cafe filosófico

Áporo e Elefante de Drummond

Por Gabriela Andrietta

Assistir hoje à palestra sobre os poemas Áporo e Elefante, de Drummond, foi ao mesmo tempo aconchegante e inspirador.

É incrível como esse gênio misturou técnica e sensibilidade, nos proporcionando poemas que nos fazem querer desvendá-los, como uma aventura em um mundo fantasioso e tão próximo da nossa mais íntima realidade.

Áporo: ao mesmo tempo o problema indissolúvel, o inseto e a orquídea esverdeada. A prisão, o prisioneiro e a liberdade. Prisão a que todos estão sujeitos a serem prisioneiros de seus labirintos, mas sempre em busca de tonarem-se orquídeas esverdeadas, cor da esperança. Esperança de liberdade.

Desvendar o poema de Drummond é como desvendar a nós mesmos, frágeis elefantes com pele costurada com flores de pano e nuvens, em busca de amigos “num mundo enfastiado que já não crê nos bichos e duvida das coisas”.

Áporo

Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.

Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?

Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se

Carlos Drummond de Andrade

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