CPFL Jovem geração

Medalha olímpica de Vanderlei Cordeiro de Lima completa 16 anos

O inspirador do IVCL, instituto que forma cidadãos e atletas em Campinas (SP), parceiro do Instituto CPFL, fala sobre o bronze na maratona ganho em Atenas/2004 e as glórias da medalha Pierre de Coubertain e de acender a pira olímpica nos Jogos do Rio/2016

Vanderlei Cordeiro de Lima ganhou a medalha de bronze na maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas/2004, na Grécia, no dia 29 de agosto. Essa conquista, que jamais será esquecida no Brasil e no mundo, completa 16 anos neste 2020. A bravura que Vanderlei demonstrou ao enfrentar o desafio inesperado, sem desistir da prova e do pódio, deu a ele também a medalha Pierre de Coubertain, a maior condecoração do Comitê Olímpico Internacional (COI), e a honra de acender a pira olímpica dos Jogos do Rio/2016.

©Wander Roberto/COB/Divulgacao

O Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima (IVCL) Orcampi, que desenvolve seu projeto de atletismo em Campinas, São Paulo, é parceiro do Instituto CPFL e conta com o patrocínio da CPFL Energia. A história desse padrinho ilustre ganha destaque em nossas mídias com a entrevista exclusiva de Vanderlei ao Instituto CPFL (confira abaixo).

Vanderlei estava bem preparado para aquela maratona – havia feito sua parte, como costuma dizer. Tinha bons resultados em provas pré-olímpicas, conhecia o percurso de Atenas da corrida da Copa do Mundo de Maratona, em 1997, e cumpriu o minucioso planejamento de treino na altitude de Paipa, Colômbia, elaborado pelo seu treinador, Ricardo D’Angelo (a estratégia de potencializar o desempenho aeróbio por exposição do corpo ao treino na altitude é eficaz e usada pelos melhores atletas do mundo).

É preciso voltar ao que aconteceu em Atenas, em 2004, para contar a história que colocou Vanderlei Cordeiro de Lima na galeria dos heróis olímpicos mundiais. Ele corria pelas ruas de Atenas, no percurso da maratona, e estava em primeiro lugar, no km 36,5, a 1h52min de prova, quando foi vítima da agressão. Já tinha corrido 86% da prova, estava a seis quilômetros do fim e na frente – se aproximava do ouro.

De repente, um ex-padre irlandês, manifestante de ações confusas, invadiu a prova, agarrou e empurrou Vanderlei por metros em direção a calçada. Ajudado por um popular, Vanderlei se reequilibrou e retornou para a corrida. Mas restaram a perda de tempo, de ritmo de corrida e da concentração. Um pouco a frente perdeu a liderança, mas seguiu até o fim em direção ao pódio.

Cruzou a linha de chegada no histórico Estádio Panatinaiko, em terceiro lugar, em 2h12min11. E comemorou a seu modo, com o “aviãozinho” (o italiano Stefabi Baldini ganhou o ouro, em 2h10min55, e o norte-americano Meb Keflezighi a prata, em 2h11min29).

Vanderlei foi muito aplaudido pelo público e nas entrevistas ao fim da maratona, ainda no estádio na zona mista e logo depois na sala de imprensa, com jornalistas do mundo todo, foi o centro das atenções, competidor para o qual foram dirigidas a maioria das perguntas. E surpreendeu ao valorizar a sua conquista e a dos adversários também. Comemorou muito o pódio olímpico, apesar de todo o prejuízo causado por uma falha de segurança da prova.

Vanderlei era o assunto mundial da Olimpíada nos dias que se seguiram, com imagens da prova repetidas a exaustão, manchetes de jornais do mundo todo e indignação. Mas manteve-se sereno e feliz com sua medalha de bronze.

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) e a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) apresentaram recurso. Mas os organizadores da Olimpíada e o Comitê Olímpico Internacional (COI) não revisaram o resultado da maratona. Em contrapartida, e pela atitude diante da adversidade sofrida, Vanderlei foi agraciado com a medalha Pierre de Coubertain, uma honraria esportiva-humanitária do COI a atletas e pessoas envolvidas com o esporte que demonstrem alto grau de esportividade e espírito olímpico durante a disputa dos Jogos.

Vanderlei nasceu em Cruzeiro D’Oeste, Paraná, em 11 de agosto de 1969. Trabalhou na roça para ajudar a família e sempre gostou de correr, mas começou no atletismo aos 16 anos e aos 19 já estava na seleção brasileira juvenil.

Em 1994 correu pela primeira vez os 42 km e 195 m na Maratona de Reims, na França. Foi contratado para ser o “coelho”, atleta que puxa e dita o ritmo da prova até o km 21, mas além de cumprir o seu trabalho e desobedecendo orientação técnica, foi até o fim e venceu, em 2h11min06, tempo bom para um estreante na maratona. Vanderlei havia encontrado sua distância preferida.

©Wander Roberto/COB/ Divulgacao

Em 1996, foi o campeão da Maratona de Tóquio (2h08min38). O seu recorde pessoal para os 42,195 km da maratona é de 2h08min31, da Maratona de Tóquio-1998, quando foi vice-campeão. Vanderlei é bicampeão pan-americano na maratona (Winnipeg-1999 e Santo Domingo-2003) e participou de três edições de Jogos Olímpicos – Atlanta/1996 (47º) e Sydney/2000 (75º) e Atenas/2004 (3º).

O Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima foi criado em 2008 e tem no esporte a ferramenta para despertar o interesse por valores essenciais em crianças e adolescentes, proporcionar a prática do atletismo aliada a atividades educativas e culturais. Os participantes são selecionados de acordo com critérios socioeconômicos e testes de aptidão física. Atualmente são 180 os participantes, a partir dos 7 anos, na Escola de Formação, para iniciantes, e categorias de base. Os atletas de elite da Orcampi são espelhos para os integrantes do projeto.

O IVCL Orcampi é coordenado por Ricardo D’Angelo. Atuam na pista, com os atletas, os treinadores professores Evandro Lazari, Celso Ficagna, Alex Lopes, Sinval Oliveira, Dino Cintra, Aline Silva, Tiago Bueno, Rubens dos Santos, Letícia Soares e Wagner Cardoso, o fisioterapeuta Vitor Stefanini, o massoterapeuta Jadson dos Santos, o médico André Andrade, a psicóloga Simone Sanches e a assistente-social Simone Silva.

 

Em entrevista exclusiva para o Instituto CPFL Vanderlei fala da conquista da medalha olímpica, da criação do IVCL, e deixa sua mensagem.

Instituto CPFL – Qual foi a inspiração para criar o IVCL após a conquista de Atenas/2004?

Vanderlei – O IVCL foi idealizado por mim e o Ricardo D’Angelo. É claro que Atenas foi um marco na minha carreira, na minha vida, mas esse propósito da criação do Instituto já existia um pouco antes, não muito, mas antes da medalha. A gente queria fazer algo para retribuir aquilo que o esporte havia me concedido, em todos os sentidos. E a ideia foi criar o IVCL para dar a oportunidade que eu não tive no início da minha carreira, que foi ter o contato com o esporte desde menino.

Instituto CPFL – Hoje, 12 anos depois, quais são os frutos principais do IVCL?

Vanderlei – O maior fruto é a integração dos jovens na sociedade por meio do esporte. A gente não olha só pelo desempenho técnico, mas sim pelo conjunto que engloba as ações do Instituto. Os próprios jovens inspiram outros a buscar o esporte e eles vem através do IVCL, que visa a transformação. Tudo se deve também aos profissionais que estão comprometidos com essa grande causa. É uma e equipe que mostra como é bom ter muita gente reunida com um só propósito, o propósito do bem. E levar isso adiante.

Instituto CPFL – Conta para as crianças e adolescentes atletas do IVCL, da Escolinha de Formação as categorias de base e atletas adultos da Orcampi e para o público o que significou a conquista do bronze em uma das mais incríveis histórias de superação dos Jogos Olímpicos?

Vanderlei – Isso não começou em 2004, foi um trabalho de longo prazo, de muita persistência, comprometimento, vontade de vencer e de buscar os caminhos e as pessoas porque eu não cheguei sozinho. Devo muito a toda uma equipe multidisciplinar, a apoiadores que me ajudaram a fazer um planejamento da carreira e ao Ricardo D’Angelo, que foi a pessoa que me direcionou em busca dos resultados. E Atenas, sem dúvida, foi o meu grande resultado dessa luta constante que é o esporte. Mas nada vem por acaso. É muita luta e dedicação, é superar as barreiras que a gente encontra ao longo do caminho e sempre acreditar que é possível. Minha história resume bem aquele dia feliz que eu tive em Atenas, em 2004, na conquista da minha medalha. Tudo o que eu passei na preparação e no dia da prova demonstra tudo – é uma história de muita persistência que superei não só no dia da medalha, mas em toda a minha vida. Fica uma grande lição para nossos jovens, nossos atletas que estão buscando resultados importantes. Sempre vamos encontrar obstáculos e quando a gente passa por eles se torna mais forte para buscar nossos objetivos.

Instituto CPFL – Conta também sobre a emoção de ganhar a medalha Pierre de Coubertain e acender a pira olímpica.

Vanderlei – Depois do ocorrido em Atenas eu tive a felicidade de ser agraciado com a medalha Pierre de Coubertain, tudo consequência dessa luta que tive na minha vida. Foi muito importante para mim, para o atletismo brasileiro, meu clube, meus patrocinadores e de certa forma a gente deixou um exemplo, de motivação, de superação, de que tudo é possível. E também falar de um momento marcante que foi participar da abertura de uma Olimpíada. Eu tinha participado de três Olimpíadas, mas nunca da abertura porque a maratona sempre é a última prova e quando eu chegava os Jogos já tinham começado. Em 2016 fui convidado pelo Comitê Olímpico Brasileiro para fazer parte da abertura dos Jogos e a minha missão era ser porta-bandeira do juramento dos atletas (não sabia que acenderia a pira). E quando eu soube que seria o atleta que acenderia a pira foi muito gratificante e glorioso. Acho que foi a maior glória da minha carreira e vida poder conduzir a tocha olímpica e acender a pira olímpica nos Jogos do Rio. E sendo agraciado pelos grandes atletas eternizados do esporte brasileiros que participaram da cerimônia e, o mais importante, receber o carinho do povo brasileiro naquele momento. Foi inesquecível. Para mim, o atletismo brasileiro e o esporte brasileiro. O esporte foi, sem dúvida, a ferramenta mais importante de transformação da minha carreira e da minha vida. Me levou a um lugar em que eu nunca poderia imaginar chegar, ao mais alto do pódio em todos os sentidos.

Instituto CPFL – Deixe uma mensagem

Vanderlei – Quero deixar uma mensagem a todos os apoiadores e patrocinadores que fazem do Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima uma realidade. Sou muito grato a todos! E aos nossos colaboradores, treinadores, professores e profissionais que atuam com a equipe. São educadores que fazem com que cada um desses jovens se sinta importante e o esporte é a nossa ferramenta. Devo muito a todos vocês! Sou muito grato a Deus e ao esporte por levar as pessoas para lugares em que não imaginariam chegar. Então acredite e faça por onde que vai chegar lá. É isso aí galera!

 

Vanderlei, uma inspiração para sempre!

“Ter tido a oportunidade de orientar o Vanderlei por 16 anos foi um privilégio, algo que transcendeu a relação atleta-treinador, pautada por forte confiança. Nosso vínculo de amizade penetrou nas esferas pessoal e profissional de maneira a nos entendermos com um olhar. Vivemos uma significativa troca de aprendizagem, na qual foi construída essa parceria vitoriosa.

Vanderlei foi um atleta excepcional, por seu potencial físico, disciplina, caráter e firmeza moral. Em Atenas/2004 nunca deixamos de acreditar que seria possível um bom resultado. Vanderlei estava no ápice de sua forma física e vivendo um momento pessoal leve. A vitória na Maratona de Hamburgo (ALE) como preparação para os Jogos Olímpicos foi o sinal que precisávamos. Depois de 5 semanas de treinamento em Paipa e a 5ª colocação na Meia Maratona de Bogotá (COL), a 2.800 m de altitude, o sonho continuava de pé.

Tomado por uma rigorosa disciplina técnica, focado em seu objetivo, Vanderlei executou o plano desenhado para a prova e alcançou uma medalha, mesmo com o inaceitável acidente causado pelo ex-padre irlandês. Superação é pouco, muita garra e vontade de vencer eram as únicas coisas que passavam em nossas cabeças.

A medalha de bronze de Atenas recompensou um atleta de carreira exemplar (…e seu treinador e equipe!), a medalha Pierre de Coubertain recompensou o homem, pela lição de perdão dada ao mundo, e a oportunidade de acender a Pira Olímpica no Rio/2016 recompensou a sua medalha de ouro arrancada em 2004.

Vanderlei, uma inspiração para sempre!”

(Ricardo D’Angelo – Treinador e do IVCL)

 

 O IVCL Orcampi conta com o patrocínio da CPFL Energia e o apoio do Instituto CPFL.