gênero e sexualidade – a vida além do rótulo, com laerte (íntegra)
“Todos temos alguns preconceitos. Trabalhamos com ideias prontas sempre. Não somos uma página em branco. O problema é quando os preconceitos são impermeáveis ao que a vida oferece de novo”, disse Laerte Coutinho, cartunista da Folha de S.Paulo, durante o debate do Café Filosófico CPFL com o psicanalista Benilton Bezerra Jr., curador da série “O Valor das Diferenças em um mundo compartilhado”. Eles falaram sobre “Gênero e sexualidade: a vida além dos rótulos”.
“A identidade é um ponto importante. É um ponto no qual nos encontramos. Para isso, a internet foi fundamental. Eu encontrei muitos grupos de crossdressers graças à internet”, disse Laerte.
O Brasil, afirmou, é aberto ao entendimento a avanços, mas é, ao mesmo tempo, desprivilegiado. “Vivemos uma realidade violenta e desprotegida. O status quo oprime as minorias. As pessoas precisam saber da dor de pais que veem a violência contra os filhos devido à sua orientação sexual.”
A regra, no entanto, é a pessoa trans se esconder ou encarar um rolo compressor violento. “Eu tive apoio da família.”
Laerte comparou a descoberta da sua orientação sexual ao descobrimento do Brasil. “Quando Cabral descobriu o Brasil, sabia que havia algo. Eu também sabia que algo havia comigo”, afirmou. “Sexualidade é algo forte. Eu não precisava ter uma vida em masculino. Poderia me expressar de outra forma.”
No encontro, Laerte criticou a gritaria dos grupos conservadores contra as minorias no país e disse esperar que a religião avance na questão da tolerância. “A causa trans não é algo fora da religião. Muitos travestis são católicos. O Papa Francisco tem tido uma atuação positiva sobre a questão igualitária. Há um futuro esperável de tolerância das religiões em relação à diversidade.”
Símbolo da luta pela diversidade, Laerte comentou a relação entre engajamento e militante em sua obra. “O excesso de engajamento de determinados textos de grupos prejudica a flexibilidade necessária ao cartum. Evito transformar o engajamento no meu modo de trabalhar porque isso endurece o trabalho”, disse. “Os limites do humor não me preocupam. E sim seus horizontes.”
A militância, reiterou, é uma atuação política. “A demonização da política é algo seríssimo. O Parlamento deve reconhecer o casamento igualitário como um direito universal. Não podemos depender só do Judiciário.”
Laerte demonstrou preocupação com a postura dos mais jovens em relação às liberdades individuais. “Às vezes fico em dúvida se a juventude é mais revolucionária ou mais reacionária hoje em dia”. Citou ainda as tensões entre movimentos trans e feministas, mas disse esperar que eles ajam em sintonia em um futuro próximo. “Se não ficarão na atomização.”
Em sua fala, Benilton Bezerra defendeu movimentos que busquem a simpatia para vencer a “aversão ao outro”.
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