O que afinal de contas consideramos uma sociedade justa?, com Fernando Schuler
- 19:00
04/11 | sex | 19h
O que afinal de contas consideramos uma sociedade justa?
Com Fernando Schuler, filósofo e cientista político
O tema central do debate será em torno da pergunta: a igualdade social é um objetivo moralmente relevante? Como diferentes perspectivas do pensamento político contemporâneo respondem a esta questão? O que realmente chamamos de “justiça” no debate político de todos os dias? Para alguns, a justiça supõe que os cidadãos possam viver em uma sociedade que assegure liberdades, direitos, com base em um princípio de “não interferência”; para outros, a justiça significa avançar para políticas de distribuição de riquezas, de modo que a assimetria social e econômica seja mantida em um patamar aceitável; ainda para outros, a justiça é a oferta de condições básicas para o florescimento individual, mas não está vinculada a nenhum tipo de padrão distributivo específico. Todas estas questões afetam o nosso dia a dia. Quando discutimos o tema dos aplicativos, no transporte urbano; quando discutimos políticas tributárias ou a garantia de programas sociais. Quando tratamos de educação e sobre que direitos podemos reivindicar, na esfera pública.
Fernando Schuler é professor em tempo integral no Insper, curador do Projeto Fronteiras do Pensamento, articulista, consultor de empresas e organizações civis nas áreas de cultura, ciências políticas, gestão e terceiro setor. Doutor em filosofia e mestre em ciências políticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi secretário de estado da Justiça e do Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul. Foi diretor do Ibmec, no Rio de Janeiro.
Visões da justica
Uma apresentação geral sobre o questão da justiça, no debate contemporâneo. Quais são os grandes temas que definem nosso debate político? Os desafios em torno do que Moisés Naim chama de “o fim do poder”. O aumento do criticismo político nas democracias atuais. A democracia polarizada, a explosão dos flash mobs e das redes de cidadania, o narcisismo e a vulgarizacão da vida púplica, nas redes sociais. A ideia da democracia contemporânea como “grande comunidade”. A partir dai, a retomada do tema da igualdade. Deste autores como Wilkinson, e seu “The Spirit Level”, Thomas Piketty e seu best seller “O Capital no Século XXI”, as obras de Joseph Stiglitz, em especial “The Great Divide”, e mais recentemente Anthony Aktinson, e seu “Inequality”. O ponto comum a todas eles? a identificação do aumento da desigualdade como o desafio por excelência da justiça e da própria possibilidade da democracia, no muito atual. A resposta do filósofo Harry Frankfut, de Princeton, e sua teoria suficientista. A resposta de Amartya Sen, com sua visão neo-aristotélica da expansão das liberdadades com vistas ao “human flourishing”. A resposta de Rawls com seu princípio da diferença e sua defesa da sociedade pluralista.
Será verdade, como dizem muitos (Diamandis, em seu “Abundância”, Ray Kurzweil, entre outros) que estamos transitando de um paradigma da escassez para um paradigma da abundância? Andamos em meio a uma revolução energégica, como projetam visionaries como Elon Musk, que logo transformará residências e edifícios, famílias em produtores de energia limpa? A economia do compartilhamento e a chamada “revolução maker” efetivamente podem alterar significamente nossas relações sociais e econômicas, como sugerem Chris Anderson e Rachel Bostman? Há um conflito crescente entre novas tecnologias e instituições arcaicas, que demandam ciclos mais acelerados de “destruição criativa”?
Em meio a este processo de transformação, velhos conceitos da política, como esquerda e direita, ainda fazem sentido? E o debate contemporâneo sobre o liberalismo e o conservadorismo. Na América Latina, ao menos, diz-se que vivemos o fim do chamado ciclo populista e a ascensão de ideias liberais? Mas que tipo de liberalismo é este? Fala-se, da mesma forma, em um renascimento de ideias conservadoras? É possível diferenciar com nitidez a mente de um liberal da mente de um conservador? No Brasil, o conservadorismo é frequentemente confundido com um certo moralismo de costumes, ou mesmo com velhas posturas autoritárias. Fazem sentido estas correlações? O pensamento conservador se refere a um programa politico em particular ou representa apenas uma atitude diante do mundo social? Que leitura faz o conservadorismo da história moderna? Quais as heranças de Edmund Burke, Hume, Tocqueville, nesta grande tradição? Quem são seus grandes intérpretes, no mundo atual. John Gray, Roger Scruton, será o pensamento conservador uma forma de ceticismo?