Café Filosófico

Filosofia, substantivo feminino é a nova série de gravações do Café Filosófico CPFL em novembro

As gravações têm entrada gratuita de público no estúdio do Café Filosófico CPFL, em Campinas, e transmissão ao vivo pelo canal do Café no Youtube, às 19h, e em novembro ocorrerão nos dias 03 (quinta-feira), 10 (quinta-feira), 18 (sexta-feira), e 22 (terça-feira)

Na foto: a historiadora e psicanalista Marilea de Almeida.

Filosofia, substantivo feminino
Curadoria da filósofa Nastassja Pugliese

A história da filosofia como conhecemos nas antologias é marcada por inúmeras exclusões, sendo as mais marcantes aquelas de gênero, raça e localidade geográfica.

Recentemente a atenção de pesquisadoras tem se voltado para reparar este estigma limitante da prática filosófica, resgatando obras escritas por filósofas ao longo da história, e fazendo aparecer nomes importantes como: Aspásia de Mileto, Temistocléia, Hipátia de Alexandria, Cleobulina de Rodes, lastênia de Mantinéia, Hidelgarda de Bingen, Cristine de Pizan, Heloisa, Catariana de Siena, Oliva Sabuco, Teresa D’ávila, Túlia D’aragona, Sor Juana Inés De La Cruz, Ana van Schurman, Lucrécia de Marinela, Princesa Elisabeth de Boêmia, Mary Astell, Anne Conway, Margareth Cavendish, Damaris Marsham, Emilie du Châtelet, Mary Wollstonecraft, Anna Julia Cooper, Nísia Floresta, Francisca Senhorinha da Mota Diniz, Maria Firmina dos Reis, Josefina Álvarez de Szevedo, Simone de Beauvoir, bell hooks, Maria Lugones, Judith Butler, Oyèrónké ̣Oyěwùmí.

Com olhar atento para arquivos e bibliotecas, procurando obras representativas, conclui-se, por evidências concretas, que mulheres sempre filosofaram. A presença silenciosa ao longo da história é, então, denunciada como uma ausência gritante — nos livros, nas antologias e nas narrativas filosóficas de modo geral. 

Para contextualizar o projeto de resgate das mulheres filósofas e os resultados transformadores que estão sendo alcançados, apresentaremos as contribuições de filósofas de diferentes contextos culturais e sociais e o debate sobre a construção do cânone da história da filosofia.

Começaremos com o impacto da filosofia de bell hooks para a educação, mostrando como a reflexão sobre a raça como marcador social transforma o campo teórico e a experiência educacional. Depois teremos um encontro sobre o conceito de mulher, marcadamente levantado por Simone de Beauvoir, para tratarmos da questão: de quem falamos quando falamos de mulheres pensadoras? No terceiro encontro, o pensamento da filósofa latino-americana Maria Lugones será introduzido a partir de sua crítica à colonialidade, mostrando como essa crítica contribui para a expansão do conceito de justiça. Finalmente, no quarto e último encontro, refletiremos sobre a natureza da história da filosofia e também uma reflexão sobre sua atualidade, o cânone e o lugar das mulheres filósofas na tradição. 

O encontro de estreia da série ocorre na quinta-feira 03/11, às 19h, com o tema bell hooks e a educação antirracista, com a historiadora e psicanalista Marilea de Almeida.  

Confira a programação:

03/11 | qui | 19h
bell hooks e a educação antirracista, com a historiadora e psicanalista Marilea de Almeida
Gloria Jean Watkins é o nome de batismo de bell hooks. Ela nasceu em 1952, em Hopkinsville, uma pequena cidade segregada do estado de Kentucky, no sul dos Estados Unidos. Nascer mulher negra, em um contexto de segregação racial e em uma família de domínio patriarcal, significa vir ao mundo em um tempo e espaço cujas oportunidades de existência para mulheres negras estavam limitadas ao trabalho doméstico (seja dentro e fora de casa), casamento e filhos.

Sem sombra de dúvida, bell hooks é uma das mais importantes intelectuais da atualidade. Desde a década de 1980 até os dias atuais, ela publicou mais de 30 livros que, por meio de uma linguagem acessível expressa um pensamento complexo, avesso às formulações simplistas. Uma produção que denuncia, sem subterfúgios, as atávicas conexões entre imperialismo econômico, supremacia branca e o patriarcado.  Suas obras são referências incontornáveis para adensar  nossa  compreensão de como as dinâmicas de raça, classe e gênero se exprimem  nas práticas culturais, acadêmicas, subjetivas e cotidianas.

Tomando como foco atávica relação entre teoria e experiência na obra de bell hooks, a apresentação discutirá o lugar das mulheres negras na produção de conhecimento. Para tanto, a apresentação  será dividida em três momentos. O primeiro situa a produção intelectual de bell hooks com a  emergência, nas décadas de 1970 e 1980, dos feminismos negros nos  Estados Unidos e  no Brasil.  O segundo explora o modo singular de produzir teorizações em bell hooks, focalizando a noção de teoria como auto recuperação. O terceiro explora as repercussões de seu pensamento no Brasil, especialmente para os campos da educação e do ativismo negro.

10/11 | qui | 19h
Existe um conceito universal de mulher? – um debate a partir de Simone de Beauvoir, com a filósofa Carla Rodrigues
O percurso do pensamento feminista que Carla Rodrigues irá abordar, começa em 1949, com a publicação de O segundo sexo, livro em que Simone de Beauvoir está, entre outras questões, interrogando o que a filosofia oferecia como roteiro de subjetivação para as mulheres até ali. Com ela, o feminismo questiona o conceito de sujeito universal abstrato – e, nesse caso, torna-se um marco inaugural da crítica ao humanismo que toma conta do pensamento francês dos anos 1960 -, e nos lega um problema, bem expresso por Judith Butler décadas depois: tornar-se mulher é tornar-se parte do conceito de sujeito universal abstrato? Existe um conceito universal de mulher?

Esta segunda pergunta mobilizou muitas autoras feministas nos anos 1970 e 1980, marcados por esse problema que antecede e cria o espírito do tempo sintetizado por Butler em “Problemas de gênero – feminismo e subversão da identidade”, em 1990. Ali, ao mesmo tempo que se vale do debate que a precede, a filósofa abre a possibilidade de que sujeites possam ter a sua existência reconhecida, em um movimento que tanto se vale quanto critica o conceito de gênero. É um livro que em grande medida, radicaliza a pergunta: é o feminismo um humanismo? A questão fará parte do legado do pensamento queer e será discutida por Paul B. Preciado no seu Manifesto contrassexual (primeira edição em 2004).

Por esse fio condutor, o pensamento feminista que circula entre a Europa e os Estados Unidos – com forte influência no Brasil – participa de uma das formas de crítica à violência colonial, qual seja, a de apontar a restrição do conceito de humano e suas consequências.

18/11 | sex | 19h
Maria Lugones e a crítica ao pensamento colonial, com a filósofa Maria Clara Dias 
Neste terceiro encontro, Maria Clara Dias apresenta as principais contribuições de Maria Lugones para a consolidação de um feminismo decolonial e, a partir desta matriz de pensamento, apresenta uma perspectiva de justiça capaz de romper com diversas formas de opressão, entre elas, a opressão especista. Para isso, aborda o debate de Lugones com Anibal Quijano, apresentando a expansão proposta pela autora à perspectiva decolonial – a crítica à colonialidade de gênero –, e as contribuições de Julie Greenberg, Oyèrónké ̣Oyěwùmí e Paula Gunn Allen para sua defesa de um feminismo decolonial, interseccional. Para concluir, acrescenta as formas de opressão elencadas pela autora.

22/11 | ter | 19h
O impacto das Filósofas: das reivindicações à conquista de direitos, com a curadora da série Nastassja Pugliese
Reconstruir a história da filosofia a partir das contribuições das mulheres filósofas é tanto uma questão de fato quanto uma questão de direito. A existência de mulheres na filosofia, de obras escritas por mulheres na história da filosofia, é uma questão de fato porque mulheres produziram filosofia ao longo da história, escreveram textos filosóficos sobre questões filosóficas tradicionais e não-tradicionais utilizando diversos estilos e todo o tipo de argumento. Mas estudar, conhecer, ensinar obras escritas por mulheres na história da filosofia é também uma questão de direito. Enquanto mulheres e estudantes, temos direito de saber sobre a nossa própria história e as causas de nossa atual condição. Temos direto à memória e ao pertencimento. E isso passa por saber como era a vida de outras mulheres intelectuais que vieram antes de nós na história.

Neste último encontro, a curadora da série, a filósofa Nastassja Pugliese procura mostrar o impacto da obra das filósofas para a história da filosofia e para a conquista de direitos, afirmando a necessidade de um fortalecimento das políticas de memória voltadas para a contribuição das mulheres intelectuais. Para isso, ela apresenta um projeto de resgate das obras das mulheres filósofas, voltando a atenção para as reivindicações do protofeminismo, ou seja, do momento anterior ao estabelecimento do feminismo como movimento. Assim, revisita o iluminismo europeu e as contribuições de Olympe des Gouges, da anônima Sophia e da inglesa Mary Wollstonecraft e também aborda as reverberações destas reivindicações no Brasil do século 21, com Nísia Floresta e as mulheres do chamado iluminismo brasileiro.

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Filosofia, substantivo feminino 
Onde:
estúdio de gravação do Café Filosófico CPFL, no Instituto CPFL
Endereço: Jorge Figueiredo Corrêa, 1632, Chácara Primavera, Campinas/SP
Quando: 03 (quinta-feira), 10 (quinta-feira), 18 (sexta-feira), e 22 (terça-feira) de novembro, às 19h
Classificação:
14 anos
Ingressos: Entrada gratuita, por ordem de chegada, a partir das 18h
Transmissão ao vivo em youtube.com/cafefilosofico