Responsabilidade compartilhada
Para as mudanças necessárias rumo ao desenvolvimento sustentável, será necessário a coalisão entre todos os setores da sociedade
Carlo Linkevieius Pereira
Ao traçar uma linha do tempo entre as conferências da ONU e, mais precisamente, as COPs, percebe-se que todos os setores da sociedade participaram ativamente das discussões e promoveram ações por um desenvolvimento sustentável. A bandeira foi inicialmente levantada pelas nações, mas os resultados foram insuficientes. Ocorreu então o advento das ONGs, que continuam a desempenhar um papel importante, mas que também não foi o bastante. Por último, surgiu o protagonismo das empresas nas discussões e nas ações. No entanto, seria um erro apostar apenas nas corporações, pois o momento requer coalisão. A Conferência de Estocolmo, de 1972, marcou o início das discussões multilaterais no âmbito da ONU sobre o meio ambiente, já incluindo discussões sobre poluição atmosférica. Os países, muito pautados pelo Relatório Brundtland, acordaram para o tema.
Vinte anos depois, em 1992, a Cúpula da Terra, ou Eco-92, atestou o aumento da importância das questões ambientais no debate mundial, evidenciado pela forte presença de chefes de estado e por importantes definições. Entre elas, a criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, destacando a relevância da questão climática.
Ali surgiu a definição da responsabilidade comum, porém diferenciada, com massiva aceitação das nações. Paralelamente foi realizado, no Aterro do Flamengo, um evento das ONGs, quando a sociedade civil mostrou que havia a necessidade de um maior controle e participação social. As ONGs aumentaram muito em número e importância nos cená- rios sub e supranacionais. Já na Rio+20, não houve um grande entusiasmo, resultado da dificuldade das nações em fecharem acordos necessários ao endereçamento de urgentes questões socioambientais.
Por outro lado, há muito que comemorar, se olharmos para as iniciativas de governos subnacionais, como a C40 (coalisão de 40 megacidades para lidar com questões do clima), que se comprometeram, por exemplo, a reduzir a emissão de gases de efeito estufa em suas cidades, ou se focarmos a Cúpula dos Povos, que reuniu milhares de ativistas em torno de agendas propositivas. No entanto, a vedete da conferência no Rio de Janeiro foram as empresas. Mais de 200 compromissos (muitos deles com metas claras) foram acordados entre organizações ou tornados pú- blicos. O Fórum de Sustentabilidade Corporativa do Pacto Global: Inova- ção e Colaboração para o Futuro que Queremos foi um sucesso. E a Rede Brasileira do Pacto Global, demonstrando o engajamento das empresas, levou ao governo brasileiro uma carta com dez compromissos socioambientais, assinada por 220 empresas.
A experiência da COP19, em Varsóvia, foi muito similar à Rio+20 em dois pontos. Primeiro, decisões importantes foram tomadas, como o avanço na Plataforma de Durban (caminho para o novo acordo mundial a ser estabelecido em 2015), o Mecanismo Internacional de Varsóvia para Perdas e Danos associado aos impactos das mudanças climáticas e a Plataforma de Varsóvia para o REDD+. Todavia, a decepção foi geral, pois os resultados ficaram bem aquém do esperado. Tanto que reuniões extraordinárias foram agendadas para 2014. O segundo ponto foi a satisfação dos participantes com a qualidade dos eventos empresariais realizados em paralelo aos debates de chefes e representantes de estado, pelo conteúdo e engajamento.
O relatório The Future Quotient 50 Stars in Seriously Long-term Innovation demonstra que o pensamento e a ação de longo prazo não são características de investidores ou governos, mas de indivíduos e empresas. Isso poderia levar à conclusão que a solução dos problemas climáticos está nas corporações. Afinal, as empresas, por sua característica capacidade de gestão e influência, podem influir muito na promoção, por meio de iniciativas internas, setoriais, cadeia de valor e lobby sustentável, do processo de mudança necessário para levar a sociedade contemporâ- nea aos níveis desejáveis de emissões de gases de efeito estufa. Além disso, têm a responsabilidade de serem reconhecidamente as maiores causadoras das mazelas ambientais.
No entanto, as empresas, sozinhas, não conseguirão promover as mudanças. Será necessário a coalisão entre todos os setores da sociedade. Nesse sentido, foi decidido em Varsó- via que os governos devem consultar os seus cidadãos e suas empresas para construir um novo acordo climá- tico para 2015 na COP21, em Paris.
Também para 2015, a ONU lançará os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Para contribuir com essa iniciativa, o Pacto Global, a GRI (Global Reporting Initiative) e o WBCSD (Conselho Mundial Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável), por meio de parcerias entre empresas, governos e a sociedade civil organizada, desenvolveram neste ano a plataforma Arquitetos de um Mundo Melhor, que visa a promoção e apoio dos compromissos empresariais para o avanço das ODS.
Parcerias e coalisões são necessárias. E 2015 já é um ano muito aguardado.