cafe filosófico

afeto, psicanálise e política, com maria rita kehl e vladimir safatle (íntegra)

Nossa criatividade, no campo político, está hoje limitada por dois afetos bloqueadores: o medo e a esperança. Esses afetos se organizam por uma relação com o tempo e com uma expectativa de um mal ou de um bem por vir, afirmou o filósofo Vladimir Safatle no debate do Café Filosófico CPFL sobre “Afeto, psicanalise e política” com a psicanalista Maria Rita Kehl.

No encontro, a psicanalista analisou a ideia de esperança a partir de duas possibilidades. Uma, quando ela constitui a imagem do que se espera e isso aliena o indivíduo e anula a sua potência de ação. “Mas há também uma expectativa boa em relação à vida. Que ajuda a superar a perda, por exemplo. Em algumas pessoas a expectativa boa sobre a vida é o que faz ir além. É diferente de uma ‘esperança de’”, afirmou.

Segundo ela, a política se tornou um lugar onde você “compra” o candidato melhor. Ela questionou a possibilidade de, num campo ideal, as pessoas saberem como agir diante de um impasse. “Ou seria possível pensar em como podemos arcar com as consequências de não saber como agir?”, perguntou.

Para Safatle, curador do módulo “O Circuito dos Afetos”, vivemos hoje um momento melancólico da história brasileira. “Sair desse ponto é algo decisivo”. Segundo ele, a política brasileira sempre foi marcada pela agressividade. A diferença é que, antes, ela era neutralizada. “O primeiro que desse um passo desencadeava qualquer coisa. Era como um urso polar diante de lobos”, comparou.

O problema hoje, afirmou, é que os discursos se baseiam no mesmo tipo de impacto e de afeto. “É sempre a mesma ausência de proposição. Propõem o mesmo vazio. Ninguém diz ‘chega desse tipo de posição, somos capazes de usar nossa criatividade para desenhar a latência de nossas potencialidades’”.

De acordo com Safatle, a sociedade brasileira sempre gostou de política. E sempre confiou na sua capacidade de inventar. “Hoje não vemos atores políticos capazes de dar voz à nossa criatividade.”

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