Ruy Castro e Eric Lax contam como é a experiência de escrever biografias
O primeiro dia do II Congresso de Jornalismo Cultural, promovido pela revista Cult em parceria com a cpfl cultura, trouxe grandes biógrafos para explicar como realizam seu trabalho. O norte-americano Eric Lax, autor de Conversas com Woody Allen, e o brasileiro Ruy Castro, que terminou recentemente a biografia de Carmen Miranda, estiveram numa das principais mesas do dia.
Ruy Castro, que é autor também das biografias de Garrincha e Nelson Rodrigues, contou que entrevista cerca de 200 pessoas para escrever um livro como esses. E fala, em média, dez vezes com cada uma delas – mais de mil conversas. Outras centenas de telefonemas são necessários para chegar até essas pessoas.
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A pesquisa, conforme conta, é apenas o começo, quando busca nomes. “Um nome que aparece numa nota de rodapé de uma notícia de jornal pode render um ótimo entrevistado”, diz.
Pesquisas, segundo ele, não podem ser a fonte primária de informação. Segundo ele, nos Estados Unidos, os jornais publicavam mentiras escandalosas sobre Carmen Miranda, histórias produzidas pelos estúdios de Hollywood para vender melhor seus atores. “No caso da Carmen, cujo pai era barbeiro, e a mãe lavadeira, a Fox transformou o pai em exportador de frutas tropicais. A mãe dela falava português de portugal. Nunca falou inglês. E havia entrevistas inteiras com ela”, conta.
Eric Lax publicou pela editora Cosac Naify (2008), o livro Conversas com Woody Allen. Foram 36 anos de entrevistas, organizadas por temas, onde Allen comenta seus filmes e seu processo criativo, entre tantos outros assuntos.
Ambos escritores falaram sobre a possibilidade de serem eles próprios alvos de biografias. Lax aproveitou para contar das dificuldades da investigação jornalística – e de como seu biógrafo provavelmente teria muitos problemas: “ganhei um relógio da minha esposa com a data do casamento marcada atrás – mas o gravador errou, e marcou 1980 em vez de 1982. Sou o pesadelo de qualquer biógrafo”.
Ruy Castro foi mais curto: “Quero que façam minha biografia por cima do meu cadáver”.