Democracia no limite – 4 maneiras de ir além do óbvio em política
É raro encontrar hoje em dia quem diga em público ser contra a democracia. Dizer isso pareceria tão grave quanto ser contra o amor ou contra a preservação da natureza. Mas, por trás dessa unanimidade, escondem-se conflitos e diferenças radicais. Porque é verdade que toda unanimidade é burra. Mas a burrice está em impedir que as divergências apareçam e que os conflitos se mostrem. Aliás, o nome mais adequado nem é burrice: é ideologia mesmo.
A ideia de apresentar a democracia nos seus limites é destravar esse mecanismo ideológico que esconde as diferenças. O limite é aquele momento em que “democracia” deixa de ser uma palavra piedosa para mostrar que se faz de conflito e no conflito, que a própria ideia de “democracia” é objeto de uma luta política.
Mas “no limite” significa também que as formas atuais das instituições democráticas parecem esgotadas e sem vitalidade. O outro lado da unanimidade é também desencanto e desesperança. O limite põe um aquém e um além. Nada garante que a luta política pela realização da democracia vá levar automaticamente a avanços sociais que a vivifiquem. Nem que não possa haver regressão sob vários aspectos.
Esse horizonte ambíguo do limite só se mostra para quem se põe a ver na democracia mais que um mero regime político, mais que uma simples forma de governar a sociedade. É um horizonte que só aparece para quem reconhece na democracia uma forma de vida, uma cultura política que molda o cotidiano e que produz o dissenso regrado de uma convivência conflituosa.