cafe filosófico

Mesa-redonda abre a Retrospectiva DOC 2008 em São Paulo

VTS_01_1.VOB_.MP3

Teve início ontem, 16, a Mostra Retrospectiva DOC 2008, uma iniciativa da CPFL Cultura, com patrocínio da CPFL Energia. A série de exibições de filmes selecionados pelo curador Amir Labaki foi inaugurada na Reserva Cultural, em São Paulo, com uma mesa-redonda da qual participaram os cineastas Carla Gallo e Carlos Nader, com mediação da jornalista e crítica de cinema Neusa Barbosa.

Confira as fotos da mesa-redonda de abertura da mostra

Programação, sinopses e trailers
Retrospectiva DOC 2008
Balanço das mostras de cinema da CPFL Cultura
Debate sobre a classificação de filmes documentários
Curador da mostra de documentários explica o critério de seleção dos filmes
CPFL Cultura – Cinema apresenta em São Paulo mostras retrospectivas de cinema documentário e ficção

O evento foi apresentado por Labaki, que declarou ter adorado a idéia de fazer um balanço da safra de documentários de 2008 antes de apresentar a safra de 2009, no Festival É Tudo Verdade, do qual é fundador e diretor. “Escolhi para essa mostra retrospectiva sete filmes que adoro e que são tão impactantes e emocionantes quanto filmes de ficção”, completou.

A alta qualidade e o grau de sofisticação das obras de cinema documentário que vêm sendo produzidas no Brasil foram reconhecidos por todos os participantes, que, ainda assim, concluíram que o espectador prefere assistir a obras de ficção. Carlos Nader, autor de Pan-cinema Permanente, filme ganhador do Prêmio CPFL / É Tudo Verdade – competição brasileira, em 2008, deu como exemplo o massacre do Carandiru, que deu origem a obras de cinema documentário e também de ficção: “a primeira (de Paulo Sacramento), foi vista por 4 mil pessoas; a segunda (de Hector Babenco), por 4 milhões”.

A linha tênue entre ficção e realidade foi o tema mais comentado da noite. Segundo Nader, a realidade é imbatível. “o diretor não tem que pré-rotular aquilo que faz, esse é um trabalho para os que estudam essa área. Um dos segredos para se fazer um documentário é estar aberto pra mudar, se preciso. É diferente de jornalismo. Documentário você não faz. É a realidade é que te dá. E a própria memória não é realidade. Ela já passou tanto por filtros como por invenção. A memória é uma ilha de edição e a ilha de edição e uma memória”. E concluiu: “o que a gente quer nem é tanto entender, mas ter uma sensação de intensidade do vivido. Talvez o que buscamos nem seja tanto a verdade, mas sair transformado. A gente está atrás de intensidade”.

Carla Gallo, diretora de O Aborto dos Outros, acredita que a realidade é muito mais interessante que a ficção: “Não sou jornalista, posso mostrar meu ponto de vista no filme. Antes das filmagens, tinha um argumento a favor do aborto legalizado, mas não conseguia entender os outros casos, e o filme foi muito importante pra mim nesse sentido, o da diversidade moral. Ao longo do processo fui me tornando capaz de aceitar os valores daquelas mulheres e alterei meu ponto de vista. E me sinto muito bem com isso”.

A relação do espectador com a obra foi outro tema de destaque. Para Nader, o filme acontece na cabeça de quem assiste. “Trata-se de uma passividade muito sofisticada estar na platéia, e quanto mais isolado você está, mais consegue se relacionar com a obra”. O cineasta comentou ainda como a tecnologia tornou a arte do cinema mais parecida com as outras artes: “se você tem uma câmera ou um celular, você filma”. Quanto a novos projetos, Nader atualmente trabalha na produção de um filme sobre Jean Charles de Menezes – brasileiro confundido com um homem-bomba e morto no metrô de Londres pela Scotland Yard em 2005 -, que será vivido no cinema por Selton Mello. O novo projeto de Carla Gallo é um documentário sobre Nelson Leirner.