03/06 | ter | 19h | Invenção do Contemporâneo: Exploração Sustentável de Florestas Tropicais, com Roberto Waack
- 19:00
A floresta, de pé, tem mais valor
Roberto Waack, palestrante do Invenção do Contemporâneo de terça-feira, 03/06, diz que a devastação não tem impacto apenas no meio ambiente, mas também na imagem das empresas que consomem os produtos extraídos de maneira irresponsável
O Brasil passa por uma mudança de mentalidade em relação à exploração da floresta. Se antes o desmatamento e as atividades ilegais estavam associados à busca do lucro a qualquer preço, hoje há uma ideia, cada vez mais difundida, de valor associado à preservação da mata – seja para a extração sustentável de riquezas, para comercialização de madeira e produtos como castanha e guaraná, seja para o equilíbrio climático e pluvial nas áreas de plantio a quilômetros da área devastada. Hoje a atividade devastadora não tem impacto apenas no meio ambiente, mas também na imagem das empresas que consomem os produtos extraídos de maneira irresponsável, o que eleva a demanda por produtos monitorados e certificados.
Apesar das mudanças, os desafios ainda são grandes, avalia o biólogo Roberto Silva Waack, fundador da Amata S.A, a primeira companhia do País a receber a concessão de uma área pública de floresta tropical para exploração comercial. Waack será o palestrante do programa Invenção do Contemporâneo que será gravado na terça-feira, 03/06, às 19horas, com transmissão ao vivo no site cpflcultura.com.br/aovivo.
A palestra é parte da programação especial do Instituto CPFL para a Semana do Meio Ambiente. “Hoje de 3% a 5% do mercado é suprido por madeira 100% rastreada. O sistema de concessão pública trouxe para a formalidade algumas empresas, cerca de dez, mas o numero ainda é muito pequeno perto do mercado total”, afirma o biólogo, que é também integrante de conselhos de organizações dos projetos EPC/FGV (Empresas pelo Clima da Fundação Getúlio Vargas).
Apesar dos desafios, o especialista diz observar mudanças significativas no ambiente para negócios com produtos rastreados. “Hoje é possível saber o que acontece na Amazônia, e, com isso, a vida do madeireiro ilegal começou a ser sufocada. O controle aumentou muito, mas não adianta só sufocar. É preciso garantir alternativas.”
Waack conversou com o Instituto CPFL um dia antes de sua apresentação. Confira os principais trechos da entrevista:
– Em 2008, a Aamata se tornou a primeira empresa a receber a concessão de uma área pública de floresta nacional para exploração comercial no Brasil. Gostaria que o sr. falasse sobre essa experiência?
– O que a gente percebe é que há uma mudança grande no cenário de fornecimento de madeira no Brasil. Essa atividade migra para a formalização. O mercado demanda madeira e outros produtos, como a soja, com origem rastreada. A vida dos madeireiros ilegais ficou muito difícil. A Amata participa desse processo de formalização do setor.
– Qual o balanço desse período?
– O balanço é que a velocidade da entrada desses produtos certificados no mercado não é tão alta como deveria. Isso demanda um processo. Hoje temos de 3% a 5% do mercado suprido por madeira 100% rastreada. O sistema de concessão pública trouxe para a formalidade cerca de dez novas empresas. O número ainda é muito pequeno perto do mercado total.
– É possível dizer que a mentalidade está mudando?
– Sim, principalmente em ambientes de negócios. Mas isso não se muda de uma hora pra outra. Hoje temos um milhão de hectares em processo de concessão em um universo de 30 milhões.
– De que maneira as operações policiais na Amazônia no fim da última década aceleraram essas mudanças?
– Houve um marco a partir de 2005, quando foram definidas as ações para monitorar o que acontecia com a madeira da Floresta Amazônica. Essas ações resultaram na redução do desmatamento e na instrumentalização do controle via monitoramento de satélite. Nessa etapa, era preciso saber o que acontecia na Amazônia e, com isso, sufocar o madeireiro ilegal. Desde então o controle aumentou muito. As ações da Polícia Federal acontecem dentro desse contexto. Mas não adianta só sufocar. É preciso dar alternativas.
– Quais os desafios hoje?
– Temos um longo caminho pela frente. Um dos desafios é continuar o processo para transformar a vida dos madeireiros ilegais em um inferno, com campanhas duras do Greenpeace, do Ministério Público e com a demanda de empresas de construção civil preocupadas com a sua reputação. Mas o sistema de monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do (instituto) Amazon é fantástico. Acontece que o sistema para burlar a lei começa também a se sofisticar. Antes o problema era a madeira ilegal, hoje é a madeira ilegal com documento originado a partir da corrupção nos estados. Surgiu assim um mercado de autorização de manejo, que começa por quem dá origem ao documento. Isso está sendo detectado e monitorado por ONGs e pelo Ministério Público. Esse é o desafio.
– Como isso pode ser resolvido?
– Em breve todas as operações de manejo terão de ser georreferenciadas. Hoje o que se tem é um olhar geral, agora será um zoom. É uma questão técnica, que permitirá uma observação com mais detalhes sobre a área.
– Quando se fala em produção de riqueza na floresta, fala-se apenas da extração madeira? Ou é possível extrair e comercializar outros produtos?
– O manejo permite a extração de um produto altamente demandado, a madeira, que tem um grande valor de mercado. Outro pilar é a demanda da sociedade em buscar na floresta uma diversidade de alimentos. O açaí, até pouco tempo atrás, era um produto desconhecido, e hoje tem em todo lugar, inclusive nos EUA e na Europa. O mesmo com produtos cosméticos. O terceiro pilar é a ideia de que a floresta é importante para o controle de emissão de gás carbono, do clima, das águas da chuva em regiões como o Centro Oeste, onde estão as áreas de plantio. O mundo caminha para a monetização dessas questões. Um exemplo disso é a fabricante de tênis Puma, que passou a estudar e publicar um balanço do impacto socioambiental das suas atividades. A empresa chegou a valores muito claros, auditados pela Price, dos danos causados a partir da compra de coro em áreas desmatadas. Isso hoje faz parte da ideia de contabilidade socioambiental, e isso muda a ideia do valor de floresta.
A partir de uma visão geral sobre florestas tropicais no planeta, será dado enfoque à floresta brasileira com caracterização geográfica, social e ambiental. A apresentação terá aprofundamento na economia florestal, com abordagem sobre operações e valores madeireiros, não madeireiros e serviços ambientais. Serão também destacados os principais desafios institucionais para a sua plena formalização e valorização.
Roberto Silva Waack é fundador da Amata S. A e presidente do seu Conselho Administrativo, membro de conselhos de organizações como FSC – Forest Stewardship Council, GRI – Global Reporting Initiative, Instituto Ethos, IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, FUNBIO – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, EPC/FGV – Empresas para o Clima da Fundação Getúlio Vargas e de outras organizações nacionais e internacionais relacionadas à sustentabilidade, mudanças climáticas e florestas. Foi presidente da Amata S. A., da Orsa Florestal e diretor de empresas farmacêuticas como Boehringer Ingelheim, Vallée e Pasteur Mérieux. Biólogo e mestre em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração e Economia da Universidade de São Paulo, com concentração na área da Nova Economia Institucional, tendo também realizado vários cursos de especialização no Brasil e exterior com foco em gestão estratégica, gestão tecnológica e marketing.
03/06 | ter | 19h
Especial semana do meio ambiente
Exploração Sustentável de Florestas Tropicais
Com Roberto Silva Waack, biólogo e mestre em administração de empresas pela FEA/USP e fundador da Amata S.A
local: instituto cpfl | rua jorge figueiredo corrêa, 1632, chácara primavera, campinas – sp;
data: 03/06/2014
horário: 19h;
capacidade: 180 lugares;
classificação etária: 14 anos;
transmissão online pelo cpflcultura.com.br/aovivo;
entrada gratuita, por ordem de chegada, a partir das 18h. vagas limitadas;
informações: cpfl cultura (19) 3756-8000 ou em www.cpflcultura.com.br