O hamster e a borboleta
Alinhar os objetivos da corporação aos interesses da sociedade levará a uma mudança de rumo e um crescimento complexo
Pavan Sukhd
Em um vídeo de animação produzido pela New Economics Foundation, o narrador conta a história de um hamster peculiar. Como todos os hamsters, ele cresce em tamanho a cada semana desde o nascimento até a puberdade. Mas, diferentemente de outros hamsters, ele continua a crescer após a puberdade, aumentando progressivamente de peso. Em seu aniversá- rio de 1 ano, o hamster já tinha chegado a 9 bilhões de toneladas, e era capaz de consumir todo o milho do mundo em apenas um dia. Com um rugido, ele dá início a um ataque ao estilo do monstro japonês Godzilla, destrói edifícios, acaba por consumir todo o planeta e sai flutuando pelo espaço, gordo e feliz. “Existe uma razão para que as coisas na natureza cresçam de tamanho até certo ponto”, diz o narrador. “Então, por que a maioria dos economistas e políticos acham que a economia pode crescer para todo o sempre?”
Apesar de engraçado, o vídeo destaca a realidade assustadora de nosso sistema econômico. Não conhecemos nenhum exemplo de organismo biológico ou sistema natural que cresça eternamente – e, mesmo assim, esperamos que a natureza sustente indefinidamente o crescimento econômico.
Se a natureza sugere que temos um problema parecido com o hamster Godzilla, talvez devamos olhar para a própria natureza em busca de soluções. Como crescem os organismos e os sistemas naturais? Em geral, por meio da complexidade. Reconhecemos que isso acontece no que se refere aos seres humanos: muito tempo após chegarmos à maturidade física, continuamos a desenvolver capacidades intelectuais e físicas e podemos nos tornar mais produtivos. No mundo da natureza, o termo para descrever crescimento via complexidade é intussuscepção, e seu exemplo mais conhecido pode ser a metamorfose – quando a lagarta se transforma em borboleta.
O biólogo conservacionista Tom Lovejoy disse-me que “precisamos de crescimento por intussuscepção – o equivalente econômico à transformação da lagarta em borboleta”.
Obviamente, hamsters e borboletas não explicam a economia mundial, mas podem servir de metáfora para o poder de uma nova forma de corporação e de economia. Alinhar as metas da corporação aos interesses da sociedade preparará o cenário para uma necessária mudança de rumo, que se desvie do crescimento por meio do tamanho e almeje o crescimento via complexidade. Devemos deixar para trás a economia baseada em cortar, queimar e cavar e adotar uma economia baseada em preservação da natureza, eficiência de recursos e, mais importante, inovação.