cafe filosófico

A bela velhice, com Mirian Goldenberg (versão tv cultura)

“Aos 75 fica excelente”

A velhice não é um problema para quem não se preocupa apenas com beleza. Para muitos, é a chance de se libertar das obrigações da vida adulta e dar início a projetos e atividades criativas, diz a antropóloga Mirian Goldenberg no Café Filosófico CPFL

Quem investe muito na aparência vai ter uma velhice complicada, escreve Simone de Beauvoir no livro “A Velhice”. Para a escritora francesa, é inevitável que o corpo se transforme, mas muitas pessoas, sobretudo mulheres, se transformam em monstros para disfarçar as mudanças inerentes à velhice.

“E para quem a velhice não é complicada? Para quem tem projetos de vida ou investiu em outros capitais. Por exemplo, para quem trabalha com a criatividade, como professores e escritores. Muitos descobriram na velhice a sua vocação”, afirma a antropóloga Mirian Goldenberg no Café Filosófico CPFL que a TV Cultura levou ao ar no domingo, 03/08.

No programa, Goldenberg citou o exemplo de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Rita Lee e Marieta Severo para lançar um desafio: “Duvido que alguém consiga encontrar neles um retrato negativo de envelhecimento. São pessoas chamadas “sem idade”. Fazem parte de uma geração que não aceitará o imperativo ‘seja velho’”.

Para a antropóloga, o trabalho com criatividade e a condução de projetos pessoais fazem da velhice uma oportunidade para a construção de uma nova vida. “Em meu trabalho, encontrei homens e mulheres que depois os 60 foram cantar em coral. Mulheres que foram dançar. Que vão para as academias e vão fazer ginastica, ou pilates, e adoram fazer. Que curtem os netos, não por obrigação, mas porque curtem passear, viajar, levar os netos ao cinema. Que fazem cursos, palestras, faculdades. E vão ao teatro.”

Ela diz identificar, no entanto, diferenças nas formas de encarar a velhice no discurso entre homens e mulheres. “O projeto de vida para os homens é mais ligado a atividades profissionais, mesmo não remuneradas, e às famílias. Eles sempre falam da família de modo positivo. Para as mulheres, não. As mulheres mais velhas não falam tanto de trabalho. O significado de vida para elas tem mais a ver com liberdade de escolha e coisas que não poderiam fazer antes. Para muitas delas o casamento foi uma espécie de prisão: elas tiveram de cuidar da casa, dos maridos e dos filhos durante muitos anos.”

Segundo Goldenberg, a chegada dessas mulheres à “Bela velhice”, nome de seu livro inspirado na obra de Simone de Beauvoir, coincide com a libertação das obrigações dentro de casa. A sensação de liberdade tem início a partir dos 50 anos e se intensifica aos 60. “Aos 75 fica excelente.”

Assista abaixo o programa:

A bela velhice, com Mirian Goldenberg from instituto cpfl | cultura on Vimeo.

o que as pessoas pensam, sentem e falam quando o tema é envelhecer?  inspirada pelo livro “a velhice” de simone de beauvoir, a antropóloga mirian goldenberg tem se dedicado a pesquisar como homens e mulheres, de várias idades e nacionalidades,  se relacionam com essa etapa da vida.  um estudo amplo cujas descobertas já deram seus primeiros resultados, como a ideia de “bela velhice” que mirian goldenberg apresenta e desenvolve de maneira profunda mas bem humorada, nesse programa do café filosófico. a “bela velhice” fala de liberdade, tempo, amizades, segurança, projetos, família, vitalidade mas fala também de como nessa fase da vida, ser homem ou mulher muda significativamente os sonhos, as atitudes e expectativas. inevitável tocar em temas  como corpo, casamento e relacionamento quando o assunto e’ envelhecer. ser “velho”, ser “ageless”, como diz mirian goldenberg pode ser, afinal, uma bela experiência.

gravado em 27 de setembro de 2013.