resgata, aumenta a autoestima e molda o caráter das pessoas. É uma boa influência. Na periferia, você sabe, tem mais coisa errada do que certa. O Anelo dá a oportunidade de termos mais ética, culturalmente falando”, acredita.
Aliás, Flávio lembra que, na época em que se interessou por música, quem morava na periferia não tinha acesso a um ensino mais formal como o oferecido pelo Instituto. Quem quisesse aprender sem sair do bairro, tinha de ir atrás de pessoas dispostas a repartir conhecimento – entre elas, cita Josimar Prince, hoje, coincidentemente, professor de Prática de Banda no Anelo.
Flávio, por exemplo, chegou a estudar por seis meses no Conservatório Carlos Gomes, então localizado no bairro Cambuí. “Porém, era muito longe e muito caro, e acabei desistindo. Talvez, se o Anelo já existisse, eu poderia ter tido uma oportunidade diferente. Não só eu, mas muita gente”, completa.