gravação: afeto e potência: indivíduo e coletividade, com cristina rauter
- instituto cpfl e youtube do café
- 19:00
11/05 | qui | 19h
Afeto e potência: indivíduo e coletividade
Com Cristina Rauter, professora titular do programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFF, Doutora em Psicologia pela PUC-SP, com pós-Doutorado em Filosofia pela Université d’Amiens, pela Universidade de Coimbra e pela UFRJ.
Afeto para Spinoza é variação de potência, sendo essa variação efeito dos encontros de corpos: os afetos não dizem respeito ao que se passa “dentro” mas a um fora de nós mesmos, aos encontros, à nossa vida prática. Spinoza traz, assim, a possibilidade de pensar simultaneamente clínica e política, pois os afetos dizem respeito tanto à vida social quanto à individual. A vida coletiva amplia nossa capacidade de conhecer, o que nos leva a pensar que para Spinoza a razão está também ligada à potência do coletivo. Os afetos tristes, por outro lado, correspondem à diminuição de nossa potência. A dominação através da produção de afetos tristes, como a difusão do medo, caracteriza, para Spinoza, todos os governos. No Brasil a produção de afetos tristes através do medo esvazia nossa vida social e nos divide, e essa divisão enfraquece nossa capacidade de formarmos, enquanto um país, “um só corpo e uma só mente”, o que levaria a uma maior potência de pensar e agir e de solucionar os problemas que são prejudiciais a todos.
> Entrada gratuita no estúdio do Café, por ordem de chegada, a partir das 18h. Rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632, Chácara Primavera, Campinas/SP.
Série:
O poder dos afetos – uma visão filosófica e psicanalítica
Qual a importância do autoconhecimento de nossos afetos, de como eles funcionam em nosso psiquismo singular? Estamos em contato direto com todo tipo de emoção em nosso dia a dia, seja no trânsito, nas redes sociais, nos entretenimentos ou em nossas relações pessoais. O que anda à flor da pele? Que tipo de afeto nos move? E quais nos paralisam? Como lidar melhor com os afetos em nossa vida, favorecendo o bem-estar psíquico, a criatividade, o amor à existência, e a vontade de seguir em frente na busca de realizações? É possível entender aquilo que nos entristece e que retira a nossa energia, transformando-o assim em força para o contrário?
Afetos não são sentimentos que existem em algum lugar em um mundo das ideias, aos quais acessamos de maneira mais plena ou menos inteira. Afetos são maneiras de se afetar. Interagimos no mundo, com os outros, com os ambientes, com os acontecimentos, e sentimos porque nos afetamos. É impossível não nos afetarmos, pois é impossível não interagirmos com nosso entorno, que afinal de contas nos constitui, nos dá contorno, e a partir do qual nos moldamos.
Existem três autores em particular, nomes maiores da história do pensamento, que nos oferecem ferramentas conceituais que esclarecem de maneira luminosa o funcionamento de nossos afetos, nossa psicodinâmica. Spinoza, um pensador de vanguarda hoje, no século XXI, mesmo tendo escrito no século XVII, nos mostra que só conhecemos porque nos afetamos e através dos afetos, e que o próprio afeto é um pensamento. Winnicott, no século XX, nos faz ver, também de maneira inequívoca, o quanto nossas experiências na primeira infância com nosso ambiente inicial, a começar pelo núcleo familiar, constrói uma base para bons e maus afetos. No século XIX, Nietzsche dinamita a quimera da filosofia metafísica, expondo a ferida aberta de que a epistemologia que separa mundo sensível de mundo inteligível e deprecia a corporeidade e os afetos nada mais é do que um sintoma afetivo – que Winnicott entenderá como uma defesa psíquica, e Spinoza nomeará delirium.
Neste módulo, que comemora o 20º aniversário do Café Filosófico, trazemos quatro pesquisadores e pensadores que trabalham com Spinoza e com Winnicott, se valendo também de Nietzsche, para analisar o poder dos afetos. Dos afetos negativos, que nos tiram a potência de agir – ressentimento, culpa, ódio, medo, angústia… que levam à drogadição e à depressão, por exemplo. Dos afetos positivos, que aumentam nossa potência de agir – alegrias ativas, paixão como entusiasmo, amizade… que trazem a criatividade, a força afirmativa da vida em suas dores e delícias, a inspiração.