A Economia nos Próximos 5 Anos
Lidia Goldenstein
Depois de quase vinte anos de sucessivas crises, com baixas taxas de crescimento, elevada inflação e recorrentes problemas no balanço de pagamentos, o Brasil vive atualmente um cenário macroeconômico bastante positivo. Como resultado de mais de duas décadas de ajustes difíceis, e beneficiada pelo crescimento da economia mundial, finalmente a economia voltou a crescer.
A redução da vulnerabilidade externa – graças às elevadas exportações de commodities como da percepção generalizada de que o Brasil continuará a ser um dos países mais atrativos para os investimentos externos -, garantiu a acumulação de reservas e permitiu que o país passasse pela ultima crise internacional sem os traumas que sempre nos abateram nas crises anteriores.
Internamente, a inflação não só foi controlada, como permanece em um nível baixo, permitindo a redução da taxa de juros a qual, apesar de ainda elevada e uma das mais altas do mundo, já caiu significativamente, situando-se no menor nível desde os anos 80, mesmo após a recente elevação implementada pelo Banco Central.
O controle da inflação e a queda dos juros vêm permitindo uma elevação importante do crédito na economia a qual, somada à elevação da renda proveniente do programa Bolsa Família, da elevação do salário mínimo como tal e como benefício previdenciário e assistencial e, mais recentemente, do aumento do emprego, geraram um circulo virtuoso, de aumento de renda, emprego e consumo.
Tudo junto vêm finalmente permitindo não só a elevação das taxas de crescimento como também das taxas de investimento do país. Temos, assim, uma oportunidade única para pensarmos o futuro do país sem o peso das sucessivas crises, internas e externas, que nos abateram por longos anos. É o momento, quando os mais variados indicadores macroeconômicos mostram-se bons, ou no mínimo razoáveis, de fortalecer as bases para que a economia brasileira consolide a atual fase de crescimento e finalmente entre em uma trajetória de crescimento sustentável.
Entretanto, apesar do inequívoco bom momento pelo qual a economia brasileira vem passando, no qual crescer a taxas elevadas por um ou dois anos está se revelando muito possível, não se pode contar para sempre com um cenário tão positivo. Não só ciclos e crises sempre existiram e continuarão a existir, como podem ser de tal magnitude que comprometam a sustentabilidade do crescimento.
A capacidade de o país passar por novas eventuais crises sem desarranjos mais profundos na economia, e de manter uma trajetória de crescimento de longo prazo, depende do enfrentamento de certas questões que ainda estão sendo perigosamente postergadas, levando ao acúmulo de problemas que cedo ou tarde ameaçarão o desempenho da economia.
Alguns dos problemas já são muito conhecidos e discutidos pela imprensa e diferentes analistas econômicos, quando não já sentidos pelos empresários e pelo público em geral. O baixo nível de investimentos(*), em especial em infra-estrutura, é um deles, e vem afetando significativamente a competitividade da economia brasileira. O volume e perfil dos gastos públicos é outro, afetando a capacidade de gasto público, sua qualidade e seu custo de financiamento. Os impactos negativos da péssima estrutura educacional do país no mercado de trabalho e no custo das empresas são mais um dos problemas entre os que urgem serem enfrentados.
A consciência da necessidade de se enfrentar estas questões tem sido crescente. Para algumas delas já estão mapeados os investimentos e ações prioritários, tanto públicos como privados. Mas, infelizmente, existem ainda outras questões que estão longe de serem debatidas, quanto mais enfrentadas.
(*) Apesar da taxa de crescimento dos investimentos prevista para 2010 ser de 18,5% do PIB, mostrando um retorno dos investimentos se comparada com os 17,4% de 2009, ainda estamos longe dos 25% considerados necessários para sustentar uma taxa de crescimento de 5% ao ano do PIB sem pressão inflacionária.