COP20: Peru
Lima será a sede da próxima Conferência do Clima. A proposta é representar toda a América Latina
Chiaki Karen Ta
A próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP20) será em Lima, no Peru, em novembro de 2014. Será mais perto, mais quente e, quem sabe, mais decisiva que a COP19 em Varsóvia, já que a COP20 ocorrerá às vésperas do novo acordo climático global a ser firmado em 2015, em Paris, com novas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para todos os países. Em teoria, será um acordo decisivo para tentar conter a eleva- ção da temperatura da superfície terrestre em 2 o C.
“Apresentamos nossa candidatura porque acreditamos que temos algo a mostrar”, disse Gabriel Quijandría, vice-ministro peruano de Desenvolvimento Estratégico para Recursos Naturais. Esse algo a mostrar, explicou, é a performance de um país que cresceu nos últimos 15 anos, procurando incorporar responsabilidade social e ambiental.
A ambição, porém é maior. O Peru quer se tornar uma referência internacional, assim como ocorreu com o México, que sediou a COP16 em Cancún, em 2010. Ao mesmo tempo, quer unir os vizinhos. “Não será uma COP ‘peruana’, será uma COP da América Latina. A região terá uma voz mais forte”, disse Quijandría.
Vai faltar água?
Quijandría foi um dos debatedores de uma série de conferências sobre negócios e mudanças climáticas realizadas em Varsóvia, promovida pelo WBCSD (Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável). Ele conversou com o Planeta Sustentável depois de participar de um painel sobre a situação do clima no mundo. Garantir acesso à água é uma grande preocupação para o Peru, explicou. A principal fonte desse recurso natural está nas geleiras localizadas no alto das montanhas. Apenas 2% da água resultante do derretimento do gelo corre para o lado do Pacífico, onde vivem 60% da população do país e onde não há chuvas em quantidade suficiente. Quase todo o restante vai para o outro lado, em direção à Amazônia, onde moram 10% dos habitantes. No entanto, o Peru perdeu 40% de suas geleiras, quando comparado com fotos aé- reas da década de 1950, afirmou o vice-ministro.
Entre outras iniciativas para enfrentar o risco de escassez de água, o governo peruano está conversando com o setor de minera- ção. Além de ter sido o motor do crescimento do país nos últimos dez anos, as atividades de extração de minérios, como ouro e cobre, ocorrem justamente próximo às fontes de água, e são um grande consumidor desse recurso.
“Queremos convencer o setor de que eles precisam fazer algo para garantir esse recurso, para os negócios e para a comunidade”, disse Quijandría. Ele contou, ainda, que as mineradoras precisam de um projeto para lidar com as mudanças climáticas não como uma agenda de responsabilidade social, mas ligando-a à rentabilidade dos negócios.
A realização de uma COP em Lima pode levar a avanços nesse desafio, acredita o vice-ministro. “O México conseguiu aprovar leis relativas ao clima três anos após Cancún. Acreditamos que, com um empurrão da COP, outras áreas do governo peruano ficarão mais sensibilizadas e mais ousadas em seus compromissos no enfrentamento das mudan- ças climáticas.