neuroliteratura, com paulo werneck (versão completa)
O romance de cunho psicológico foi substituído por premissas neurológicas. Personagens com autismo, paranoia, amnesia, distúrbios bipolares e outros transtornos se tornaram comuns na literatura contemporânea, sobretudo os Estados Unidos e na Inglaterra.
O fenômeno, descrito pelo crítico Marco Roth como “neuro-romance”, tem no livro “O Amor Sem Fim”, de Ian McEwan, uma espécie de marco inaugural. A obra narra a vida de um personagem portador da síndrome de De Clérambault, que consiste em acreditar que uma personalidade pública pode controlar alguém por ondas mentais.
Mas como os escritores passaram a se interessar pela psiquiatria em detrimento da psicologia? Como o romance, que tinha na psicanálise a ideia de linguagem como campo da descoberta literária, passou a adotar premissas sobre distúrbios? Por que os autores passaram a se interessar por descrever como é a vida de um portador de determinada síndrome? Quais perspectivas se abrem para a literatura quando o romance dá espaço para a ciência e abre mão de uma investigação própria da personalidade humana?
As perguntas foram levantadas pelo jornalista, editor e tradutor Paulo Werneck, curador da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), durante o Café Filosófico CPFL sobre “Neuroliteratura”. O debate encerrou a série “Emblemas Literários do Presente”, que teve a curadoria do jornalista e mestre em teoria literária Manuel da Costa Pinto.
A neuroliteratura, segundo a definição de Marco Roth, é uma tendência na ficção norte-americana de colocar nas tramas literárias distúrbios descritos nos manuais de psiquiatria como premissas de seus romances. O assunto principal seria um estudo psiquiátrico.
“O romance modernista foi um vasto campo de interpretação da personalidade humana. A linguagem do romance era perfeita para explorar a personalidade de uma pessoa comum, retratados de forma singular por autores como Proust e Joyce”, disse Werneck.
Hoje, no entanto, as ciências biológicas ganham terreno na literatura, o que demonstra uma mudança da relação do sujeito com o mundo, com impacto nas suas relações afetivas e familiares. Afinal, afirmou, se você tem uma síndrome que pode ser tratada, seu problema não é com o pai ou com a mãe, como sugere a psicanálise. Essa nova relação com o mundo, aos autores contemporâneos, tem substituído a cura pela fala pela cura pela química.
Confira a íntegra do encontro abaixo:
neuroliteratura com paulo werneck (versão completa) from cpfl cultura on Vimeo.