as ruas e a democracia: ensaios sobre o brasil contemporâneo | entrevista com Marco Aurélio Nogueira
as ruas e a democracia: ensaios sobre o brasil contemporâneo | entrevista com Marco Aurélio Nogueira from instituto cpfl | cultura on Vimeo.
Os protestos de junho de 2013 foram a expressão do desejo de uma nova maneira de fazer política, mas os manifestantes não se fixaram como atores permanentes do sistema político brasileiro. “O fosso entre as vozes das ruas e o sistema político se manteve, se é que não foi ampliado”, afirma o sociólogo e professor da Unesp Marco Aurélio Nogueira, autor de “As Ruas e a Democracia – Ensaios sobre o Brasil Contemporâneo”. Um ano depois da revolta, o especialista diz observar um “refluxo” daquele tipo de manifestação e o retorno ao palco de “atores de velho tipo” que, naquele momento, pareciam ultrapassados, caso dos sindicatos e de movimentos de trabalhadores sem-teto. “Eles passaram a ocupar o vácuo daquelas manifestações.” Apesar do refluxo, as manifestações escancararam a decadência dos partidos políticos, que, segundo ele, deixaram de ser vozes qualificadas de orientação da cidadania. Isso, de acordo com o especialista, ajudou a ampliar, por meio das redes sociais, um clima de intolerância e irritação em relação ao debate político. “É muito difícil debater hoje em dia. Basta ver o debate entre os políticos, que é medíocre.” Para Nogueira, “quando vemos uma parte do estádio vaiar e xingar a presidenta [Dilma Rousseff, como aconteceu na abertura na Copa], podemos lamentar, mas não nos surpreender”. “O que os políticos estão fazendo produz resultados. A Copa era contestada havia meses. Os xingamentos foram feitos num ambiente de estádio de futebol, onde a educação não é um critério dominante. Nem no Brasil nem fora do Brasil. Foi lamentável, mas é um espetáculo compreensível.” O especialista diz não acreditar que as vozes das ruas tenham ressonância nas eleições de 2014. “Os marqueteiros das eleições não entenderam as ruas. E os responsáveis são as estruturas partidárias. Por isso desconfio da ideia de reforma política. A crise tem mais a ver com o modo como os operadores da política gerenciam o sistema.” Entrevista gravada na Livraria da Vila do shopping Higienópolis em 14 de junho de 2014.