Luiz Felipe Pondé é o curador do Café Filosófico CPFL de Campinas em junho
A CPFL Cultura em Campinas apresenta durante o mês de junho a série de Café Filosófico CPFL "Os fantasmas da perfeição", com curhttps://institutocpfl.org.br/cultura//site/wp-admin/post.php?action=edit&post=4071adoria do filósofo Luiz Felipe Pondé.
O curador abrirá a série na próxima sexta-feira, dia 5. No dia 12 não haverá evento, voltando os encontros no dia 19 com o sociólogo Marcelo Coelho. No dia 26, o psicanalista Ricardo Goldenberg encerra o módulo. Todos os encontros acontecem na CPFL Cultura Campinas, na rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632, Chácara Primavera, sempre às 19h.
Vídeos das palestras de São Paulo
Utopia na personalidade: crise e superação da neurose da felicidade perfeita – Ricardo Goldenberg
A Clínica do Trágico – Luiz Felipe Pondé
Utopia do amor perfeito – Caterina Koltai
A utopia da melhor idade – Leandro Karnal
Vídeos das palestras de Campinas
A Clínica do Trágico – Luiz Felipe Pondé
A utopia do autoconhecimento, com Ricardo Goldenberg
Utopia da eterna juventude, com Marcelo Coelho
Matérias sobre o módulo
Pondé fala sobre o trágico no Café Filosófico CPFL em São Paulo
Filósofo Luiz Felipe Pondé inicia série sobre utopias em São Paulo
Psicanalista encerra módulo com participação do público
Marcelo Coelho traz otimismo na busca pela eterna juventude
Luiz Felipe Pondé abre módulo abordando o trágico na vida
Confira abaixo o texto do curador:
"Vivemos em tempos de crise. A humanidade é uma espécie, como todas, adaptada a um meio ambiente quase sempre hostil: sofrimentos, violência, morte. Habitamos, entretanto, um tipo de meio ambiente distinto das demais espécies: o espaço interior, a alma, a mente, o espírito. Vivemos expectativas, fracassos, inquietações, e a consciência da dor. Os últimos séculos estabeleceram formas novas desses velhos dramas: sonhos políticos, técnicos, científicos, psicológicos e morais, todos marcados pela tentativa de interromper um destino infeliz aparentemente inexorável. Por isso, a crise atual tem marcas específicas: uma delas é sua relação direta com os processos utópicos modernos.
Quando falamos em utopias pensamos imediatamente nos grandes modelos políticos criados a partir da obra de Jean Jacques Rousseau (século 18): revolução social, política e econômica. Todavia, a ideia de utopia é mais antiga e remonta aos renascentistas e à filosofia humanista: o homem é dono de sua vida e pode fazer com ela o que quiser. O sonho da vida perfeita, desde então, virou um fantasma: para chegar à felicidade, basta descobrir as fórmulas. Será? Pode o homem tornar-se perfeito? Tem ele a capacidade de construir um projeto perfeito de futuro? Sua natureza detém os recursos necessários para realizar este projeto? Pode o homem tornar-se pleno? Neste cenário, a modernidade tornou-se o grande produto dos processos utópicos: economia científica, políticas da liberdade e da justiça social, autonomia dos sujeitos.
Normalmente identificamos a “morte das utopias” como a queda do muro de Berlim em 1989: a morte da justiça social plena. Em 2008, outra imagem surgirá no cenário mundial como exemplo de “morte das utopias”: a crise da sociedade baseada no consumo e no mercado como fim de uma história que teria encontrado seu modelo último de aperfeiçoamento no capitalismo pleno.
Mas as utopias só não construíram fantasmas coletivos. Outros fantasmas, com nomes próprios, vieram à noite visitar os sonhos e pesadelos dos indivíduos em suas pequenas vidas comuns. E o que faz o indivíduo sozinho, à noite, no seu quarto, diante desses fantasmas? Para além dos grandes processos políticos e sociais, o que significou, em nosso cotidiano, vivermos sob a tutela de um projeto de perfeição? Como cada um de nós, na solidão da vida e de suas pequenas decisões que formam a malha quase invisível em que respiramos, viveu esta obsessão pela vida perfeita?
Utopias da personalidade, da sexualidade, do amor, da liberdade, do conhecimento, varreram nossas vidas. Talvez a cura passe pelo enfrentamento da imperfeição e do conflito como universo último da vida. Seríamos, afinal, uma pequena alma que sabe mais do que deve, mas nunca tudo o que precisa? Enfim, teríamos diante de nós o risco de sermos um ser sem sentido último e sem certezas? Seria esta uma forma mais livre de viver? A imperfeição como horizonte?"
Luiz Felipe Pondé
O tema da crise será abordado nos próximos meses em toda a programação da CPFL Cultura. Estamos em plena crise. Qual crise? Daquelas que podemos contornar para depois recuperar o equilíbrio anterior? Ou daquelas que nos desafiam a reinventar o mundo? A CPFL Cultura acredita na segunda alternativa. Por isso, vê na crise um tema fascinante para a reflexão de longo fôlego – e de longo alcance. Em vez de fugir da idéia de crise, o que faz é nomeá-la, encará-la, entendê-la de corpo inteiro. Em todas as suas dimensões. Crise é o estado natural do homem, não é uma exceção. Há que se buscar extrair benefícios de onde, como agora, há tanto sofrimento. Há que se poder projetar “Luz na Crise”.
Luiz Felipe Pondé é filósofo, pós-doutor pela Universidade de Tel Aviv, professor da pós-graduação em ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da Faculdade de Comunicação da FAAP e professor convidado da pós-graduação em ensino das ciências da saúde da Escola Paulista de Medicina – UNIFESP; colunista da Folha de S. Paulo; autor, entre outros títulos, de Crítica e Profecia, filosofia da religião em Dostoievski, (Ed. 34), O Homem Insuficiente, O Conhecimento na Desgraça, e Do Pensamento no Deserto, ensaios de filosofia, teologia e literatura, os três pela EDUSP.
Serviço
A série do Café Filosófico CPFL "A Crise no Quarto: os fantasmas da perfeição" tem curadoria do filósofo Luiz Felipe Pondé e será realizada em Campinas às sextas-feiras de junho, às 19h. A programação é gratuita, com entrada por ordem de chegada. A CPFL Cultura em Campinas fica na rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632 – Chácara Primavera. O público poderá participar também enviando perguntas antes dos eventos para o e-mail [email protected], com o tema do evento no campo “assunto”. As questões serão encaminhadas ao curador. Os encontros também poderão ser acompanhadas ao vivo em nosso site. Mais informações pelo telefone (19) 3756-8000 ou em nossa programação.
Programação
5 de junho – 19h
“A Clínica do Trágico”
Luiz Felipe Pondé
Uma visita à concepção trágica da vida (a tragédia grega e alguns filósofos trágicos posteriores) pode ser um recurso de enfrentamento dos fantasmas da utopia na medida em que coloca o homem diante de uma indagação ancestral: somos senhores de nosso destino? Qual o alcance da liberdade humana? No que os processos utópicos foram causa de uma modernidade covarde? Vida perfeita, sexo perfeito, amor perfeito, personalidade perfeita, liberdade perfeita, juventude eterna, todos fantasmas de um mal infinito. Em que medida o herói trágico, aquele que luta sabendo que jamais vencerá, pode ser um modelo mais humano diante desses fantasmas? Seria a tragédia uma visão mais madura da condição humana?
12 de junho
Não haverá programação
19 de junho – 19h
“Utopia da liberdade e da juventude: crise e superação da liberdade perfeita num corpo eternamente jovem”
Marcelo Coelho – sociólogo e colunista da Folha de S. Paulo
Um dos focos das utopias modernas sempre foi o aumento da autonomia humana. Com a realização moderna de uma maior mobilidade social e psicológica, como ficam os homens e as mulheres diante do fato de que quanto maior a liberdade, maior a insegurança afetiva e ética? Em que medida a liberdade é também uma maldição? Com o impacto das técnicas de manutenção da juventude artificial, qual seria o desdobramento de um corpo “sempre jovem” para uma alma que vê o envelhecimento como apodrecimento sem significado?
26 de junho – 19h
“Utopia na personalidade: crise e superação da neurose da felicidade perfeita”
Ricardo Goldenberg – psicanalista
O acúmulo das ciências da alma (psicologia) gerou uma grande ansiedade de autoconhecimento. Qual o resultado, a esta altura, deste acúmulo? Haverá uma relação necessária entre autoconhecimento e felicidade? Ou, ao contrário, a ampliação da consciência implicaria maior dificuldade de autoengano e, portanto, um impacto causado pela inquietação, este outro nome para a consciência? O que ganha e o que perde quem busca conhecer a si mesmo? Seria o oráculo de Delfos, afinal, uma maldição?