Café Filosófico
22
nov

o impacto das filósofas: das reivindicações à conquista de direitos, com nastassja pugliese

  • instituto cpfl e youtube do café
  • 19:00

22/11 | ter | 19h | inédito
o impacto das filósofas: das reivindicações à conquista de direitos
com nastassja pugliese, professora de filosofia  

reconstruir a história da filosofia a partir das contribuições das mulheres filósofas é tanto uma questão de fato quanto uma questão de direito. a existência de mulheres na filosofia, de obras escritas por mulheres na história da filosofia, é uma questão de fato porque mulheres produziram filosofia ao longo da história, escreveram textos filosóficos sobre questões filosóficas tradicionais e não-tradicionais utilizando diversos estilos e todo o tipo de argumento. mas estudar, conhecer, ensinar obras escritas por mulheres na história da filosofia é também uma questão de direito. enquanto mulheres e estudantes, temos direito de saber sobre a nossa própria história e as causas de nossa atual condição. temos direto à memória e ao pertencimento. e isso passa por saber como era a vida de outras mulheres intelectuais que vieram antes de nós na história. 

 nesta fala,  pretendo mostrar o impacto da obra das filósofas para a história da filosofia e para a conquista de direitos, afirmando a necessidade de um fortalecimento das políticas de memória voltadas para a contribuição das mulheres intelectuais. farei isso apresentando o projeto de resgate das obras das mulheres filósofas, voltando a atenção para as reividicações do protofeminismo, ou seja, do momento anterior ao estabelecimento do feminismo como movimento. assim, revisitaremos o iluminismo europeu e as contribuições de olympe des gouges, da anônima sophia e da inglesa mary wollstonecraft e terminarei mostrando as reverberações destas reividicações no brasil do século xix com nísia floresta e as mulheres do chamado iluminismo brasileiro.

série: filosofia, substantivo feminino
curadoria: nastassja pugliese 

a história da filosofia como conhecemos nas antologias é marcada por inúmeras exclusões, sendo as mais marcantes aquelas de gênero, raça e localidade geográfica. recentemente a atenção de pesquisadoras tem se voltado para reparar este estigma limitante da prática filosófica, resgatando obras escritas por filósofas ao longo da história, e fazendo aparecer nomes importantes como: aspásia de mileto, temistocléia, hipátia de alexandria, cleobulina de rodes, lastênia de mantinéia, hidelgarda de bingen, cristine de pizan, heloisa, catariana de siena, oliva sabuco, teresa d’ávila, túlia d’aragona, sor juana inés de la cruz, ana van schurman, lucrécia de marinela, princesa elisabeth de boêmia, mary astell, anne conway, margareth cavendish, damaris marsham, emilie du châtelet, mary wollstonecraft, anna julia cooper, nísia floresta, francisca senhorinha da mota diniz, maria firmina dos reis, josefina álvarez de azevedo, simone de beauvoir, bell hooks, maria lugones, judith butler, oyèrónké ̣oyěwùmí. ou seja,  com o olhar atento para os arquivos e bibliotecas procurando obras representativas, conclui-se, por evidências concretas, que mulheres sempre filosofaram. a presença silenciosa ao longo da história é, então, denunciada como uma ausência gritante — nos livros, nas antologias e nas narrativas filosóficas de modo geral.
para contextualizar o projeto de resgate das mulheres filósofas e os resultados transformadores que estão sendo alcançados, apresentaremos as contribuições de filósofas de diferentes contextos culturais e sociais e o debate sobre a construção do cânone da história da filosofia. começaremos com o impacto da filosofia de bell hooks para a educação, mostrando como a reflexão sobre a raça como marcador social transforma o campo teórico e a experiência educacional. depois teremos um debate sobre o conceito de mulher, marcadamente levantado por simone de beauvoir, para tratarmos da questão: de quem falamos quando falamos de mulheres pensadoras? na terceira palestra, refletiremos sobre a natureza da história da filosofia em uma reflexão sobre sua atualidade, o cânone e o lugar das mulheres filósofas na tradição. finalmente, o pensamento da filósofa latino-americana maria lugones será introduzido a partir de sua crítica à colonialidade, mostrando como essa crítica contribui para a expansão do conceito de justiça. 
a proposta do módulo é (1) mostrar como a obra das mulheres filósofas é inserida em um debate histórico, (2)  mostrar a importância das obras de filósofas de diferentes contextos e culturas e (3) mostrar como a produção de conhecimento filosófico feita por mulheres, têm efeitos positivos, tanto na filosofia quanto para além dela.