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música com z: artigos, reportagens e entrevistas (1957-2014), com zuza homem de mello

Zuza Homem de Mello: “O Brasil produz a melhor música do mundo, mas ouve a pior”

Convidado do Café Filosófico CPFL para lançar “Música com Z”, o escritor diz abominar o sertanejo universitário e o falso brega

O Brasil que produz a melhor música do mundo é o mesmo que ouve a pior. A sentença é de uma das maiores autoridades no assunto, o jornalista e crítico musical Zuza Homem de Mello.

Convidado do Café Filosófico CPFL de 4 de junho de 2014 (confira vídeo abaixo), ele participou de um bate-papo com o público ao lado do jornalista Humberto Werneck para falar sobre seu mais recente livro, “Música com Z”, uma coletânea de arZuza Homem de Mellotigos, entrevistas e reportagens escritos entre 1957 e 2014.

Foram duas horas de conversa sobre seu trabalho ao longo de quase 60 anos – um percurso que se confunde com a própria história da música. No encontro, Zuza analisou o cenário da música popular atual e comentou o papel do crítico hoje. “Se o cara escreve sobre um show que você não viu e, quando você vai ver, assiste ao oposto do que ele escreveu, risca esse cara. Ele não sabe o que diz”. E completou: “A prova dos 9 para saber se o crítico é bom é ouvir o que ele criticou”.

Não faltaram críticas aos fenômenos da moda. “Eu abomino sertanejo universitário. É um tipo de som rasteiro”, disparou. “Do brega verdadeiro, como o brega da Roberta Miranda, eu gosto. Mas abomino o falso brega.”

Zuza criticou também a programação da rádio e da TV, responsáveis por lançar talentos rasos ao estrelato. “Quem cuida da programação de música desses canais não são músicos. Muitos estão presos a outros interesses além da qualidade. Estamos falando do jabá.”

O escritor disse observar, hoje, uma banalização do uso da palavra diva, geralmente associada a uma imagem construída a partir de maquiagens, roupas deslumbrantes e baixa qualidade musical. “A Elis Regina, sim, era uma diva. A Billie Holiday também. Elas eram divas sem fazer qualquer esforço”, disse. “Foi um privilégio, para a minha geração, vê-las cantar.”

Zuza aproveitou o encontro para falar de suas preferências musicais. “É por causa de João Gilberto e Tom Jobim que o Brasil tem hoje uma nobreza em sua música”, disse, ao comentar um dos capítulos do novo livro. “A musicalidade do Wilson Simonal não tinha limites. Foi o maior showman brasileiro, mas ‘caiu’ injustamente. Parte por culpa dele, parte por uma armação.”

Sobre Djavan, afirmou: “Quando ouvi pela primeira vez, fiquei chapado. Ele vai fundo na alma da gente e extrapola”. E manifestou entusiasmo ao falar de dois novos talentos da música. “Estou sempre atrás de novidades. Ponho uma fé tremenda hoje no Pélico e no Filipe Catto.”

Zuza disse ter como ídolo o arranjador Chiquinho de Moraes, orquestrador do programa O Fino da Bossa, da TV Record, e considerado o “maestro da MPB”. E divertiu a plateia ao ser indagado sobre quem era melhor: Chico Buarque ou Caetano Veloso? “Comparar Chico com Caetano é como comparar Mozart com Beethoven”, respondeu.

Ele fez menção à evolução de Caetano como intérprete, mas destacou o diferencial do compositor deConstrução: “Chico Buarque é quem tem mais equilíbrio entre o letrista e o músico”.

Para Zuza, quem diz que Chico não sabe cantar não entende do que fala. “O Chico Buarque sabe cantar suas próprias músicas melhor que ninguém”. Ele citou as músicas pouco conhecidas do compositor. “A música ‘Nina’ é maravilhosa”, lembrou. “Essa é diferença entre um bom compositor e um grande compositor. Quem chega até o Lado B é um bom compositor. Quem ultrapassa o lado B é um GRANDE compositor”.

lançamento de livro: música com z: artigos, reportagens e entrevistas (1957-2014), de zuza homem de mello from instituto cpfl | cultura on Vimeo.

conversa entre zuza homem de mello e humberto werneck: música com z é o oitavo livro de zuza homem de mello. nele foram reunidos 140 textos, sobre música brasileira ou jazz, publicados ao longo de 58 anos de atividade jornalística nos principais órgãos da imprensa nacional além de alguns inéditos incorporados. resumindo a reconhecida atividade do autor  na música, é produto de uma criteriosa seleção dentre perto de mil peças que foram divididas em sete partes, de acordo com seu conteúdo. assim, “canções e momentos” aborda a gênese de canções notáveis enquanto “a nobreza da música brasileira” resgata uma análise sobre a fartura de espetáculos e discos que mantinham em alto nível o cenário musical do país nos anos 70 e 80. “de dar água na boca” registra emocionantes espetáculos vividos por zuza como espectador e “figuraças” focaliza vultos tão significativos que receberam um destaque especial. muitos textos foram acrescidos de uma contextualização atual com informações ou pormenores elucidativos que complementam os artigos, reportagens e as entrevistas que compõem o livro. música com z que representa a trajetória de uma existência dedicada ao jornalismo musical é um livro de 140 artigos, prefaciado por humberto werneck e editado pela editora 34. foi patrocinado pela cpfl energia através do programa de ação cultural do estado – proac.

zuza homem de mello – musicólogo, jornalista e produtor musical. há quase 60 anos dedica-se ao garimpo e à divulgação da música popular e do jazz. é autor dos livros música popular brasileira cantada e contada (editora melhoramentos), a canção no tempo, 2 volumes com jairo severiano (editora 34), joão gilberto (publifolha), a era dos festivais (editora 34),música nas veias (editora 34)eis aqui os bossa nova (editora martins fontes) e, neste ano lança música com z, também pela editora 34.

gravado em 4 de junho de 2014.