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Dialogar para se conhecer

A inovação artística não é possível sem uma dinâmica de inovação em todas as áreas da vida social. É por isso, escreve o musicólogo português Mário Vieira de Carvalho, que “a noção de interdisciplinaridade é tão premente, pois só o cruzamento dos mais variados saberes, abordagens e práticas pode induzir e potenciar uma estratégia de desenvolvimento baseada no espírito (ou na cultura) de inovação”.

É o caso, então, de perguntar junto com ele: será que o que chamamos de arte erudita terá esgotada a sua capacidade de sobrevivência? Ou, ao contrário, ela encontrará novas respostas dialéticas de resistência à crescente hostilidade do ambiente?

Carvalho formula assim esta questão fundamental: “Nesse outro arquipélago, que é o das diferentes esferas da vida social, não será indispensável – para que a comunidade humana continue a existir, transformando-se e prosseguindo a História – que a ilha da Arte sobreviva? Não será preciso que ela coexista, como ilha, com outras ilhas às quais acostamos, contribuindo para a dinâmica do arquipélago, resistindo à pressão da ilha do mercado – ominosa pressão essa que tende aceleradamente a fazer do todo social um só continente, por definição inavegável?”

À máxima conhece-te a ti mesmo, devemos acrescentar “mas não demasiado”, porque o indivíduo não deve entender-se a si mesmo como unidade simples, resolvida, completa, satisfeita. Antes, ao conhecer-se a si próprio, deve descobrir em si mesmo a mesma complexidade, a mesma variável e imprevisível geometria que formam a harmonia do arquipélago inteiro. Em outras palavras: conhecer-se é conhecer o outro. E isso vale não só para os indivíduos, mas sobretudo para as culturas e as artes.

E conhecer o outro é deixar-se contaminar por outras linguagens, em dois eixos básicos: horizontalmente, ou seja, cruzando as mais diversas linguagens atuais; e verticalmente, isto é, conversando criativamente com as linguagens do passado. É esta a meta do módulo “Diálogos”.