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Superação marca inédito bi da Maratona de São Paulo por Solonei da Silva

Fundista do IVCL/Orcampi começou no esporte por acaso, conciliou os primeiros passos no atletismo com o trabalho de coletor de lixo, e chegou à Olimpíada

 

Solonei Rocha da Silva sabe bem o significado da palavra superação. Foi após um ano difícil, no qual passou por uma cirurgia e ficou meses longe do atletismo, que o fundista conseguiu reunir condições para chegar a um feito inédito: ser o primeiro brasileiro bicampeão da Maratona Internacional de São Paulo. Solonei é atleta da Orcampi, braço esportivo do Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima (IVCL) que conta com o patrocínio da CPFL Energia e o apoio do Instituto CPFL. A vitória, alcançada em 8 de abril, veio com o tempo de 2h15min59, e somou-se à conquista de 2012.

 Fotos: Sérgio Shibuya/MBraga Comunicação

Solonei comemora vitória com bandeira do Brasil. Fotos: Sérgio Shibuya/MBraga Comunicação

Entrar em forma para voltar a correr os 42,195 km da maratona não foi fácil, conta o atleta que completa 36 anos em 18 de abril. “Fiquei longe da família por 35 dias, treinando na altitude de Paipa (2.525 m acima do nível do mar), na Colômbia”, conta. Mas não só.

Em 2017, as dores no pé esquerdo, que já vinham incomodando havia algum tempo, estavam perto do insuportável. “Para um atleta, que está acostumado a conviver com a dor, quando se chega a esse ponto é porque a dor é mesmo muito forte”. Após uma ressonância magnética, veio o diagnóstico de esporão no calcâneo (calcificação no osso do calcanhar que cutuca o tendão). A inflamação é inevitável e, a depender do estágio do esporão, pode-se chegar a uma ruptura do tendão. E a cirurgia é a única opção para corrigir o problema.

O procedimento foi realizado em julho, pelo ortopedista André Andrade, em Campinas. Solonei resolveu o problema, mas perdeu a temporada. “Foram praticamente seis meses até o retorno, um mês sem colocar o pé no chão, muito difícil.”

A Maratona Internacional de São Paulo foi escolhida para coroar o retorno à vida competitiva. Em sua primeira prova após a cirurgia, Solonei manteve-se no pelotão de líderes e assumiu a primeira posição no km 34. “Meu ritmo não foi o adequado o tempo todo, mas o que valeu foi colocar o Brasil no topo do pódio. Não foi o tempo que eu queria, mas estou muito feliz”, disse o fundista, que tem como recorde pessoal a marca de 2h11min32, conquistada em Pádua (Itália), em 2011.

O momento de dificuldade, um dos muitos que enfrentou, não foi suficiente para a abalar a esperança de um atleta acostumado a superar desafios. A começar por sua entrada no atletismo, totalmente por acaso.

 

O atletismo veio em forma de sonho

Solonei é natural de Penápolis, cidade do noroeste paulista. Lá pelos seus 20 anos, tinha como principal atividade esportiva o futebolzinho com os amigos, no fim de semana. Mas em 2003, por curiosidade, decidiu participar de uma corrida organizada pela fábrica de couros em que trabalhava. Correu a prova, de 3,3 km, de chuteiras. E ganhou. “Mas o corpo ficou tão dolorido que tive que pedir, no dia seguinte, para mudar de função, para alguma coisa que eu pudesse fazer parado.”

Osvaldo F./Orcampi.

Osvaldo F./Orcampi.

Tornar-se um profissional do atletismo não era exatamente o plano de Solonei. Tanto que voltou a correr apenas em 2005. É verdade que Solonei já falava que queria participar da Corrida de Pedestres de São Francisco de Assis, em Penápolis. Mas o fato decisivo para que ele corresse foi um sonho de sua mulher. Durante o sono, ela viu que Solonei superando os 10 km de prova e chegando ao pódio.

“Lá fui eu. Cheguei em terceiro lugar e faturei R$ 100,00. Aí, despertou a curiosidade de saber como era a tal da corrida de rua”, lembra. Com o prêmio, comprou talheres para o enxoval da casa recém-alugada.

A “tal corrida de rua” passou a dividir espaço na rotina de Solonei, que não podia parar de trabalhar para se dedicar ao atletismo. Empregado de uma oficina, prestou concurso para trabalhar na coleta de lixo em Penápolis. Aprovado, assumiu a função que exige fôlego e força para correr atrás do caminhão coletando os sacos de lixo. Foi uma espécie de treinamento, e um laboratório que mostrou que o potencial de Solonei ainda estava para ser descoberto.

Lixeiro e corredor, Solonei passou a disputar provas de rua na região – correu em Penápolis, Araçatuba, São José do Rio Preto, Bauru e Presidente Prudente. Em 2008, ganhou a meia maratona de Guariba com a marca de 1h05min33. “Era minha primeira vez na distância (21 km) e consegui um tempo próximo ao dos atletas de grandes clubes, que treinavam só para isso, enquanto eu trabalhava na coleta de lixo. Era só uma questão de oportunidade.”

Em 2009, fez um teste na cidade de Bragança Paulista. Foi aprovado. Pela primeira vez, passou a se dedicar exclusivamente ao esporte. No ano seguinte, 2010, foi contratado pelo Esporte Clube Pinheiros, temporada em que disputou sua primeira maratona. Venceu a distância em Porto Alegre, em maio, com 2h15min45, resultado que lhe garantiu o terceiro lugar no ranking brasileiro ao fim daquela temporada.

O ano de 2011 foi aquele em que Solonei entrou de vez para o alto rendimento, com o quarto lugar na Maratona de Pádua. Mais importante que a colocação foi o tempo, com 2h11min32, segunda posição do ranking brasileiro (ficou atrás apenas de Marílson Gomes dos Santos) e conquistou índice para o Mundial de Daegu e para os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara.

Por causa da exigência da prova, que demanda uma dura preparação e uma cuidadosa recuperação, especialistas nos 42,195 km preferem disputar apenas uma maratona por semestre. Assim, Solonei abriu mão de correr o Mundial, em agosto, para disputar o Pan, em outubro. Escolha certa! No México, reuniu-se a nomes como Vanderlei Cordeiro de Lima e Franck Caldeira ao conquistar o ouro na maratona do Pan-Americano (2h16min37), a terceira de sua curta carreira no alto rendimento.

O resultado no Pan abriu caminho para o sonho olímpico. Em 2012, ano dos Jogos de Londres, Solonei ficou a apenas 22 segundos da vaga. O bom resultado de 2h12min25, obtido na conquista de sua primeira Maratona Internacional de São Paulo, não foi suficiente. Apenas os três primeiros do ranking brasileiro seriam convocados para Londres – Franck Caldeira, o terceiro do Brasil, chegou ao prazo final com o tempo de 2h12min03.

O sonho olímpico foi adiado por quatro anos. Tempo suficiente para que o maratonista buscasse a realização de um outro desejo: ingressar no ensino superior. Solonei, que tinha concluído apenas o ensino fundamental, finalizou o ensino médio e, em 2013, começou o curso de Educação Física na Fundação de Ensino Superior de Bragança Paulista (FESB). Nas pistas, ainda conquistou um ótimo resultado, ao alcançar o 6º lugar no Mundial de Moscou.

Em 2014, Solonei passou a defender o IVCL/Orcampi. Desde então, é treinado por Ricardo D’Angelo. Sob o comando do ex-treinador do medalhista olímpico Vanderlei Cordeiro de Lima, se classificou para o Pan-Americano de Toronto, em 2015, mas abriu mão de disputar o bicampeonato para correr a maratona do Mundial de Pequim. A escolha invertida em relação a 2011 mostrou-se acertada. Foi o único dos três brasileiros a completar a prova – com o 18º lugar (2h19min19), conquistou a vaga para os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.

A colocação final, o 78º lugar, não era exatamente o enredo sonhado. Mas foi outra prova de que os sonhos, realmente, devem ser levados a sério. Solonei tornou-se atleta olímpico, disputou dois Mundiais, conquistou um título pan-americano e é, desde o fim de 2016, um educador físico formado.

Mas ele quer mais. Já estuda com Ricardo D’Angelo o restante do calendário de 2018. E, claro, continua a sonhar. “Profissionalmente, tenho apenas mais um: vencer a Corrida de São Silvestre”.

 

O IVCL/Orcampi tem o apoio do Instituto CPFL, responsável pelas ações sociais, culturais e esportivas do grupo CPFL Energia, empresa incentivadora do desenvolvimento do Brasil pelo esporte.