Homens Apaixonados invadem a sessão de cinema
Por William Sodré.
O tema da paixão feminina é moeda corrente na obra de ficção. E foi dai que surgiram tantos mitos que ainda hoje capturam o imaginário da nossa cultura – como Madame Bovary, por exemplo. Ou, no plano das obras do cinema contemporâneo, um outro caso muito famoso: a ensandecida personagem vivida pela atriz Glenn Close em ‘Atração Fatal’ (filme realizado em 1987, que foi um grande sucesso à época).
É claro que o homem apaixonado – e caido, tremendamente caído! – também se faz presente na produção artística, como no clássico de todos os tempos, ‘O Anjo Azul’ (filme realizado em 1930). Contudo, é muito mais raro assistir ao tema da paixão sendo tratado numa chave masculina nas obras de arte.
O masculino muitas vezes foi expresso no cinema pela figura do protagonista ‘durão’ (como registrado com os geniais atores Humphrey Bogart, John Wayne e Clint Eastwood), capaz de impor-se ante todas as dificuldades que se apresentavam na ficção. Ou então esta expressão do masculino se fez pela via da figura do brutamontes, o personagem trunculento e ‘grosseirão’, protagonizado inúmeras vezes por atores menores da cinematografia, como Silvester Stalone, Arnold Schwarzenegger e Vin Diesel.
No mês de Outubro, a programação de cinema da CPFL Cultura vai deixar as mulheres em paz, não vai dar espaço algum para os personagens ‘valentões’ e irá focar um outro alvo: o perturbado, o confuso, o sofrido comportamento masculino, quando assaltado pela paixão.
Aqui, cinco personagens femininas – fortes, bonitas, interpretadas pelas belas atrizes Penélope Cruz, Michelle Pfeiffer, a ainda jovem Meryl Streep (juntamente com a ultra-jovem Mariel Hemingway) e Zooey Deschanel – mobilizam o melhor e também o pior dos personagens masculinos que protagonizam os filmes que exibiremos neste mês (e vividos pelos nem tão bonitos Ben Kingsley, Daniel Day-Lewis, Woody Allen e Joseph Gordon-Levitt ).
Dois dos filmes selecionados dão um tratamento cômico ao tema, permitindo ao expectador que se divirta com a difícil situação vivenciada por aqueles homens apaixonados; é isso que ocorre em ‘Manhattan’e em ‘500 dias com ela’. O registro é mais dramático nas outras duas obras: em ‘Fatal’ e em ‘A época da inocência’.
Há quem acredite que a trajetória humana – até os dias de hoje – pudesse ser definida como a formação, o aprimoramento, a educação dos cinco sentidos; seria neste longo processo que a Humanidade iria tornar administrável – ou até mesmo superar – o seu cerne animal. No contexto, de forma irônica, nós poderíamos afirmar que o Homem Apaixonado talvez seja caracterizável como mais um elo deste suposto processo civilizatório.
Finalizando este papo de abertura da programação de cinema, solicitamos que o público expectador ‘tire o seu sorriso do caminho’, que em Outubro este homem sensível ‘quer passar com a sua dor’, citando um trecho da canção ‘A flor e o espinho’, este outro clássico popular da ‘dor de cotovelo’.