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assista ao vídeo: o medo à liberdade e a alma humana – dos ditadores à autoajuda, com leandro karnal (íntegra)

“Por que aceitamos obedecer e deixar de ser autônomos?”, perguntou o historiador da Unicamp Leandro Karnal durante o primeiro Café Filosófico CPFL da série sobre “Servidões voluntárias e involuntárias”.

Com base no livro “Discurso sobre a Servidão Voluntária”, Karnal traçou um paralelo entre os ensinamentos de Etienne la Boétie e o período atual.

“Hitler não teve acesso à quantidade de informações que hoje qualquer central de telefonia tem hoje. Somos o que Étienne temeu: umasociedade feliz com tiranos no controle.”A violência, disse o historiador, não garante o controle. “É preciso que as pessoas concordem e gostem de ser controladas.”

Segundo Karnal, exemplo da servidão voluntária contemporânea é informar ao mundo o que consumimos pelas redes. “Ninguém me obrigou a dar essa informação. Francis Bacon dizia: ‘conhecimento é poder’.”

Ser livre, completou, nos torna responsável por nossas escolhas. Por isso, afirmou, casamentos arranjados raramente dão errado. “Nada espera-se deles.”

“A liberdade é responsabilidade: quanto mais ofereço chance de as pessoas escolherem, mais angustiadas elas ficam. As escolhas nos tornam sujeitos, mas também objetos. O impulso de ser um sujeito por uma escolha nos tornam também objetos do consumo.”

A servidão, por sua vez, pode ser uma zona mais confortável que a liberdade. “Boétie falou sobre o incômodo da liberdade séculos antes de Sartre. Os tiranos precisam de assessores. Precisam de um grupo que os apoie. Quanto mais sou oprimido, mais eu tiranizo também. Assim os tiranos se multiplicam. Cada um pisa naqueles que é possível. O mais subserviente dos gerentes é aquele que pisa no faxineiro”, disse.

No encontro, Karnal citou um conselho de Étienne como um alerta sobre as servidões contemporâneas: “Sejam resolutos em não servir. E vocês serão livres”. E completou: “A função do Estado é ser tirano. Precisamos pensar na nossa liberdade diante deste Estado. E parar de seguir gurus de moda, de comportamento, de gastronomia”.

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