Vida e obra de Bernardo Caro
Caro Bernardo,
Você partiu dias antes de ser inaugurada a primeira versão desta exposição retrospectiva, em outubro de 2007, no Instituto Cervantes, em São Paulo. Sua ausência física no evento foi profundamente sentida, embora sua presença fulgurasse em cada uma das obras expostas.
Hoje inauguramos esta mostra na CPFL Cultura, na cidade que o acolheu durante quase toda sua vida e na qual desenvolveu suas carreiras de professor e de artista plástico: Campinas. Esta abertura tem, por esta razão, um sentido muito especial. E por isso, Bernardo Caro, que nos dirigimos pessoalmente a você nesta data.
Aqui você cresceu, lutou, enfrentou dificuldades e venceu. Aqui você praticou, no início, uma arte tradicional, que evoluiu a partir do encontro com o Grupo Vanguarda de Campinas, em 1964, ano emblemático na história política brasileira. Aqui você tornou-se um artista experimental e um artista cidadão, que questionou com as armas que tinha ao seu alcance – arte, metáfora, coragem_ no restrito espaço reservado aos ideais de liberdade da época, o regime político dos anos de chumbo.
Problematizou ainda o comportamento humano em obras tri e bidimensionais, aproximou-se da estética pop, incorporou a seu trabalho um alfabeto deformado, símbolo de comunicação difícil ou mesmo impossível e, fazendo uso da técnica desenvolvida no começo de sua carreira, fez releituras de figuras conhecidas do mundo da arte, relacionando-as com outras deste universo ou com personagens que você criou. As obras que você produziu, sozinho ou em equipe, lhe abriram as portas de exposições importantes como a Bienal de São Paulo. Seu trabalho intelectual tornou-o responsável pelo Departamento de Artes Plásticas da PUC de Campinas e docente e diretor do Instituto de Artes da UNICAMP. Chegou at a dar nome a uma rua na cidade espanhola em que nasceu seu pai. Bem sabemos, Bernardo Caro, que ninguém chega a esses cargos ou a este reconhecimento sem qualidades intelectuais e humanas.
Receba, pois, nesta data, nossa consideração e respeito. Campinas recebe sua obra de braços abertos.
Enock Sacramento – 23.06.2009