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Cibercultura 10 + 10

Este evento propõe celebrar os 10 anos da edição brasileira do livro Cibercultura de Pierre Lévy. Para isso, organizamos um seminário/oficina de cultura digital com alguns dos mais importantes ativistas, articuladores, pensadores e pesquisadores do fenômeno cultural desencadeado pela revolução das convergências das tecnologias digitais. Os convidados são Pierre Lévy, Gilberto Gil, Laymert Garcia dos Santos, Sergio Amadeu da Silveira, André Lemos, Alfredo Manevy e Cláudio Prado, responsável pelas provocações durante o evento.

Na pauta desta conversa estarão sendo discutidas questões como:

– O panorama da cibercultura no mundo e no Brasil em 1999, em 2009 e (qual seria) e as pré-visões para 2019 (10 + 10 anos)
– Uma Cultura Digital Brasileira
– Um Novo Mundo mais ou menos admirável
– As implicações da Cultura Digital para as “realidades” locais
– A possibilidade, finalmente, de construção do Glocal
– A cibercultura como cultura do remix (para além da música e das linguagens artísticas)
– A Cultura Digital é subversiva à realidade do consumo industrial (fim da indústria… fim do trabalho… novos modelos de negócios… economia da gratuidade)

Justificativa

Há dez anos, a obra Cibercultura foi publicada no Brasil pela primeira vez. Nela, Pierre Lévy registrou: “Longe de ser uma subcultura dos fanáticos pela rede, a cibercultura expressa uma mutação fundamental da própria essência da cultura” (1999, p. 247). E o que naquele tempo soava como profecia, se confirmou como um dos principais diagnósticos da era que vivemos. A crescente importância das tecnologias de informação e comunicação no cotidiano mostra como nosso modo de vida foi reconfigurado. Os processos de comunicação, produção, criação e circulação de bens e serviços obedecem à uma nova lógica. Segundo o pesquisador Andé Lemos, a lógica que rege a cibercultura é a da remixagem (2005) – conjunto de práticas sociais e comucacionais de combinações, colagens, cut-up de informação. “Na cibercultura, novos critérios de criação, criatividade e obra emergem consolidando, a partir das últimas décadas do século XX, essa cultura remix. Por remix, compreendemos as possibilidades de apropriação, desvios e criação livre a partir de outros formatos, modalidades ou tecnologias, potencializados pelas características das ferramentas digitais e pela dinâmica da sociedade contemporânea” (LEMOS, 2005).

E muito antes da expansão das tecnologias de informação e comunicação, a sociedade brasileira já era marcadamente recombinante. As festas populares, como o Carnaval, que ganham diferentes contornos nas várias regiões do país, são exemplo da nossa capacidade de remix e de colaboração. Os mutirões para a construção de casas populares e a própria solidariedade nas favelas mostram a importância das redes sociais por aqui muito antes do sucesso de redes sociais virtuais como o Orkut. Traços marcantes de nossa sociedade são valores importantes na Internet, o que pode explicar a crescente expansão da rede mundial de computadores no Brasil, um dos países cuja população passa mais horas conectada. A Internet, um dos principais símbolos do século XXI, chega com força às periferias brasileiras que carregam problemas sociais do século XIX. Na cibercultura, crianças e jovens brasileiros têm a oportunidade de saltar da realidade de miséria do século XIX para as possibilidades do século XXI.

Quando Ministro da Cultura do Brasil, em um de seus discursos mais famosos, Gilberto Gil falou sobre essas possibilidades: “O uso pleno da Internet e do software livre cria fantásticas possibilidades de democratizar os acessos à  informação e ao conhecimento, maximizar os potenciais dos bens e serviços culturais, amplificar os valores que formam o nosso repertório comum e, portanto, a nossa cultura, e potencializar também a produção cultural, criando inclusive novas formas de arte” (2004). O remix – que é essência da cibercultura – é, portanto, um dos principais caminhos de transformação social possíveis pela prática cultural.