06
mar
até
29
abr

café filosófico cpfl de março e abril aborda clássicos da literatura universal e sua relação com temas do cotidiano

  • 19:00

CPFL Cultura promove ciclo de palestras sobre clássicos da literatura universal

Jose Alves

o curador do módulo: josé alves de freitas neto

Sob a curadoria do professor de História José Alves de Freitas Neto, da Unicamp, o módulo os clássicos da literatura e o cotidiano pretende estimular a reflexão sobre o mundo contemporâneo a partir da obra de Maquiavel, Cervantes, Thomas Hobbes, Shakespeare, Flaubert, Jorge Luiz Borges, Mário de Andrade e Clarice Lispector. Entre os palestrantes estarão nomes como José Miguel Wisnik, Noemi Jaffe, Leandro Karnal e Margareth Rago

A proposta do ciclo é abordar obras filosóficas e literárias marcantes da cultura ocidental e estabelecer vínculos com temáticas do cotidiano. Definir uma obra como “clássica” é um exercício ambíguo, pois ao mesmo tempo em que a referência a obras canônicas é elucidativa e produz um reconhecimento quase que imediato da envergadura dos autores e títulos, há a questão que a precede: por que elas tornaram-se referentes do modo de pensar, de explicar e de problematizar seu tempo e ultrapassaram as barreiras cronológicas e dos lugares em que emergiram? A resposta não é simples e nem é o que se propõe a discutir neste ciclo do Café Filosófico CPFL.

O objetivo não é discutir o aspecto do clássico, mas reconhecer que as obras que compõem este ciclo são marcadas por, ao menos, dois aspectos centrais: a originalidade e a universalidade das questões que são propostas. A partir deste aspecto, as releituras e as abordagens devem ser feitas a partir de questões que envolvem o cotidiano e que nos provocam a pensar em nossa vida contemporânea.

O módulo é um convite à reflexão sobre aspectos como a aversão ao mundo da política (Maquiavel), a questão do tédio e a ruptura feminina a modelos prévios (Flaubert), a crise dos sonhos e das expectativas heroificadas (Cervantes), a atração pela força e pela lógica da punição (Hobbes), as indefinições e os processos labirínticos do cotidiano (Borges), a imagem de um país e suas crises éticas (Mário de Andrade) e o exercício de pensar que o mundo é um grande palco (Shakespeare).

As obras escolhidas, produzidas entre os séculos XVI e XX, acompanham a emergência do mundo moderno e as questões sobre a autonomia dos indivíduos e seus paradoxos. As obras e os autores marcam o nosso modo de pensar e seguem atuais por instigar questões que podem ser reposicionadas na atualidade. Este aspecto do diálogo entre o presente e o passado é fundamental em um “clássico”. O desafio dos palestrantes é elucidar aspectos do nosso cotidiano em torno do que foi sugerido pelos clássicos.

06/03 | sex | 19h

O Príncipe e a Mandrágora de Maquiavel e a capacidade de enganar-se

Com José Alves de Freitas Neto, historiador e professor da Unicamp

A Mandrágora, obra escrita para o teatro por Maquiavel, aborda as principais temáticas relacionadas às obras do pensador florentino. Transposta para o campo da vida privada, as discussões sobre o cumprimento das normas, a capacidade de burlar regras, a perseguição de objetivos que produzam a glória e, ao mesmo tempo, as dificuldades morais que são postas a cada escolha concreta. Num texto ágil e bem humorado, Maquiavel nos adverte sobre nossos limites éticos e sobre a capacidade humana de enganar-se. O engano. sem moralismos, pode ser desejado e produzir alegrias diante dos resultados. A lógica dos fins e meios passa a ser discutida numa esfera particular e não apenas na dimensão política e pública.

13/03 | sex | 19h

As Ficções de Borges e os labirintos dos livros e do cotidiano

Com Júlio Pimentel Pinto, historiador e professor da USP

O universo borgeano é o espaço das leituras e releituras, produzindo espaços de um universo que nem sempre pode ser mapeado ou circunscrito a processos históricos e literários. Cada trecho no ato de ler, cada reinvenção é do leitor, mas também dos aspectos que fazemos do universo ao redor onde por mais que se pretenda a linearidade, mais as pessoas se encontram enredadas em seus próprios labirintos.

20/03 | sex | 19h

Dom Quixote de Cervantes e a crise dos sonhos

Com Janice Theodoro, professora da USP e da UNILA

Ser adjetivado como “quixotesco” é um dos motes para pensar as circunstâncias do fidalgo que quer transformar o ideal em realidade. A força imaginativa é confrontada e representada como loucura. O traço heroico e idealista é um espaço para humanizar-se e para descobrir outros aspectos da vida cotidiana e as crises que enfrentamos na capacidade de ousar diante da realidade que se impõe.

27/03 | sex | 19h

Leviatã de Hobbes e as lógicas da força e da punição

Com Yara Frateschi, doutora em letras e professora de Ética da Unicamp

A descrição da guerra total, do enfrentamento entre sujeitos e a adesão a um modelo de governo que tem em suas mãos a espada e o báculo, o poder militar e o religioso, para assegurar o direito à vida é um aspecto que nutre soluções imediatas e de apelo ao rigor da punição nos tempos atuais. O modelo da relação entre indivíduo e Estado é marcado pela ausência da sociedade como corpo constitutivo e, ao mesmo tempo, problemático e de difícil harmonização. A questão a ser enfrentada é: por mais que se critique a lógica da força do Estado não existe um sentimento latente para que ele puna e castigue o outro e seus comportamentos diferentes?

10/04 | sex | 19h

Madame Bovary de Flaubert e as tiranias da intimidade

Com Margareth Rago, historiadora e professora da Unicamp

Madame Bovary, polêmico romance de Gustave Flaubert, publicado em 1857, problematiza o incômodo da mulher burguesa em relação ao confinamento na esfera da vida privada e ao ideal de abnegação e total dedicação à vida familiar. Desconfortável nessa situação que considera monótona, entediante, Emma Bovary busca saídas na leitura e na experiência do adultério, transgredindo a moral sexual de sua época e desafiando a ideologia da domesticidade, que se impõe, na Europa, desde o início do século XIX, legitimada pelo discurso científico da Medicina e pela religião. A obra permite pensar a sexualidade feminina nesse contexto de valorização da ideologia da domesticidade, de confinamento da mulher no lar e no privado (de privação!). O modelo da família nuclear, fechando-se sobre si mesma e do cinzento das relações de gênero no cotidiano da família e do casamento, será redimensionado com a protagonista que abre uma linha de fuga para a liberdade, a aventura, a experiência de emoções intensas para as mulheres.

17/04 | sex | 19h

A legião estrangeira de Clarice Lispector e o efeito do estranhamento

Com Noemi Jaffe, escritora e crítica da Folha de S. Paulo.

Ler Clarice vai além do ato da leitura: sua narrativa desestabiliza o leitor, provocando reações diversas na esfera psíquica. A proposta aqui é compreender não apenas os contos, seu estilo e seus símbolos, tão próprios da autora, mas a reação que eles causam em cada um de nós, ao se aproximar ou talvez se distanciar tanto de nossas vidas e conflitos cotidianos.

24/04 | sex | 19h

Hamlet de Shakespeare e o mundo como palco

Com Leandro Karnal, historiador e professor da Unicamp

Hamlet é aquele personagem capaz de refletir sobre si próprio, na interação com os outros e, a partir daí, modifica sua maneira de pensar e de agir.  Hamlet expõe um conjunto de valores marcado pela ironia e pela inteligência apaixonada e nos lança num simulacro de dilemas sobre o que somos.

29/04 | qua | 19h

Macunaíma de Mário de Andrade e o enigma do herói às avessas

Com José Miguel Wisnik, doutor em teoria literária e professor da USP

Vista superficialmente ora de modo positivo, ora negativo, a figura de Macunaíma é de uma ambivalência profunda e agônica no pensamento e no sentimento de Mário de Andrade. O herói sem nenhum caráter (termo complexo que tem aqui mais de um sentido) está ligado às agruras de um país que, se se moderniza, deixa de ser Brasil, e que, se continua a ser Brasil, não se moderniza. Para além disso, o dilema se coloca no quadro mais geral de uma reflexão fabulosa sobre o mal estar na civilização.

Curador:

José Alves de Freitas Neto é professor no Departamento de História na Unicamp. Pesquisador de temas relacionados à política e cultura é autor de Bartolomé de Las Casas: a narrativa trágica, o amor cristão e a memória americana e coautor de A Escrita da memória e História Geral e do Brasil.

Palestrantes:

Janice Theodoro é professora titular pela Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Integração Latino-americana (UNILA). Autora de, entre outros, América Barroca: temas e variações, Descobrimento e Colonização, e de diversos artigos e capítulos de livro na área de História com ênfase no período colonial americano.

Margareth Rago é professora titular no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Algumas de suas obras são Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar. Brasil, 1890-1930; Os Prazeres da Noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo, 1890-1930, Entre a História e a Liberdade: Luce Fabbri e o anarquismo contemporâneo e A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade.

Júlio Pimentel Pinto é professor no Departamento de História da USP e autor, entre outros, de “Uma memória do mundo”, “Ficção, memória e história em Jorge Luis Borges”, de 1998, e “A leitura e seus lugares”, de 2004. Também é o editor do blog “Paisagens da Crítica”.

Leandro Karnal é historiador e professor na Unicamp. Conferencista e autor de diversos títulos, entre os quais, Pecar e perdoar; Teatro da Fé; Conversas com um jovem professor. Foi curador de exposições e tem sido colaborador frequente em O Estado de São Paulo e na TV Cultura.

Yara Frateschi é professora de Ética e Filosofia Política na Universidade Estadual de Campinas desde 2004. É autora de A Física da Política: Hobbes contra Aristóteles, bem como de artigos e capítulos de livros sobre Aristóteles, Thomas Hobbes, John Locke e Hannah Arendt.

Noemi Jaffe é escritora e doutora em Literatura Brasileira, pela USP, autora de, entre outros, A Verdadeira História do Alfabeto, O que os cegos estão sonhando, Quando nada está acontecendo, Folha explica Macunaíma (Publifolha, 2001) e atua como crítica no jornal Folha de S.Paulo.