medicalização e liberdade, com ricardo krause (íntegra)
Em 1517, Martinho Lutero proclama as suas 95 teses na porta da capela de Wittemberg. Desde então, o protestantismo fundado naquele momento trará uma nova visão sobre os homens: eles devem se ater às questões humanas, do dia a dia. O lucro, sobretudo após a reforma de Calvino, deixa de ser condenado e passa a ser visto com bons olhos.
Tempos depois, Descartes inaugura o pensamento racional e liberta a consciência individual dos seres humanos. Já não é Deus quem está no comando das coisas. O homem recebe, então, um chamado para a responsabilidade individual. Deve ter, a partir de então, um comprometimento maior com as coisas terrenas. E o valor do trabalho passa a ser determinado pelo capital.
Neste novo sistema de produção, as pessoas dividem o tempo entre trabalho e tempo livre. Deixam seus ambientes isolados e passam a circular. Neste momento, o Estado é passa a ser responsável pela sua segurança. Com essa nova relação com o tempo, as pessoas passam a ser capazes de prestar atenção às suas emoções e à interdependência com outros trabalhadores. Passam a ter autoconsciência e criam novas relações sobre os objetos e a distancia entre o que veem e desejam e os objetos em si.
“As revoluções burguesas do século 18 consolidam esse valor do individuo, que passa a ser a medida de todas as coisas”, disse o médico psiquiatra Ricardo Krause durante o Café Filosófico CPFL sobre Medicalização e Liberdade.
“É quando o desejo torna-se prioritário. A felicidade passa a ser um tema. Uma causa. Um objetivo. E as pessoas lutam pela sua felicidade individual”, afirmou.
A busca pela felicidade para evitar a dor torna-se tema de novos campos da ciência, como a psicologia, a psicanalise e a psiquiatria. “O que faço no dia a dia passa a ter uma importância muito grande nesse momento. Mas a busca pela felicidade, dizia Hannah Arendt, é a outra face de uma infelicidade generalizada.”
Era de se esperar que, em algum momento, surgisse uma pílula da felicidade. Surge, então, no século 20, as medicações para alteração dos estados emocionais. As substancias servem para tratar de ansiedades em um mundo cada vez mais ansioso. As consequências do uso desse tipo de medicamento foram tema do debate com o especialista.
medicalização e liberdade, com ricardo krause (íntegra) from cpfl cultura on Vimeo.