Inácio Araújo e o cinema brasileiro esquecido em 2008
Para o crítico de cinema Inácio Araújo, os filmes produzidos no Brasil no ano de 2008 honraria a cinematografia de qualquer país do mundo.
Confira:
Programação, sinopses e trailers
Balanço das mostras de cinema da CPFL Cultura
Mesa-redonda fecha Retrospectiva FIC 2008 em São Paulo
Mesa-redonda é um dos destaques da Retrospectiva FIC 2008
Brasileiros e esquecidos
Para montar a grade da Retrospectiva FIC 2008 da CPFL Cultura, Inácio Araújo, curador da mostra, escolheu os filmes que ficaram pouco tempo em cartaz nos cinemas brasileiros no ano passado. Confira o texto de apresentação do crítico.
Nossos filmes vivem uma situação paradoxal: podem tanto produzir um sucesso colossal, “Se Eu Fosse Você 2” é o exemplo mais evidente, como uma série de filmes que, apesar de suas inegáveis qualidades, não se mostra capaz de chegar ao público.
Para a mostra “Brasileiros e Esquecidos” selecionamos sete filmes brasileiros Brasil que qualquer cinematografia do mundo se honraria de ter produzido: “Cleópatra”, “Deserto Feliz”, “Encarnação do Demônio”, “Corpo”, “Falsa Loura, e “Serras da Desordem”.
Outros nomes poderiam ser acrescentados a essa lista sem enfraquecê-la. O importante, para nós, é notar a situação abissal. em que nos encontramos. Há alguns anos, a proporção de espectadores entre os filmes ditos “industriais” e os ditos “independentes” na Argentina oscilava entre 5 e 6 para 1. No Brasil, não é nem mesmo preciso fazer essa distinção.
Vivemos entre os “fenômenos” a que o público acorre com sofreguidão (existem outros a lembrar neste ano, ainda que não na mesma escala de “Se Eu Fosse Você 2”, como “Bezerra de Menezes, o Diário de um Espírito” ou “Meu Nome Não É Johnny”).
O flagrante desequilíbrio entre os filmes que fazem sucesso e essa grande parte deles que não encontra seu público necessita ser pensada, numa cinematografia que se pretende plural. Onde se coloca o problema? Existe um “gosto do público” que o predispõe a ver certas obras?
Existe um problema de distribuição e marketing que mantém afastados certos filmes de seu público? Existe desinteresse dos cineastas em produzir filmes acessíveis aos espectadores?
À medida que as perguntas são formuladas, tem-se a impressão de que mais claro se torna o desequilíbrio do nosso sistema de produção, que, à falta de uma política capaz de dar vazão aos mais variados desejos cinematográficos, optou pelo empirismo.
“Brasileiros e Esquecidos” procura trazer filmes lançados em 2008 que demonstram a variedade de nossos filmes. Existem os de terror e os dramas, os mais experimentais e os mais convencionais, há o retorno de um personagem de enorme sucesso no passado, Zé do Caixão, e filmes produzidos fora do eixo Rio-São Paulo, há nomes reconhecidos em festivais internacionais e novatos. De modo geral, foram recebidos com entusiasmo pelos críticos, mas lhes faltou o olhar atento do espectador. Descobrir o porquê desse curto-circuito tão freqüente entre os filmes e os espectadores continua a ser uma tarefa. Dar uma segunda chance a esses filmes era quase uma obrigação.