gravação: masculinidades e violência(s), com isabela venturoza
- instituto cpfl e youtube do café
- 19:00
29/08 | qui | 19h
Masculinidades e violência(s)
Com Isabela Venturoza, atropóloga
O que significa ser homem? Há apenas uma resposta a essa pergunta? E há uma que seja de fato suficiente? Na atualidade, múltiplos são os discursos que buscam responder a essa questão. Os mais atentos irão perceber que apesar da insistência de modelos tradicionais, o que é “ser homem” está em disputa. E mais do que isso: o que é ser homem não guarda uma resposta única. Apesar disso, há algo de persistente quando interrogamos masculinidades: uma relação de intimidade entre os homens e múltiplas formas de violência. Isto não quer dizer que os homens sejam intrinsecamente violentos, como um dado que advém da natureza. No lugar, podemos compreender que, ao longo da história, em diferentes arranjos os significados de “ser homem” foram entrelaçados a formas de violência, não apenas contra as mulheres, mas também entre os próprios homens. Nesse contexto, poder e subjugação se tornaram componentes que complexificaram as análises sobre as relações de gênero, principalmente a partir de um ponto de vista interseccional. Neste café, então, convidamos a uma reflexão sobre masculinidades e violência, quem sabe traçando linhas de fuga para que sua relação não seja um dia tão naturalizada.
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Sobre a série: O que é ser homem? Cartografar as masculinidades
Curadoria: Pedro Ambra
Para grande parte da população, a masculinidade é um simples efeito psíquico de um dado anatômico e hormonal. Mais ainda, ser homem estaria natural e incontornavelmente associado a uma série de estereótipos como atividade, força física, determinação e dominância, (hetero)sexualidade exacerbada, maior aptidão para funções públicas e cargos de liderança. Ao mesmo tempo a vivência quotidiana de bilhões de homem ao redor do mundo revela que há algo de podre no reino da masculinidade hegemônica: a supressão de emoções, promoção de violências dos mais variados tipos, sofrimentos mentais silenciados, desconexão com o próprio corpo, descaso com a própria saúde entre outros. Deve-se sublinhar, contudo, que estes não são traços naturais intrínsecos daqueles que costumamos chamar de homens: história, sociologia, antropologia, filosofia, psicologia, medicina e a própria biologia parecem fornecer cada vez mais provas que não há uma essência masculina, mas discursos que constituem identidades. Pensar a masculinidade é, na atualidade, um desafio não apenas na superação dos efeitos violentos do patriarcado sobre as mulheres, mas também na explicitação das multiplicidades dos paradoxos próprios das experiências vividas por homens. Ainda que inegáveis avanços na igualdade de gênero tenham ocorrido nas últimas décadas, a assimetria material e simbólica entre homens e mulheres — e seus efeitos no campo do gênero e de sexualidades dissidentes —, permanece e encontra novas roupagens discursivas, como o chamado “masculinismo”, os “incels”, e toda a tônica de conservadorismo nos costumes oriundas das novas direitas em escala global. Ao mesmo tempo, as experiências transmasculinas, movimentos de desconstrução e questionamento do ideário viril e reflexões da espessura racial, de classe e etária da masculinidade tensionam o empuxo à uma ilusão totalitária de um retorno ao passado de domínio masculino total. Nossa proposta neste módulo é cartografar as principais tensões que pautam a subjetivação de novas (e velhas) masculinidades no Brasil e no mundo.