Café Filosófico CPFL retorna as gravações em agosto com a série “O que é ser homem? Cartografar as masculinidades”
Com curadoria de Pedro Ambra, a série vai abordar sobre as complexas dinâmicas da masculinidade contemporânea; os encontros acontecem às 19h, no Instituto CPFL, com entrada gratuita e transmissão via YouTube
Em agosto, o Café Filosófico CPFL retorna as gravações no estúdio com a série O que é ser homem? Cartografar as masculinidades. Com estreia na primeira terça-feira do mês (6/8), esta série inédita de gravações abordará as complexas dinâmicas da masculinidade contemporânea, explorando as tensões e desafios que moldam as novas e velhas identidades masculinas no Brasil e no mundo.
Sobre a série: “O que é ser homem? Cartografar as masculinidades”
Para grande parte da população, a masculinidade é um simples efeito psíquico de um dado anatômico e hormonal. Mais ainda, ser homem estaria natural e incontornavelmente associado a uma série de estereótipos como atividade, força física, determinação e dominância, (hetero)sexualidade exacerbada, maior aptidão para funções públicas e cargos de liderança. Ao mesmo tempo a vivência quotidiana de bilhões de homem ao redor do mundo revela que há algo de podre no reino da masculinidade hegemônica: a supressão de emoções, promoção de violências dos mais variados tipos, sofrimentos mentais silenciados, desconexão com o próprio corpo, descaso com a própria saúde entre outros. Deve-se sublinhar, contudo, que estes não são traços naturais intrínsecos daqueles que costumamos chamar de homens: história, sociologia, antropologia, filosofia, psicologia, medicina e a própria biologia parecem fornecer cada vez mais provas que não há uma essência masculina, mas discursos que constituem identidades.
Pensar a masculinidade é, na atualidade, um desafio não apenas na superação dos efeitos violentos do patriarcado sobre as mulheres, mas também na explicitação das multiplicidades dos paradoxos próprios das experiências vividas por homens. Ainda que inegáveis avanços na igualdade de gênero tenham ocorrido nas últimas décadas, a assimetria material e simbólica entre homens e mulheres — e seus efeitos no campo do gênero e de sexualidades dissidentes —, permanece e encontra novas roupagens discursivas, como o chamado “masculinismo”, os “incels”, e toda a tônica de conservadorismo nos costumes oriundas das novas direitas em escala global. Ao mesmo tempo, as experiências transmasculinas, movimentos de desconstrução e questionamento do ideário viril e reflexões da espessura racial, de classe e etária da masculinidade tensionam o empuxo à uma ilusão totalitária de um retorno ao passado de domínio masculino total. Nossa proposta neste módulo é cartografar as principais tensões que pautam a subjetivação de novas (e velhas) masculinidades no Brasil e no mundo.
O Café Filosófico CPFL é o broadcast de reflexões do Instituto CPFL que acontece por meio de palestras presenciais em Campinas, transmissões pelo canal do Café via Youtube, além de uma programação transmitida pela TV Cultura que é dividida em três grades: domingos, às 19h; terças, às 23h; e sábados, às 22h.
Encontro de estreia
Na terça-feira, dia 06/08, às 19 horas, Pedro Ambra estreia a série do mês refletindo sobre as articulações entre as experiências subjetivas da masculinidade e suas constituições sociais.
Ambiente inspirador de troca e aprendizado
O espaço do Café Filosófico CPFL, na sede do Instituto CPFL, em Campinas (SP), oferece uma atmosfera convidativa e aconchegante, onde cada detalhe é pensado para proporcionar uma experiência prazerosa. É possível tirar fotos em todos os lugares, incluindo o cenário e palco.
O local possui climatização e é acessível para pessoas com deficiência, além de contar com intérpretes de Libras para garantir a participação de todos.
Confira a programação:
06/08 | ter | 19h
Cartografias da masculinidade
Com Pedro Ambra, doutor em psicologia social
Nesta palestra discutiremos as articulações entre as experiências subjetivas da masculinidade e suas constituições sociais. A ideia de que a masculinidade estaria em crise será analisada à luz da ideia de “mito viril”, que é basilar tanto no inconsciente de homens quanto na própria narrativa moderna sobre a masculinidade perdida do passado. A heterossexualidade pressuposta na masculinidade que se contrapõe tanto a mulheres quanto à população LGBTQIA+ produz uma espécie de apagamento da própria identidade masculina, que se confunde com o universal do sujeito. O distanciamento dos homens da própria reflexão sobre sua masculinidade não é apenas um viés subjetivo e filosófico, mas tem impacto político em discursos masculinistas de ressentimento, como os incels, no campo da saúde coletiva com as dificuldades de aderência da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) e formas de sofrimento mental específicas desta população.
15/08 | qui | 19h
Quantos homens nós somos?
Com Fábio Mariano da Silva, mestre em direito
O que é um homem? Sabemos que a masculinidade como a percebemos tem sido balizadora da formação sociocultural do Ocidente. Minhas hipóteses sobre padrões de masculinidade atuais é a de que o homem como o conhecemos surgiu a partir da descoberta da América em 1492 e com a Modernidade, gerando dois modelos: a masculinidade hegemônica e a masculinidade universal. O homem que vem sendo construído através dos tempos, nasceu forjado por um conjunto de narrativas que compõem sociedades neoliberais e, portanto, atravessado por todos os sistemas de apropriação e opressão que estão estruturalmente arraigados em nós. O homem é um produto bem elaborado, senão o melhor, pelo capitalismo, pelo racismo e pelos sistemas de terrorismo de gênero que se entrelaçam no espaço público e também no privado. Embora vigentes, outras formas de masculinidades surgiram no seio de vários movimentos, entre eles, lgbtqia+ e negros, provocando resistências e rupturas a partir de novas disputas que vem contribuindo para o debate público acerca de um novo homem mais rico e plural.
22/08 | qui | 19h
“Desbotar do homem”: masculinidades, raça e trabalho no século XXI
Com Túlio Custódio, sociólogo
As reflexões de masculinidades têm iluminado traços importantes para tratarmos de questões de gênero, atravessadas pelas dimensões comportamentais. Mas ela também nos ajuda a ter um olhar mais amplo para questões como trabalho no contexto neoliberal, ou ainda as especificidades quando olhamos para questão racial. Esse será o tema da fala, que pretende percorrer algumas questões contemporâneas em torno do mundo do trabalho, das representações racializadas de homem e de seu lugar diante do mundo atual.
29/08 | qui | 19h
Masculinidades e violência(s)
Com Isabela Venturoza, atropóloga
O que significa ser homem? Há apenas uma resposta a essa pergunta? E há uma que seja de fato suficiente? Na atualidade, múltiplos são os discursos que buscam responder a essa questão. Os mais atentos irão perceber que apesar da insistência de modelos tradicionais, o que é “ser homem” está em disputa. E mais do que isso: o que é ser homem não guarda uma resposta única. Apesar disso, há algo de persistente quando interrogamos masculinidades: uma relação de intimidade entre os homens e múltiplas formas de violência. Isto não quer dizer que os homens sejam intrinsecamente violentos, como um dado que advém da natureza. No lugar, podemos compreender que, ao longo da história, em diferentes arranjos os significados de “ser homem” foram entrelaçados a formas de violência, não apenas contra as mulheres, mas também entre os próprios homens. Nesse contexto, poder e subjugação se tornaram componentes que complexificaram as análises sobre as relações de gênero, principalmente a partir de um ponto de vista interseccional. Neste café, então, convidamos a uma reflexão sobre masculinidades e violência, quem sabe traçando linhas de fuga para que sua relação não seja um dia tão naturalizada.
Os encontros são presenciais e gratuitos, com entrada por ordem de chegada, a partir das 18 horas. A classificação é de 14 anos e a transmissão online será no canal do Café no YouTube.