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cigarro: de símbolo de status à condenação, com joão maurício maia

O fumante não fuma porque é burro

No Café Filosófico CPFL “Cigarro: de símbolo de status à condenação”, o psiquiatra João Maurício Maia afirma que a indústria do tabaco tem diversificado seus negócios e o consumo ainda é preocupante

“O tabaco é um dos casos mais bem sucedidos de propaganda”, afirmou o psiquiatra João Maurício Maia durante o Café Filosófico CPFL “Cigarro: de símbolo de status à condenação” (confira o vídeo abaixo na íntegra). O debate encerrou o módulo sobre as drogas no mundo contemporâneo, que teve a curadoria do psiquiatra da USP Arthur Guerra.

“Na década de 60, tivemos um aumento grande de consumo de cigarro graças à propaganda direcionada ao público jovem”, lembrou. “O cinema teve um papel importante nessa propaganda. Havia departamentos em Hollywood responsáveis apenas para criar papeis para personagens fumantes. Ao fim de filmes como, você dificilmente saía da sessão sem vontade de fumar.”

Segundo Maia, somente no fim do século é que os documentos da indústria do tabaco sobre os malefícios da nicotina foram revelados ao público. “As estratégias eram maquiavélicas. A ideia era negar que havia relação entre consumo de cigarro e malefícios à saúde.”

Desde então, o hábito de fumar, considerado charmoso no século passado, hoje é algo desprezível. Apesar disso, a indústria do tabaco tem diversificado seus negócios e o consumo ainda é preocupante. Nos últimos anos, por exemplo, a porcentagem de mulheres fumantes tem caído, mas o número bruto tem aumentado.”

“O fumante não fuma porque é burro. Fuma porque é prazeroso, porque o cigarro é um companheiro, pode ser usado no trabalho”, completou. O psiquiatra lembrou que o consumo reduz o estresse e a ansiedade e sua dependência não gera transtornos psicóticos. “A nicotina não mata neurônio. Ela tem efeitos interessantes de cognição. Ajuda na memória e na concentração. Mas causa dependência e o desfecho dessa dependência nós conhecemos.” Segundo ele, um argumento de todo adolescente que começa fumar é: “eu sei que faz mal o cigarro, mas vou fumar um pouco e depois eu paro”. “Só que ele não para.”

O especialista afirmou que a campanha antitabaco foi intensificada após o Estado perceber que gastava mais em tratamentos decorrentes da doença do que com os impostos recolhidos pelo setor. Isso tem levado a indústria a diversificar o público e os negócios. “Um dos focos da indústria tabagista hoje é a busca por consumidores na África.”

Outra forma de diversificação é a entrada de produtos similares, como o cigarro eletrônico. O produto, segundo ele, tem defensores que citam a redução de danos para o usuário convencional: ele inala pouca nicotina e não exala nada. Já os acusadores citam o aumento do número de jovens consumindo o produto, o que seria uma porta para o cigarro industrial.

“A nicotina é a pior substância do cigarro, esteja ele na forma que for: eletrônico, de palha, industrializado”, disse.

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