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CPFL Cultura lança exposição em homenagem a Bernardo Caro

Menos de dois anos após sua morte, o pintor, escultor e gravurista Bernardo Caro ganha uma retrospectiva na CPFL Cultura, de 23 de junho a 23 de agosto, em Campinas. A exposição “Vida e obra de Bernardo Caro” reúne 56 obras das várias centenas produzidas pelo artista ao longo de mais de quatro décadas de vida artística e conta com a curadoria do crítico de arte Enock Sacramento.

A seleção contempla os vários ciclos criativos do artista, das xilogravuras do começo de sua trajetória à série final de releituras de grandes pintores, em que se mesclam suas fases anteriores como as bolas de bilhar e as conhecidas mulheres de néon.

O catálogo da exposição tem a autoria do jornalista e escritor Eustáquio Gomes, também autor dos livros "A febre amorosa" (1984), "O Mapa da Austrália" (1998), "O mandarim: história da infância da Unicamp" (2006) e "Viagem ao centro do dia, um diário pessoal" (2007), entre outros.

A exposição tem entrada gratuita, classificação livre, e pode ser visitada de terça a quinta-feira, das 12h às 18h; e às sextas, sábados e domingos, nos horários dos eventos da CPFL Cultura.

Biografia do curador

Enock Sacramento é crítico de arte, membro da Associação Paulista de Críticos de Artes, da Associação Brasileira de Críticos de Arte e da Association Internationale des Critiques d’Art, ONG reconhecida pela UNESCO e com sede em Paris. Foi eleito pela Associação Brasileira de Críticos de Arte como o Crítico do Ano (Prêmio Gonzaga Duque), em 2004. Jornalista profissional, começou a atuar na década de 1950, em Belo Horizonte. Nos anos 1970 trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo como chefe da sucursal do ABC, com sede em Santo André, estendendo seus serviços ao Jornal da Tarde e à Rádio Eldorado. Como crítico de arte, começou a atuar no Diário do Grande ABC, em 1963, colaborando com várias publicações, entre as quais as revistas Casa Vogue e Ventura.

Com larga experiência no campo das artes visuais, Enock Sacramento participou de comissões de seleção e premiação de 110 salões de arte, prefaciou mais de 200 catálogos de exposições, foi curador de mais de 40 exposições, publicou cerca de 800 artigos na imprensa e é autor de 12 livros sobre arte brasileira, o último dos quais é Sacilotto (São Paulo, 2001). Ocupou numerosos postos em instituições culturais entre os quais o de membro do Conselho de Desenvolvimento Cultural do Estado de São Paulo (1996-97) e da CAAPC – Comissão de Averiguação e Avaliação de Projetos Culturais da Prefeitura Municipal de São Paulo (1995-2001). É curador das exposições itinerantes do Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo desde julho de 2007, tendo realizado, de agosto a dezembro de 2007, 36 exposições em São Paulo.

Bernardo Caro
por Eustáquio Gomes – jornalista e escritor. Autor dos livros

Natural de Itatiba (SP), Caro firmou-se como pintor e artista plástico a partir de 1964, quando passou a fazer parte do Grupo Vanguarda de Campinas. Na década de 1970 participou de várias versões nacionais e internacionais da Bienal de Arte Moderna de São Paulo. Participou também de exposições na Itália, na Espanha, no Japão e em países da América Latina. Obras suas podem ser encontradas em acervos de Londres, Washington, Paris, Madri, Granada, Stuttgart e Estocolmo.

Filho de imigrantes andaluzes, a arte de Bernardo Caro é um ponto de união entre a tradição da pintura espanhola e a temática brasileira. Foi um dos poucos brasileiros a emprestar seu nome a uma rua em país estrangeiro, com ênfase para o fato de a homenagem lhe haver sido conferida ainda em vida. Foi o que aconteceu em 1997, quando a municipalidade de Villanueva del Trabuco, na Andaluzia, onde nasceram seus pais, inaugurou uma placa de rua com seu nome. Bernardo retribuiu com o projeto de um monumento que a prefeitura de Trabuco fez erguer na praça principal da cidade.

Vários críticos de primeira linha se manifestaram, em diferentes épocas, sobre a obra de Bernardo Caro. Para Mário Schenberg, por exemplo, suas pinturas “têm calor e dramaticidade, assim como aspectos diferentes da visão mágico-fantástica”. Mario García Guillén chamava a atenção para o fato de que, entre os artistas brasileiros, Caro surpreendia “pelo rigor com que dá continuidade a sua expressão artística, e talvez por isso possamos classificá-lo como um artista completo”. A agência de notícias EFE, da Espanha, escreveu por ocasião de sua morte que Caro “era o mais espanhol dos artistas brasileiros”.

Carta Aberta a Bernardo Caro
por Enock Sacramento – curador

Caro Bernardo

Você partiu dias antes de ser inaugurada a primeira versão desta exposição retrospectiva, em outubro de 2007, no Instituto Cervantes, em São Paulo. Sua ausência física no evento foi profundamente sentida, embora sua presença fulgurasse em cada uma das obras expostas. Hoje inauguramos esta mostra na CPFL Cultura, na cidade que o acolheu durante quase toda sua vida e na qual desenvolveu suas carreiras de professor e de artista plástico: Campinas. Esta abertura tem, por esta razão, um sentido muito especial. E por isso, Bernardo Caro, que nos dirigimos pessoalmente a você nesta data.

Aqui você cresceu, lutou, enfrentou dificuldades e venceu. Aqui você praticou, no início, uma arte tradicional, que evoluiu a partir do encontro com o Grupo Vanguarda de Campinas, em 1964, ano emblemático na história política brasileira. Aqui você tornou-se um artista experimental e um artista cidadão, que questionou com as armas que tinha ao seu alcance – arte, metáfora, coragem – no restrito espaço reservado aos ideais de liberdade da época, o regime político dos anos de chumbo. Problematizou ainda o comportamento humano em obras tri e bidimensionais, aproximou-se da estética pop, incorporou a seu trabalho um alfabeto deformado, símbolo de comunicação difícil ou mesmo impossível e, fazendo uso da técnica desenvolvida no começo de sua carreira, fez releituras de figuras conhecidas do mundo da arte, relacionando-as com outras deste universo ou com personagens que você criou.

As obras que você produziu, sozinho ou em equipe, lhe abriram as portas de exposições importantes como a Bienal de São Paulo. Seu trabalho intelectual tornou-o responsável pelo Departamento de Artes Plásticas da PUC de Campinas e docente e diretor do Instituto de Artes da UNICAMP. Chegou até a dar nome a uma rua na cidade espanhola em que nasceu seu pai. Bem sabemos, Bernardo Caro, que ninguém chega a esses cargos ou a este reconhecimento sem qualidades intelectuais e humanas. Receba, pois, nesta data, nossa consideração e respeito. Campinas recebe sua obra de braços abertos.

Enock Sacramento
Junho de 2009.

Serviço
Exposição:Vida e obra de Bernardo Caro
Local: CPFL Cultura em Campinas (Rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632 – Chácara Primavera)
Visitação:
De 23 de junho a 23 de agosto.
De terça-feira a quinta-feira, das 12h às 18h.
Sextas, sábados e domingos: nos horários de programação da CPFL Cultura (sextas, das 12h às 22h, sábado, das 19h às 22h, e domingos das 9h às 12h30).
Entrada: gratuita
Classificação: livre
Informações: www.cpflcultura.com.br ou (19) 3756-8000