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os desafios da educação: gestão – nosso maior desafio?, com viviane mosé

Hoje os filhos são diferentes. Os pais são diferentes. As famílias são diferentes. Cabe à escola saber lidar com essa diversidade. A afirmação é da filósofa e educadora Viviane Mosé, que falou sobre “gestão escolar” durante o Café Filosófico CPFL de sexta-feira, 19/06. Foi o segundo debate da série “Os desafios da educação brasileira”, que tem a sua curadoria.

“Hoje nosso desafio é propor formatos, direções e modelos. Vamos conviver com uma infinidade de modelos. As boas experiências são diferentes umas das outras e trazem as especificidades dos municípios. A escola contemporânea deve conviver com novos formatos a partir de princípios comuns: formar cidadãos”, afirmou.

Segundo ela, uma das especificidades da escola atual é que o conteúdo está hoje praticamente todo na web. “Não precisamos de conteúdo. Precisamos de ferramentas para acessar o que temos disponível.”

Para a filósofa, pensar em gestão é importante porque o modelo piramidal das relações mudou. “Antes bastava seguir o manual para ser homem, mulher ou professora. A ponta era ocupada pela liderança.”

Para haver bons gestores, no entanto, é preciso reconstruir a ideia de “gestão de si”. “Vivemos hoje uma crise de valores. O que está em questão é a gestão de si. É a desintegração de si mesmo. Se não tenho gestão de mim mesmo, sou incapaz de lidar com a frustração. E ficou refém da medicalização.”

“Se a gente não tem gestão de si”, prosseguiu, “imagina o que é uma Secretaria da Educação, desafiou. “A gestão da educação envolve os pais das crianças. Os pais nasceram na desintegração de valores. A educação hoje lida com pais jovens que não sabem lidar com hierarquia.”

Segundo ela, os formatos excludentes caíram. Felizmente. O desafio é produzir formatos e direções. “O caos contemporâneo nos coloca diante da possibilidade de recriar o mundo. Vamos ficar com preguiça?”

Mosé defendeu que o ensino médio deveria abrir três caminhos distintos aos alunos: formação intelectual (para quem quer seguir carreira acadêmica); formação de profissional liberal; formação pra quem não quer fazer faculdade e prefere, por exemplo, ser marceneiro. “Por que só tem valor quem vai pra a universidade? Porque o ensino básico é muito ruim. É como se só lá houvesse saber.”

A Secretaria Municipal da Educação deve ter responsabilidade pelo ensino médio, mesmo que a gestão seja estadual, disse. Ela defendeu a integração da escola com a comunidade como uma forma de legitimação. “A escola deve estar voltada à comunidade significa que, se a gestora tiver legitimidade no bairro, terá a solidariedade também dos moradores. Muitas vezes demoramos pra tomar atitude à espera da ação do prefeito. Não queremos solução, queremos culpar alguém.”

No encontro, Mosé fez uma série de críticas ao modelo tradicional de educação. Disse, por exemplo, que não existe professor de matemática, como define a classificação oficial, mas sim “professor de aluno”. “A escola precisa ter coragem de fazer gestão pedagógica e se abrir para o pensamento.”

Para ela, a escola não é da Secretaria da Educação. É da comunidade. Compreender esta nuance é uma forma de ampliar o conceito de escola e cidade. “Quando a sociedade começar a entender que cada um de nós pode se vincular a uma rede de valores, então temos a cidade.”

O que a escola precisa, afirmou, é formar cidadãos capazes de ler, interpretar e conviver com sofisticação. “Precisamos de uma nova ordem. O fato de ter ordem não significa exclusão. Esta ordem pode ser mais bela e maleável.”

Mosé afirmou que “não podemos ter vergonha de sermos liderados por quem sabe mais.”

Ela criticou a articulação de vereadores de algumas cidades do país que tentam dificultar a discussão de gênero nas escolas. “Quem diz o que se deve estudar é o professor, não o vereador. Não podemos nos intimidar com o que eles decidem. O termo ‘questão de gênero’ não precisa ter esse nome para ser discutido. Mas as questões aparecem o tempo inteiro. E o professor tem liberdade para exercer isso. O que me espanta é debater isso na Câmara dos Vereadores. O vereador deveria ser mais modesto. Não pode legislar sobre o que não conhece. Os vereadores estão errados em proibir discussão de gênero. Mas nenhum professor precisa de lei para discutir o tema.”

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