Café Filosófico
06
ago

gravação: cartografias da masculinidade, com pedro ambra

  • instituto cpfl e youtube do café
  • 19:00

06/08 | ter | 19h
Cartografias da masculinidade

Com Pedro Ambra, doutor em psicologia social

Nesta palestra discutiremos as articulações entre as experiências subjetivas da masculinidade e suas constituições sociais. A ideia de que a masculinidade estaria em crise será analisada à luz da ideia de “mito viril”, que é basilar tanto no inconsciente de homens quanto na própria narrativa moderna sobre a masculinidade perdida do passado. A heterossexualidade pressuposta na masculinidade que se contrapõe tanto a mulheres quanto à população LGBTQIA+ produz uma espécie de apagamento da própria identidade masculina, que se confunde com o universal do sujeito. O distanciamento dos homens da própria reflexão sobre sua masculinidade não é apenas um viés subjetivo e filosófico, mas tem impacto político em discursos masculinistas de ressentimento, como os incels, no campo da saúde coletiva com as dificuldades de aderência da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) e formas de sofrimento mental específicas desta população.

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Sobre a série: O que é ser homem? Cartografar as masculinidades
Curadoria: Pedro Ambra

Para grande parte da população, a masculinidade é um simples efeito psíquico de um dado anatômico e hormonal. Mais ainda, ser homem estaria natural e incontornavelmente associado a uma série de estereótipos como atividade, força física, determinação e dominância, (hetero)sexualidade exacerbada, maior aptidão para funções públicas e cargos de liderança. Ao mesmo tempo a vivência quotidiana de bilhões de homem ao redor do mundo revela que há algo de podre no reino da masculinidade hegemônica: a supressão de emoções, promoção de violências dos mais variados tipos, sofrimentos mentais silenciados, desconexão com o próprio corpo, descaso com a própria saúde entre outros. Deve-se sublinhar, contudo, que estes não são traços naturais intrínsecos daqueles que costumamos chamar de homens: história, sociologia, antropologia, filosofia, psicologia, medicina e a própria biologia parecem fornecer cada vez mais provas que não há uma essência masculina, mas discursos que constituem identidades. Pensar a masculinidade é, na atualidade, um desafio não apenas na superação dos efeitos violentos do patriarcado sobre as mulheres, mas também na explicitação das multiplicidades dos paradoxos próprios das experiências vividas por homens. Ainda que inegáveis avanços na igualdade de gênero tenham ocorrido nas últimas décadas, a assimetria material e simbólica entre homens e mulheres — e seus efeitos no campo do gênero e de sexualidades dissidentes —, permanece e encontra novas roupagens discursivas, como o chamado “masculinismo”, os “incels”, e toda a tônica de conservadorismo nos costumes oriundas das novas direitas em escala global. Ao mesmo tempo, as experiências transmasculinas, movimentos de desconstrução e questionamento do ideário viril e reflexões da espessura racial, de classe e etária da masculinidade tensionam o empuxo à uma ilusão totalitária de um retorno ao passado de domínio masculino total. Nossa proposta neste módulo é cartografar as principais tensões que pautam a subjetivação de novas (e velhas) masculinidades no Brasil e no mundo.