utopias e distopias do presente com manuel da costa pinto (versão completa)
Curador do módulo “Emblemas Literários do Presente” do Café Filosófico CPFL, o jornalista e mestre em teoria literária Manuel da Costa Pinto abriu a série de debates, na sexta-feira, 01/04, com uma reflexão sobre “Utopias e distopias do presente”.
O termo, criado por Thomas More para projetar uma espécie de sociedade ideal, batizou um subgênero literário ao longo dos anos cujo contraponto é a distopia. “As utopias e as distopias estão se realizando no presente”, afirmou o palestrante.
“Desde More, temos 300 anos de utopias ideias. Como narrativas sobre cidades ideais. As distopias estão localizadas no século XX, que consagra a orientação unilateral da sociedade”, explicou.
Segundo ele, o “Big Brother” da TV deve seu nome ao líder totalitário de “1984”, de George Orwell, mas está materializado em “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury. A obra imagina a sociedade da doutrinação, do anestesiamento e da hipnose da indústria de entretenimento atual.
“Em ‘Fahrenheit 451’, as pessoas sabem ler, mas não estão interessadas. Estão doutrinadas. Estão atentas só ao meio, e o meio é a mensagem”, disse. “No livro, a periculosidade está associada aos livros. É o que pode combater uma sociedade anestesiada.”
Bradbury, de acordo com o palestrante, falava de uma arte voltada para o corpo, não para as massas. Ele comparou essa arte voltada para o corpo às tecnologias 3D do cinema, na qual a experiência corporal tem preponderância em relação à reflexão proporcionada pelo filme.
Ainda segundo o especialista, a supressão da relação com o outro é um tema presente na obra dos escritores contemporâneos. “Vivemos um momento hoje pós-utópico. Brasília mostra o que o Brasil redundou.”
“As narrativas utópicas hoje são distópicas. São pessimistas em relação ao caráter autoritário das utopias”, disse.
Ele citou o livro “Reprodução”, de Bernardo Carvalho, que abordava, ainda em 2013, as teorias conspiratórias da internet, como exemplo de livro premonitório sobre a utopia das redes sociais.
“A internet é utópica por causa do acesso à informação, e distópica em razão da pasteurização do conhecimento”.
Para o curador, o projeto utópico do futuro, quando se realiza, logo mostra seu lado distópico. “Perdemos o futuro de alguma maneira”. Ainda como exemplo, o livro “1984”, segundo ele, é mais próximo de uma distopia comunista – uma utopia, por sua vez, marxista – do que nazista. “Não há utopia capitalista ou socialista no século 20, mas ilhas de utopia”.
Para Costa Pinto, a busca excessiva do hedonismo é exemplo disso. “Quando se autoalimenta e vira prazer ininterrupto, a busca pelo hedonismo se torna alienante. “Estar sempre alimentado pelo prazer é uma forma de preencher a falta”, disse.
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