cafe filosófico

ética e vergonha na cara!, com mario sergio cortella e clóvis de barros filho

Ética não é autoajuda

No Café Filosófico sobre “Ética e Vergonha na Cara! (vídeo na íntegra abaixo)”, Clóvis de Barros Filho e Mario Sergio Cortella falam sobre a “angústia” decorrente de escolhas individuais em nome da convivência em sociedade

“Ética não é um saber acabado. Não é uma tabela pronta. Se fosse, ela caducaria no dia seguinte”, disse o professor de ética da USP Clóvis de Barros Filho durante o Café Filosófico CPFL especial de 29 de maio de 2014.

Ao lado do filósofo Mario Sergio Cortella, com quem acaba de publicar o livro Ética e Vergonha na Cara! (Papirus), Barros Filho provocou risos e aplausos a uma plateia de cerca de 800 pessoas que acompanharam o debate no estúdio, no auditório e na galeria do Instituto CPFL, em Campinas (outros 1.100 espectadores assistiram ao evento pela internet).

Em sua exposição, o professor da USP definiu ética como “a inteligência compartilhada a serviço da convivência aperfeiçoada”. “Nossa sociedade pode ser melhor do que ela é. Há ética porque há liberdade”. Para ele, o conceito não pode ser interpretado como “autoajuda” nem pode ser enquadrado em “dez lições para ser feliz”. Pelo contrário. “Essa liberdade é também fonte de sentimentos desagradáveis, como a angustia. Você é livre, a vida depende de sua escolha, e isso não é fácil. É preciso atribuir valor às possibilidades de escolha. A má notícia é que, diferentemente da prova que o professor aplica, a vida não tem uma só resposta certa. Você é livre para criar uma hierarquia de valores.”

Em sua fala, Cortella observou que há diferenças entre “entender a relatividade das nossas escolhas” e “transformar a relatividade de escolhas em relativismo”. “Relativismo é achar que vale qualquer coisa”, definiu. Isso porque, segundo ele, a ética é um conceito que se aplica apenas ao grupo. “Não existe ética individual”. Para o filósofo, ninguém está imune ao que chamou de “fratura ética”. “Cada um tem um preço. Aceitar que paguem é uma escolha”.

Os estudiosos disseram ser normal abrir mão das nossas pretensões em nome do zelo da convivência. Quanto mais essa ideia é absorvida, concordaram, mais eticamente avançada será a sociedade. Um exemplo disso, lembrou Cortella, é a proibição do fumo em lugares públicos. “Decidimos coletivamente que em área coletiva é melhor não fumar. Abrimos mão de um prazer particular em troca do convívio”, lembrou Cortella.

ética e vergonha na cara!, com mario sergio cortella e clóvis de barros filho from instituto cpfl | cultura on Vimeo.

lançamento do livro: ética e vergonha na cara!, editora papirus 7 mares

com mario sergio cortella, filósofo e clóvis de barros filho, professor livre-docente de ética na usp 

as notícias sobre corrupção, especialmente na política, dominam com certa frequência o noticiário brasileiro. muita gente chega a achar que a corrupção é algo “natural” e crescente no país, e tem a mesma percepção sobre a impunidade, certa de viver na pátria onde “tudo acaba em pizza”. essa visão resignada, porém, reflete um equívoco. é o que argumentam os filósofos mario sergio cortella e clóvis de barros filho em ética e vergonha na cara!, lançamento da papirus 7 mares. eles mostram, num diálogo abrangente, que a ideia de que a corrupção faz parte do ser humano não é mais partilhada pela nossa sociedade.

clóvis de barros filho é doutor em direito pela universidade de paris e em comunicação pela universidade de são paulo. professor livre-docente de ética da eca/usp é também consultor de ética da unesco e colunista e conferencista do espaço ética. autor de diversos livros como “a vida que vale a pena ser vivida”, “ética e comunicação organizacional”, “ética na comunicação”, entre outros.

mario sergio cortella é filósofo e escritor, com mestrado e doutorado em educação, professor-titular da puc-sp (na qual atuou por 35 anos, 1977/2012)), com docência e pesquisa na pós-graduação em educação: currículo (1997/2012) e no departamento de teologia e ciências da religião (1977/2007); é professor-convidado da fundação dom cabral (desde 1997) e o ensinou no gvpec da fgv-sp (1998/2010). foi secretário municipal de educação de são paulo (1991-1992), tendo antes sido assessor especial e chefe de gabinete do prof. paulo freire.