Café Filosófico
10
nov

existe um conceito universal de mulher? – um debate a partir de simone de beauvoir, com carla rodrigues

  • instituto cpfl e youtube do café
  • 19:00

10/11 | qui | 19h | inédito 
existe um conceito universal de mulher? – um debate a partir de simone de beauvoir
com carla rodrigues, filósofa

o percurso do pensamento feminista que pretendo apresentar começa em 1949, com a publicação de o segundo sexo, livro em que simone de beauvoir está, entre outras questões, interrogando o que a filosofia oferecia como roteiro de subjetivação para as mulheres até ali. com ela, o feminismo questiona o conceito de sujeito universal abstrato – e, nesse caso, torna-se um marco inaugural da crítica ao humanismo que toma conta do pensamento francês dos anos 1960 -, e nos lega um problema, bem expresso por judith butler décadas depois: tornar-se mulher é tornar-se parte do conceito de sujeito universal abstrato? existe um conceito universal de mulher? 
esta segunda pergunta mobilizou muitas autoras feministas nos anos 1970 e 1980, marcados por esse problema que antecede e cria o espírito do tempo sintetizado por butler em “problemas de gênero – feminismo e subversão da identidade”, em 1990. ali, ao mesmo tempo que em se vale do debate que a precede, a filósofa abre a possibilidade de que sujeitxs possam ter a sua existência reconhecida, em um movimento que tanto se vale quanto critica o conceito de gênero. é um livro que em grande medida, radicaliza a pergunta: é o feminismo um humanismo? a questão fará parte do legado do pensamento queer e será discutida por paul b. preciado no seu “manifesto contrassexual” (primeira edição em 2004). 
por esse fio condutor, o pensamento feminista que circula entre a europa e os Estados Unidos – com forte influência no brasil – participa de uma das formas de crítica à violência colonial, qual seja, a de apontar a restrição do conceito de humano e suas consequências.

série: filosofia, substantivo feminino
curadoria: nastassja pugliese 

a história da filosofia como conhecemos nas antologias é marcada por inúmeras exclusões, sendo as mais marcantes aquelas de gênero, raça e localidade geográfica. recentemente a atenção de pesquisadoras tem se voltado para reparar este estigma limitante da prática filosófica, resgatando obras escritas por filósofas ao longo da história, e fazendo aparecer nomes importantes como: aspásia de mileto, temistocléia, hipátia de alexandria, cleobulina de rodes, lastênia de mantinéia, hidelgarda de bingen, cristine de pizan, heloisa, catariana de siena, oliva sabuco, teresa d’ávila, túlia d’aragona, sor juana inés de la cruz, ana van schurman, lucrécia de marinela, princesa elisabeth de boêmia, mary astell, anne conway, margareth cavendish, damaris marsham, emilie du châtelet, mary wollstonecraft, anna julia cooper, nísia floresta, francisca senhorinha da mota diniz, maria firmina dos reis, josefina álvarez de azevedo, simone de beauvoir, bell hooks, maria lugones, judith butler, oyèrónké ̣oyěwùmí. ou seja,  com o olhar atento para os arquivos e bibliotecas procurando obras representativas, conclui-se, por evidências concretas, que mulheres sempre filosofaram. a presença silenciosa ao longo da história é, então, denunciada como uma ausência gritante — nos livros, nas antologias e nas narrativas filosóficas de modo geral.
para contextualizar o projeto de resgate das mulheres filósofas e os resultados transformadores que estão sendo alcançados, apresentaremos as contribuições de filósofas de diferentes contextos culturais e sociais e o debate sobre a construção do cânone da história da filosofia. começaremos com o impacto da filosofia de bell hooks para a educação, mostrando como a reflexão sobre a raça como marcador social transforma o campo teórico e a experiência educacional. depois teremos um debate sobre o conceito de mulher, marcadamente levantado por simone de beauvoir, para tratarmos da questão: de quem falamos quando falamos de mulheres pensadoras? na terceira palestra, refletiremos sobre a natureza da história da filosofia em uma reflexão sobre sua atualidade, o cânone e o lugar das mulheres filósofas na tradição. finalmente, o pensamento da filósofa latino-americana maria lugones será introduzido a partir de sua crítica à colonialidade, mostrando como essa crítica contribui para a expansão do conceito de justiça. 
a proposta do módulo é (1) mostrar como a obra das mulheres filósofas é inserida em um debate histórico, (2)  mostrar a importância das obras de filósofas de diferentes contextos e culturas e (3) mostrar como a produção de conhecimento filosófico feita por mulheres, têm efeitos positivos, tanto na filosofia quanto para além dela.