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mitigação e adaptação das mudanças climáticas em um mundo metropolizado, com suzana kahn ribeiro (íntegra)

Mais parques públicos, menos shopping center

Suzana Kahn Ribeiro encerra ciclo de debates sobre aquecimento global com palestra sobre os desafios inevitáveis da vida na cidade grande

Em 1900, apenas 13% da população viviam em áreas urbanas. Hoje metade das pessoas do Planeta mora em cidades. Em 2050, serão 70%. Por mais romântica que possa parecer a vida rural, a opção pelas metrópoles é irreversível: na cidade, as pessoas se sentem melhor e mais protegidas. A análise foi feita pela engenheira de produção Suzana Kahn Ribeiro, vice-presidente do grupo de mitigação do IPCC, o painel intergovernamental de mudança climática, durante sua apresentação no programa Invenção do Contemporâneo. A palestra encerrou o módulo de debates sobre aquecimento global promovido pela CPFL Cultura em parceira com a revista Planeta Sustentável e o GT de Clima do Pacto Global. O módulo teve a curadoria do engenheiro florestal Tasso Azevedo.

“É mais fácil atender uma demanda concentrada do que atender populações diversas. A aglomeração facilita a vida. O exemplo típico é o transporte público. Isso só existe se houver densidade”, disse Suzana Kahn Ribeiro.

O problema, segundo ela, é que as cidades são as maiores fontes de emissão de gases estufa. E são, por este motivo, as áreas mais impactadas pela mudança climática e suas consequências, como as centenas de mortes contabilizadas em épocas de enchentes e deslizamentos.

O futuro, segundo Kahn Ribeiro, pode ser sombrio ou cheio de oportunidades a depender do ponto de vista. “As áreas urbanas vão triplicar até 2050. Novas cidades estão sendo criadas. Essas cidades vão se expandir nos países em desenvolvimento. Pode ser a chance para mudarmos os padrões de construção.”

O desafio, afirmou ela, é “desmaterializar” a economia e produzir consumindo menos água, energia e matéria-prima não renovável. “A mudança da necessidade de consumo atual também é um desafio. A riqueza material não pode ser associada à felicidade. Estudos mostram que o aumento da renda não está relacionado ao bem-estar. O bem-estar é ligado à segurança e à confiança nas instituições. As pessoas precisam consumir outras coisas. Não é preciso acumular.”

A mudança de mentalidade, segundo ela, pode fazer com que as grandes e médias cidades no futuro possam substituir os shoppings centers pelas áreas públicas de lazer. Para isso, disse, é preciso ter calçadas, segurança, iluminação.

Entre as medidas mitigadoras citadas pela palestrante estão a implantação de corredores de ônibus e ciclovias nas cidades, medidas hoje rejeitadas por parte da população, geralmente acostumada ao conforto dos automóveis. “Em Londres, o pedágio urbano gerou protesto de moradores. A reação não acontece só no Brasil. No começo, as pessoas reagem mal a mudanças, mas depois se acostumam.”

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mitigação e adaptação das mudanças climáticas em um mundo metropolizado

com suzana kahn ribeiro, professora do programa de pós graduação em engenharia da universidade federal do rio de janeiro (coppe/ufrj) e presidente do comitê científico do painel brasileiro de mudanças climáticas

até 2050, apesar da desaceleração, a população global continuará crescendo e deve atingir 9 bilhões de habitantes e mais de 2/3 deles viverão nas grande cidades. no brasil, segundo o ibge, estas tendências devem ser ainda mais expressivas, teremos atingido um pico populacional próximo de 230 milhões de habitantes e com mais de 90% das pessoas vivendo nas cidades. quais os desafios e oportunidades para reduzir as emissões e promover a adaptação as mudanças climáticas em um mundo cada vez mais metropolizado? gravado em 4 de setembro de 2014.