A vanguarda esquecida
Há uma certa “música moderna” do século XX que teve o seu grande momento entre os anos 1920 e 1940 e depois caiu em quase completo esquecimento. Destacados compositores como Dallapiccola, Malipiero, Roussel, Krenek, Honegger, e até mesmo Hindemith, não são mais tocados hoje em dia.
Os famosíssimos pianistas, violinistas, regentes internacionais vindos do exterior, a convite de nossas sociedades de concertos – o que eles vêm apresentar para nós como algo extraordinário, jamais ouvido? As eternas baladas de Chopin, a Quinta Sinfonia de Beethoven… As mesmas músicas de sempre!
Outro lamentável esquecimento, este da própria musicologia convencional, é o da vanguarda musical russa dodecafônica, período Lunacharsky, formada basicamente pelos compositores Arthur Lourié, Nikolai Roslavets e Jef Golyscheff, bem como da vanguarda musical russa reprimida, período Khrénikov, formada por Schnittke, Ustvolskaya, Gubaidulina e Kapustin.
Curiosamente, Golyscheff passou boa parte dos últimos anos de sua vida em São Paulo, e Lourié foi um dos famosos freqüentadores do apartamento de Villa-Lobos em Paris. Gubaidulina visitou-nos no ano passado, homenageada pela OSESP.
Mais recente, outro momento que já tende a cair no esquecimento é o da música política, em reação à vanguarda. O chileno Sergio Ortega compôs “O Povo Unido Jamais Será Vencido”, obra coral cujo tema inicial correu o mundo, adaptado às lutas sociais de cada país. E o pianista e compositor norte-americano Frederic Rzewski usou esse mesmo tema em suas notáveis variações para piano, que já foram colocadas pela crítica ao lado das Variações Goldberg, de Bach, e das Variações Diabelli, de Beethoven.
E, do lado europeu, ainda podemos ver o inglês Cornelius Cardew romper espetacularmente com Stockhausen, acusando-o, em memorável panfleto, de servir ao imperialismo. E passar a compor em estilo pop/cult, mas também influenciado pela música chinesa maoísta.
Procuramos aqui resgatar, nestes quatro concertos, um pouco dessa importante música moderna que ninguém mais toca, ninguém mais ouve.
Gilberto Mendes e Antonio Eduardo