29/08 | sex | 19h | café filosófico cpfl ao vivo: TDAH: Diagnóstico Positivamente Falso ou Falsamente Positivo?, Com Fernando Ramos
- 19:00
módulo: medicalização fora de controle – vivemos uma epidemia de transtornos mentais?
curadoria: mário eduardo costa pereira, psicanalista e psiquiatra. professor titular de psicopatologia clínica pelo laboratoire de psychopathologie clinique et psychanalyse da aix-marseille université, frança. livre-docente em psicopatologia do departamento de psiquiatria da fcm- unicamp, onde dirige o laboratório de psicopatologia: sujeito e singularidade (lapsus). diretor do núcleo de são paulo do corpo freudiano – escola de psicanálise.
transtorno de pânico, toc, bipolaridade, transtornos alimentares, autismo, déficit de atenção… nos últimos anos e de maneira crescente, estes e inúmeros outros termos da linguagem técnica da psiquiatria passaram a fazer parte das falas cotidianas das pessoas em geral. estranhamente, são os próprios leigos que procuram ativamente nas referências médico-cientificas disponíveis os termos para definirem seus padecimentos psíquicos. a “fossa”, “a crise existencial”, “a dor de cotovelo”, “a dor de existir”, a angústia, o sofrimento e mesmo as “paixões devastadoras” deixam de ter importância nos processos de subjetivação das dores da vida. espera-se cada vez mais da ciência a última palavra sobre os males emocionais, doravante descritos como “transtornos mentais”. estes funcionariam como entidades naturais, absolutamente autônomas em relação a historia do sujeito, a seus conflitos, à cultura, às relações de poder e às tradições simbólicas e culturais. nesse sentido, o diagnóstico tem uma incidência moral maior e, de certa forma, profundamente tranquilizadora: o sujeito e a sociedade passam a ser vitimas passivas do mal objetivo e exterior que lhes acomete, representado pelo transtorno mental. ninguém estaria implicado na posição de sujeito do próprio sofrimento.
sob essa perspectiva, a ação indesejada de condições mórbidas naturais, logo absolutamente alheias a nossa vontade, se imporia à existência e às sociedades. diante do caráter absolutamente autônomo das forças natureza representadas pelos neurônios, pelos genes e pelos neurotransmissores, questões relacionadas à historia, à cultura, à politica, à ética, à responsabilidade individual e social, aos conflitos humanos e às tomadas de posição subjetiva perderiam, do ponto de vista teórico e prático, qualquer sentido para a elucidação das “patologias psíquicas”.
mas justamente a imensa proliferação atual de “transtornos mentais” como a insônia, o alcoolismo, a drogadicção, a ansiedade, os transtornos alimentares, a falta de atenção e mesmo a depressão não deveria por si só interrogar de maneira radical tanto a sociedade atual, tanto quanto os sujeitos que dela participam?
uma consequência ainda mais perturbadora emerge dessa redução do padecimento psíquico a suas dimensões exclusivamente naturais: os diagnósticos psiquiátricos nunca funcionam como meras descrições passivas de estados mentais tidos como mórbidos. na verdade, a linguagem médica, cada vez mais rapidamente assimilada à língua do quotidiano, termina por constituir e a formatar os destinos humanos. disso decorrem questões algumas fundamentais: quais as incidências sobre as crianças e sobre os demais sujeitos sociais em geral, de uma medicalização desmesurada dos fatos da vida? que efeitos têm, por exemplo, sobre uma criança e sobre sua família os diagnósticos de “transtornos de déficit de atenção” ou de “transtorno do espectro autista”? de que dispositivos intelectuais e políticos a cultura deveria poder dispor para manter uma certa distância critica da maciça medicalização da existência verificada nas sociedades contemporâneas?
29/08 | sex | 19h
TDAH: Diagnóstico Positivamente Falso ou Falsamente Positivo?
Com Fernando Ramos, psiquiatra da Infância e Adolescência e consultor do Ministério da Saúde nas áreas de Saúde Mental de Crianças e Adolescentes.
A palestra busca analisar as interações entre elementos internos à corporação médica e elementos contextuais gerados pela cultura pós-moderna na compreensão do fenômeno das “epidemias” diagnósticas psiquiátricas contemporâneas, tomando o diagnóstico do TDAH e o campo da psiquiatria da infância e adolescência como base de análise.
Fernando Ramos é psiquiatra da Infância e Adolescência pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e coordenador Geral da Escola de Saúde Mental do Rio de Janeiro (ESAM). Também é presidente do Centro de Estudos do Instituto Municipal Philippe Pinel (IMPP/SMS-RJ), coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da Infância e Adolescência do IMPP/ESAM e Consultor do Ministério da Saúde nas áreas de Saúde Mental de Crianças e Adolescentes e de Educação na Saúde.
módulo: medicalização fora de controle – vivemos uma epidemia de transtornos mentais?
curadoria: mário eduardo costa pereira
tema: TDAH: Diagnóstico Positivamente Falso ou Falsamente Positivo?
palestrante: Fernando Ramos
local: instituto cpfl | cultura (rua jorge figueiredo corrêa, 1632, chácara primavera, campinas – sp);
data: 29 de agosto de 2014;
horário: 19h;
capacidade: café filosófico: 180 lugares;
classificação etária: 14 anos;
transmissão online pelo cpflcultura.com.br/aovivo;
entrada gratuita, por ordem de chegada, a partir das 18h. vagas limitadas;
informações: instituto cpfl (19) 3756-8000 ou em www.cpflcultura.com.br;