álcool: a droga legalizada, com arthur guerra (íntegra)
“O exemplo não é a melhor forma de ensinar alguém a beber com moderação. É a única”
Na palestra “O álcool: a droga legalizada” do Café Filosófico CPFL, o psiquiatra da USP Arthur Guerra fala dos prejuízos e dos estigmas enfrentados por quem busca a bebida não por prazer, mas para fugir do “desprazer”
Com o álcool, as pessoas ficam mais ousadas. Mais sinceras. Mais sociáveis. E ganham coragem para dizer o que não diriam em condições normais. O ambiente fica mais agradável. E mais leve. Guiado pelo princípio do prazer, a bebida é, muitas vezes, motivo de sofrimento a quem desenvolve dependência – e também aos seus familiares. É o que afirmou o psiquiatra da USP Arthur Guerra, curador do módulo de agosto do Café Filosófico CPFL sobre as drogas no mundo contemporâneo, em sua palestra sobre “O álcool: a droga legalizada”.
Segundo ele, parte dos problemas se desenvolve quando o usuário passa a usar a bebida como uma bengala, uma espécie de ansiolítico para anestesiar uma rotina de estresses. “O alcoólatra é onipotente. Nega ter problemas com álcool, diz que para quando quiser, ou justifica o uso para suportar os problemas.”
A dependência, segundo o especialista, acontece quando a pessoa não bebe mais por prazer, mas quando a falta de álcool causa desprazer. “A pessoa é acordada pela falta de álcool. No grau máximo, a falta a deixa trêmula e ansiosa.”
Guerra afirmou que atualmente uma em cada dez pessoas tem problema com álcool. “Por isso é uma questão de saúde pública.” Na maioria das vezes, lembrou ele, o álcool é consumido à noite. E muitas vezes antes de o usuário pegar o carro, o que coloca em risco a sua a segurança de muita gente.
O especialista citou benefícios para quem bebe de forma moderada. “Acompanhada de dieta rica em fibras, com pouco carboidrato e muito exercício, a bebida faz com quem a pessoa tenha uma chance menor de ter um infarto no miocárdio em relação a quem bebe muito ou a quem não bebe nada. Mas o álcool não é remédio. Não funciona para prevenir acidentes cardiovasculares”, ressaltou.
Segundo Guerra, os jovens bebem cada vez mais cedo – nem sempre por ignorância. “Quanto mais se sabe dos efeitos negativos do álcool, mais se usa. Exemplo disso é o quanto se bebe nas festas das universidades de medicina.”
Para o psiquiatra, “o exemplo não é a melhor forma de ensinar alguém. É a única”. “Se nós não damos exemplo, de que adianta fazer campanha? As crianças sabem quando os pais estão diferentes, estão mais agressivos, estão falando mais alto, quando estão alcoolizados. A pessoa pode beber na frente dos filhos, mas sempre de forma moderada”, disse.
Com o tempo, um dos problemas que recaem ao dependente de álcool é o estigma. “No hospital, os usuários de drogas pedem para não dividir a mesma ala com alcoólatras. Eles os chamam de ‘bebuns’.” O preconceito, afirmou o palestrante, leva o alcoólatra a ser considerado um fraco, alguém incapaz de lidar com os próprios problemas.
Ele abordou também o tema da publicidade da bebida. “Segundo a indústria, a propaganda não leva o jovem a beber, mas a escolher a sua marca de bebida. Para os médicos, qualquer propaganda de bebida é ruim.”
Guerra defendeu, no entanto, que a indústria participe dos debates sobre a regulação de propaganda no setor.
álcool: a droga legalizada
com arthur guerra, professor associado de psiquiatria da faculdade de medicina da usp (são paulo) e consultor de empresas na área de saúde e qualidade de vida.
o uso de álcool representa um hábito milenar, muito associado à imagem de celebração. sendo uma substância lícita, capaz de circular entre os mais diversos grupos sociais e situações, algumas vezes gera prejuízos a quem o consome. o programa trará uma reflexão interessante sobre os diferentes cenários onde a bebida alcoólica é usada, inclusive podendo trazer problemas ao indivíduo, familiares e a sociedade de uma forma geral.
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